DORA KRAMER
Vamos ver se ficou entendido: o governo federal propõe a proibição do anonimato nas manifestações de rua, exige que os cidadãos se identifiquem à autoridade policial, mas não vê empecilho no uso de máscaras e pinturas para quem desejar assim, de maneira anônima, participar dos protestos.
A justificativa é a de que cada um é livre para se expressar como bem entender e que seria - na expressão do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo - "complicado" a polícia intervir para enquadrar "quatro ou cinco mascarados".
Pessoas que sem a menor complicação já estão avisando, como fizeram na edição de domingo do Estado, que durante a Copa do Mundo estão dispostas a "tacar molotov" para "dar susto em gringo". A intenção não é machucar, dizem, mas se for preciso, se ninguém os "ouvir", não haverá outro jeito a não ser abrir fogo.
E como o farão? Mascarados, claro. Para dificultar a identificação. Na ideia do ministro da Justiça isso se resolve com a polícia pedindo aos rapazes e moças a carteira de identidade ali no meio da confusão. Documentos estes que serão prontamente apresentados pelos jovens que estão ali com a intenção de colaborar, pois não?
Parece brincadeira. Trata-se de um raciocínio que, no limite, reserva a um delinquente com um morteiro, uma pedra, um rojão ou um coquetel molotov nas mãos e na cabeça a ideia da destruição o mesmo tratamento dado ao folião fantasiado num bloco de carnaval.
Ambos portam alegorias, têm o mesmo direito de se manifestar livremente nas ruas e, em princípio, não podem ser acusados de sair de casa para fazer o mal. É o que parece pensar o governo federal.
Essa é uma teoria tola tão distante da crueza da realidade que deve estar mal explicada. Falta alguma coisa, não deve ser exatamente esse o pensamento do governo. Aguardemos, logo possivelmente haverá uma correção.
Essas ações violentas já produziram muitos feridos, causaram uma morte e causarão outras. Está escrito. O uso da máscara protege o potencial criminoso e é sobre isso que fala o secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, quando propõe a proibição inexplicavelmente rechaçada pelo governo federal.
O ministro da Justiça defende o aumento das penas dos crimes cometidos nas manifestações, mas assume uma posição que dificulta a prevenção à ocorrência dos delitos. É contra a exigência de aviso prévio dos atos de protesto por temer a restrição a manifestações espontâneas tais como, exemplifica, "uma ação em defesa de algum professor por parte de alunos de uma escola".
Comparação tão descabida que em breve certamente será corrigida. Queira o bom senso, antes da próxima vítima fatal.
De titãs. O presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, poderia até ter vontade de se candidatar a presidente nesta eleição.
Mas não dará o gosto ao PT de acusá-lo de uso eleitoral do julgamento do processo do mensalão. Na nota que o ministro divulgou sobre o assunto, deixou aberta a possibilidade de entrar na disputa eleitoral no futuro.
Interpretou-se que em 2018. Eleição em que o ex-presidente Lula também admite concorrer.
Volta do cipó. Nessa toada de deserções e contestações às regras trabalhistas, área sensível ao partido do governo brasileiro, o programa Mais Médicos corre o risco de se transformar em fator de menos votos para Alexandre Padilha, o ministro da Saúde executor do projeto e candidato do PT ao governo de São Paulo.
A avaliação não é da oposição que, atarantada com o sucesso inicial, deu apoio e ainda não sabe como alterar a rota sem cair em contradição.
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