JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
Ninguém é mais a favor da realização da Copa do Mundo no Brasil do que quem acha o governo Dilma Rousseff bom ou ótimo. E ninguém é mais contra do que aqueles que avaliam a gestão da presidente como ruim ou péssima. Se o clima de Fla x Flu há muito transbordou para a política, chegou a vez de a partidarização contaminar o futebol e assombrar sua maior festa.
O Ibope mostra que os brasileiros estão divididos sobre a Copa. Quanto menor a renda, a escolaridade e o tamanho da cidade onde mora o eleitor, maior seu apoio ao torneio, e vice-versa. Mas nenhuma diferença é tão dramática quanto a entre os apoiadores e os críticos do governo: 76% dos que aprovam Dilma aprovam também o torneio no Brasil, enquanto 67% dos que desaprovam a presidente são contra que a Copa ocorra aqui.
Entre os governistas, 61% acham que o evento vai trazer mais benefícios do que prejuízos para o Brasil. Já entre os antigovernistas, dois em cada três apostam no contrário.
Afora as diferenças partidárias, os dois times encaram a Copa no Brasil de lados opostos da arquibancada. Os que aprovam Dilma se declaram fundamentalmente alegres, orgulhosos e com esperança de que tudo dê certo. Na grande maioria, planejam assistir quantos jogos puderem.
Os sentimentos de quem é crítico ao governo batem de frente com esses. O empenho em ver as partidas é muito menor, e as palavras escolhidas para descrever sua percepção em relação à Copa são "desperdício", "preocupação", "decepção" e "vergonha".
Não importa qual a pergunta sobre o torneio, a bola é sempre dividida. Para 47% dos brasileiros, a Copa vai tornar a imagem do Brasil mais positiva no exterior, contra 37% que acham que vai ficar mais negativa. Entre dilmistas, o grupo dos otimistas alcança 66%, enquanto entre os seus adversários a taxa de pessimismo sobre a imagem do País pós-Copa chega a 63%.
Os problemas relativos à Copa também variam de acordo com a inclinação política do entrevistado. Para os governistas, o maior desafio é a segurança e a violência. Para seus antagonistas, a questão principal, de longe, é o gasto de dinheiro público e o prejuízo financeiro com a Copa.
A clivagem eleitoral afeta até a torcida pela seleção. Entre os que aprovam o governo, 76% apostam - com maior ou menor convicção - que o Brasil vai ganhar a Copa. Entre os que acham o governo ruim ou péssimo, essa taxa não passa de 48%.
Definitivamente, nem toda a pátria vai vestir chuteiras durante a Copa. Numa escala de 0 a 10 criada pelo Ibope para medir a devoção dos torcedores brasileiros, os governistas marcaram 7,5, na sua grande maioria concordando com a frase "sou um grande torcedor da seleção brasileira". Os críticos ao governo marcaram apenas 6,3. É a prova de que - ao contrário do que diz o senso comum -, futebol e política se misturam, sim.
Só numa coisa as duas torcidas concordam: a maior parte de governistas (55%) e antigovernistas (67%) prevê que as manifestações contra a Copa no Brasil vão aumentar. Mas com uma diferença: com maior ou menor intensidade, a maioria dos pró-Dilma não apoia os protestos - enquanto 44% dos críticos da presidente apoiam as manifestações.
Nem todos podem ceder a tal tentação, porém. Adversários da presidente, como o tucano Geraldo Alckmin, são obrigados a conter os protestos anti-Copa - às vezes com violência, como fez a PM paulista no sábado. Sua reeleição também está em jogo, e o descontrole tira votos tanto da presidente quanto do governador.
Manifestações à parte, qual o resultado da divisão partidário-futebolística?
Como governistas e antigovernistas têm opiniões firmes sobre a conveniência e o significado da Copa no Brasil, pouco importa o que venha a acontecer. Cada lado está convicto do fracasso ou do sucesso, e vai advogar sua interpretação preconcebida, a despeito dos fatos. Logo, o mais provável é que dê empate.
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