Preâmbulo
Durante o programa do "Fantástico" da TV Globo, levado ao ar no dia 1º de maio de 2005, houve uma entrevista com o coronel Luís Antônio Ribeiro Prado, encarregado do Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as explosões no Riocentro ocorridas na noite de 30 de abril para 1º de maio de 1981.
Durante o programa do "Fantástico" da TV Globo, levado ao ar no dia 1º de maio de 2005, houve uma entrevista com o coronel Luís Antônio Ribeiro Prado, encarregado do Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar as explosões no Riocentro ocorridas na noite de 30 de abril para 1º de maio de 1981.
Visivelmente
emocionado, o coronel Prado disse ao jornalista que inicialmente julgou
que se tratava de um atentado promovido por algum grupo terrorista de
esquerda contra os militares de Inteligência que ficaram de campana
próximo ao show em comemoração ao Dia do Trabalho. Porém, à medida que
os laudos apresentados foram elucidando o ocorrido, o coronel Prado não
teve dúvidas de que a explosão dentro do Puma ocorreu devido à falha de
manuseio da bomba que se encontrava no colo do sargento Guilherme
Pereira do Rosário, que estava no mesmo veículo dirigido pelo capitão
Wilson Luís Chaves Machado.
Pressionado
pelas autoridades, que queriam incriminar as esquerdas com um IPM
falso, o coronel Prado não se vergou às ameaças feitas contra ele e foi
afastado do IPM por "motivos de saúde". Não foi promovido a general, mas
merece todo o reconhecimento dos brasileiros, por não ter traído os
princípios que norteiam a ética militar.
O “atentado” do Riocentro
A imprensa trata do episódio do Riocentro como um “atentado terrorista”. Na verdade, foi um “acidente de serviço”, pois a bomba explodiu no colo do sargento Rosário, provavelmente enquanto manuseava o artefato. É mais correto tratar o assunto como “Caso Riocentro”, porque não houve um atentado que provocasse a morte de inocentes.
A imprensa trata do episódio do Riocentro como um “atentado terrorista”. Na verdade, foi um “acidente de serviço”, pois a bomba explodiu no colo do sargento Rosário, provavelmente enquanto manuseava o artefato. É mais correto tratar o assunto como “Caso Riocentro”, porque não houve um atentado que provocasse a morte de inocentes.
Na
época eu servia como sargento fotocinegrafista do Exército, no Campo de
Provas da Marambaia, no Rio de Janeiro. Eu tinha por costume ler o Jornal do Brasil (JB), e não O Globo,
o qual eu julgo ser um jornal chapa-branca até hoje, por bajular
vergonhosamente o governo de plantão, como se pode comprovar no recente
episódio em que o jornal renegou um editorial escrito em 1984 por seu patriarca. O JB
era um jornal de oposição, que foi sendo destroçado a partir do governo
Sarney, com cortes de verba publicitária, por fazer crítica sistemática
contra o governo, e hoje é apenas um jornal virtual. O epíteto mais
suave que o JB associava ao nome do presidente bigodudo era “sátrapa”. Pois o JB,
desde o início, estampou fotos e fez cobertura imparcial do caso
Riocentro, não deixando dúvida de que se tratou de uma “barbeiragem” do
sargento Rosário. Segundo disse um subtenente meu amigo, um oficial do
Exército, engenheiro militar, participou de exames químicos do artefato,
confirmando as reportagens do JB, que incriminavam os militares.
O
Movimento Cívico-Militar de 31 de março de 1964, que as esquerdas
chamam de “golpe”, foi na realidade um contragolpe contra os comunistas
que pretendiam tomar o poder. Nesse sentido, foi um movimento legítimo,
implorado e exigido pela população brasileira, como o visto na “Marcha
da Família com Deus pela Liberdade”, organizada por mulheres em São
Paulo, no dia 19 de março de 1964, que levou às ruas um contingente de
500 mil pessoas, para que os militares dessem um basta à desordem
pública promovida pelo presidente João Goulart e pelo incendiário Leonel
Brizola. No dia 2 de abril, mais de 1 milhão de cariocas foram às ruas
agradecer a intervenção das Forças Armadas, ostentando bandeiras e
cartazes condenando o comunismo.
Neste ano de 2014, annus petraliorum 12 (ano
12 [do governo] dos petralhas), em que se lembra o cinquentenário do
Movimento Cívico-Militar, é natural que as esquerdas requentem matérias
antigas em seu microondas do ressentimento e do revanchismo, como é o Caso Riocentro, pedindo a punição dos envolvidos. É natural, também, que neste ano a funesta Comissão da Verdade promova ataques cada vez mais ferozes contra os militares. Afinal, em novembro de 1963, Castello Branco já afirmava”: “A democracia falta ao seu dever e o comunismo está no seu papel”.
Assim, não causa nenhuma surpresa que os “comissários do povo
bolcheniquim” em particular e os esquerdistas em geral estejam no seu
papel de demonizar os militares e beatificar terroristas, a exemplo do
caso do colégio baiano, que teve mudado seu nome, de Presidente Médici
para o do terrorista sanguinário Carlos Marighella.
No
início dos anos de 1980, militares considerados de “linha dura” não
queriam a abertura política total, porque conheciam muito bem com que
pessoas estavam tratando. Por isso, tentaram desestabilizar o governo
João Figueiredo, promovendo mais de 40 atentados. Eles estavam certos em
prever as pretensões futuras de seus inimigos, que ainda hoje querem
comunizar o Brasil, utilizando a democracia para acabar com ela, porém
estavam errados no modus operandi, de promover explosões. Faltou
capacidade intelectual e de comunicação social dos militares nessa
transição política, de entrega do poder a um civil, de modo a evitar no
futuro uma nova ameaça comunista. A prova cabal daquilo que os militares
temiam é a condução política do atual governo petista, já fascista-gramscista na prática, que tenta implantar um sistema totalitário nos moldes de Cuba, dentro dos princípios estratégicos do Foro de São Paulo,
para se eternizar no poder. A antiga terrorista Dilma Rousseff, hoje
mais comunista do que nunca, só estampa alegria na cara, com um largo
sorriso, quando vai prestar contas políticas e contábeis
a seus chefes na Ilha, os abutres Fidel e Raúl Castro. A capital
política do Brasil, hoje, é Havana, com sucursais em Brasília, Caracas e
Buenos Aires.
Mas vamos aos fatos do Caso Riocentro:
“Na
noite de 30 de abril de 1981, durante um show de música popular para 20
mil jovens, uma bomba explode dentro de um automóvel que manobrava no
estacionamento do Riocentro, na Barra da Tijuca. Morto no seu interior o
Sargento Guilherme Pereira do Rosário; gravemente ferido abandona o
veículo semidestruído o Capitão Wilson Luís Chaves Machado, ambos do
Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército sediado no Rio
de Janeiro. Minutos depois outra bomba, mais poderosa, é lançada e
explode próximo à casa de força do Riocentro. Como não atinge o seu
alvo, não provoca a escuridão geral que certamente ocasionaria o pânico
no recinto fechado do show, com consequências fáceis de se imaginar” (major do Exército Dickson Melges Grael, in Aventura, Corrupção e Terrorismo – à sombra da impunidade, pg. 81 e 82).
Vinte
e cinco minutos depois da explosão, o capitão Machado foi levado ao
hospital pela neta do senador Tancredo Neves, Andréa Neves da Cunha, que
chegava ao show com o noivo Sérgio Valle. O capitão é levado ao
Hospital Lourenço Jorge, depois ao Hospital Miguel Couto. O perito
Humberto Guimarães (“Cauby”) disse aos repórteres que foram recolhidas
outras 2 bombas no interior do Puma (placa OT-0279), uma delas destruída
pela polícia.
Já
no dia 1º de maio, por volta de 1 hora da madrugada, um homem dizendo
pertencer ao “Comando Delta” telefona para vários jornais, assumindo a
autoria das explosões no Riocentro.
Às
2 horas da madrugada, o corpo do sargento Rosário é levado para o IML e
em seu corpo são encontradas peças de um mecanismo de relógio. Fotos
mostrando o estado do Puma e o arrancamento das vísceras do sargento
comprovam que o mesmo manuseava uma bomba por ocasião da explosão,
provavelmente em cima da perna direita.
Pela
manhã, o general Waldyr Muniz, Secretário de Segurança Pública do
Estado do Rio de Janeiro, em entrevista, afirma que os 2 militares foram
vítimas de atentado e que os “terroristas fugiram em três carros”.
À
tarde, o general Gentil Marcondes Filho, Comandante do então I Exército
(hoje Comando Militar do Leste), e o coronel Job Lorena de Sant’Anna
comparecem ao enterro do sargento Rosário – com honras de herói – e
ajudam a carregar o ataúde.
O
general Gentil nomeia o coronel Luís Antônio Ribeiro Prado presidente
do IPM, para apurar as explosões no Riocentro. Cinco dias antes do prazo
para conclusão do IPM, o coronel Prado renuncia por “motivos de saúde” e
é substituído pelo coronel Job.
No dia 30 de junho, o coronel Job apresenta o resultado de suas investigações à imprensa, afirmando que os militares “foram
vítimas de um atentado e a bomba havia sido feita com um quinto de uma
lata de 2,5 litros de óleo Havoline e colocada entre a porta e o banco
direito do Puma”.
“O
problema do DOI-CODI, da sua sobrevivência, da sua missão especial, das
suas prerrogativas – ele mantém prerrogativas que foram negadas ao
Congresso Nacional – e que é crucial dentro do processo de
democratização a que se devota o Presidente da República. Organismos de
emergência, criados para articular as diversas forças empenhadas na
repressão à subversão esquerdista e unificar o seu comando, eles
sobreviveram à subversão a ponto de abrigar em seus quadros agentes de
uma nova subversão, a que pretende impugnar a democratização do país e
criar problemas ao Presidente da República e à nação”
(Jornalista Carlos Castello Branco, em sua coluna no Jornal do Brasil – 06/06/1981).
(Jornalista Carlos Castello Branco, em sua coluna no Jornal do Brasil – 06/06/1981).
No
dia 30 de abril de 2001, 20 anos após o “acidente de trabalho”, o crime
prescreveu e nenhum dos envolvidos poderá ser processado, ainda que
algum juiz aceite denúncia do “Petistério Público” contra os militares.
O jornal Folha de S. Paulo, em 16/04/2001, fez uma reportagem sobre o assunto, apresentando o desdobramento do caso:
“Entenda o caso Riocentro
30 de abril de 1981
30 de abril de 1981
Duas
bombas explodem no Riocentro, centro de eventos no Rio, durante show
comemorativo do Dia do Trabalho. Uma das bombas explode dentro de um
Puma no estacionamento do Riocentro. O sargento Guilherme Pereira do
Rosário morre. O capitão Wilson Luiz Chaves Machado tem o abdome
dilacerado
Jun/81
Relatório sobre o atentado inocenta o sargento e o capitão. O inquérito sobre o caso é arquivado
Nov/96
João Baptista Figueiredo, presidente na época das explosões, admite que houve participação de militares no atentado
Relatório sobre o atentado inocenta o sargento e o capitão. O inquérito sobre o caso é arquivado
Nov/96
João Baptista Figueiredo, presidente na época das explosões, admite que houve participação de militares no atentado
Jun/99
A procuradora da República Gilda Berger afirma, em parecer, que o caso não está prescrito, e o Ministério Público Militar estuda a reabertura do inquérito
A procuradora da República Gilda Berger afirma, em parecer, que o caso não está prescrito, e o Ministério Público Militar estuda a reabertura do inquérito
Jul/99
O Exército abre novo IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar a responsabilidade pelas explosões
Out/99
O IPM indicia quatro pessoas: o general reformado Newton Cruz, ex-chefe da Agência Central do SNI (Serviço Nacional de Informações), Wilson Machado, o sargento Guilherme Pereira do Rosário e o coronel Freddie Perdigão
O Exército abre novo IPM (Inquérito Policial Militar) para apurar a responsabilidade pelas explosões
Out/99
O IPM indicia quatro pessoas: o general reformado Newton Cruz, ex-chefe da Agência Central do SNI (Serviço Nacional de Informações), Wilson Machado, o sargento Guilherme Pereira do Rosário e o coronel Freddie Perdigão
Mar/2000
Cruz é acusado de falso testemunho sobre o caso. O STM (Superior Tribunal Militar) aceita a denúncia e marca o depoimento de Cruz
Cruz é acusado de falso testemunho sobre o caso. O STM (Superior Tribunal Militar) aceita a denúncia e marca o depoimento de Cruz
Abril/2000
O STF (Supremo Tribunal Federal) concede liminar suspendendo o depoimento e suspende a tramitação do processo
O STF (Supremo Tribunal Federal) concede liminar suspendendo o depoimento e suspende a tramitação do processo
Maio/2000
O Supremo decide manter arquivado o processo contra Cruz”
Antecendentes
Antes do Caso Riocentro, nos anos de 1980 e 1981, durante 16 meses, houve cerca de 40 atentados contra bancas de jornais e órgãos que faziam oposição ao governo Figueiredo. Nenhum desses atentados foi elucidado. Abaixo, segue a cronologia desses fatos apresentada pelo major Dickson M. Grael em seu livro:
“1980:
18/01 – desativada bomba no Hotel Everest, no Rio, onde estava hospedado Leonel Brizola.
27/01 – bomba explode na quadra da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, no Rio, durante comício do PMDB
18/01 – desativada bomba no Hotel Everest, no Rio, onde estava hospedado Leonel Brizola.
27/01 – bomba explode na quadra da Escola de Samba Acadêmicos do Salgueiro, no Rio, durante comício do PMDB
26/04 – show 1º de maio – 1980 – bomba explode em uma loja do Rio que vendia ingressos para o show.
30/04
– em Brasília, Rio, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Belém e São
Paulo, bancas de jornal começam a ser atacadas, numa ação que durou até
setembro.
23/05 – bomba destrói a redação do jornal ‘Em Tempo’, em Belo Horizonte.
29/05 – bomba explode na sede da Convergência Socialista, no Rio.
30/05 – explodem duas bombas na sede do jornal ‘Hora do Povo’, no Rio.
27/06 – bomba danifica a sede da Casa do Jornalista, em Belo Horizonte.
11/08
– bomba é encontrada em Santa Teresa, no Rio, num local conhecido por
Chororó. Em São Paulo, localizada uma bomba no Tuca, horas antes da
realização de um ato público.
12/08 – bomba fere a estudante Rosane Mendes e mais dez estudantes na cantina do Colégio Social da Bahia, em Salvador.
27/08
– no Rio, explode bomba-carta enviada ao jornal ‘Tribuna Operária’.
Outra bomba-carta é enviada à sede da OAB, no Rio, e na explosão morre a
secretária da ordem, Lyda Monteiro. Ainda nesta data explode outra
bomba-carta, desta vez no prédio da Câmara Municipal do Rio.
04/09 – desarmada bomba no Largo da Lapa, no Rio.
08/09 – explode bomba-relógio na garagem do prédio do Banco do Estado do Rio Grande do Sul, em Viamão (RS).
12/09
– duas bombas em São Paulo: uma fere duas pessoas em um bar em
Pinheiros e a outra danifica automóveis no pátio da 2ª Cia. De
Policiamento de Trânsito no Tucuruvi.
14/09 – bomba explode no prédio da Receita Federal em Niterói.
14/11 – três bombas explodem em dois supermercados do Rio.
18/11 – bomba explode e danifica a Livraria Jinkings em Belém.
08/12 – o carro do filho do deputado Jinkings é destruído por uma bomba incendiária em Belém.
1981:
05/01 – outro atentado a bomba em supermercado do Rio.
1981:
05/01 – outro atentado a bomba em supermercado do Rio.
07/01 – na Cidade Universitária, no Rio, uma bomba explode em ônibus a serviço da Petrobrás.
16/01 – bomba danifica relógio público instalado no Humaitá, no Rio.
16/01 – bomba danifica relógio público instalado no Humaitá, no Rio.
02/02 – é encontrada, antes de explodir, bomba colocada no aeroporto de Brasília.
26/03 – atentado às oficinas do jornal ‘Tribuna da Imprensa’, no Rio.
31/03 – bomba explode no posto do INPS, em Niterói.
02/04 – atentado a bomba na residência do deputado Marcelo Cerqueira, no Rio.
03/04 – parcialmente destruída, com a explosão de uma bomba, a Gráfica Americana, no Rio.
28/04 – o grupo Falange Pátria Nova destrói, com bombas, bancas de jornais de Belém.” (Dickson M. Grael, op. cit., pg. 79 a 81)
28/04 – o grupo Falange Pátria Nova destrói, com bombas, bancas de jornais de Belém.” (Dickson M. Grael, op. cit., pg. 79 a 81)
O General Golbery do Couto e Silva, o “bruxinho que era bom”, devido às resistências dentro do próprio SNI para punir os responsáveis pelo Caso Riocentro, afirmou que havia criado um “monstro” e entregou o cargo de chefe do Gabinete Civil. Golbery havia criado o SNI em 1964 e foi o seu primeiro Chefe (1964-67). Não há como negar que o governo Figueiredo acabou prematuramente, junto com o Caso Riocentro.
Em tempo: o coronel Prado não foi promovido a general, mas o coronel Job Sant’Anna, sim.
GRAEL, Dickson Melges. Aventura, Corrupção e Terrorismo - à sombra da impunidade (2ª. edição). Editora Vozes, Petrópolis, 1985.
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