POR REINALDO AZEVEDO
A
presidente Dilma Rousseff resolveu fazer nesta segunda, em Bruxelas,
algumas reflexões sobre a Venezuela e a Ucrânia. Antes tivesse ficado
calada. Há momentos em que o silêncio é uma verdadeira poesia. Dilma
falou bobagem; sugeriu que, em certas circunstâncias, a ditadura pode
ser até tolerável; tentou omitir o óbvio apoio que seu governo dá à
Venezuela e evidenciou por que a liderança regional do Brasil é pífia.
Sei que é patético e que parece piada, mas Dilma está um tanto a reboque
de Nicolás Maduro, o psicopata venezuelano — quando, é evidente,
deveria de posicionar como líder da maior economia da América Latina.
Uma lástima.
Convidada
pelos jornalistas a falar sobre a situação da Venezuela e se o Brasil se
dispunha a fazer alguma forma de mediação, a presidente saiu-se com a
cascata de que o país latino-americano vive uma situação completamente
“díspar” da Ucrânia, onde o Parlamento depôs o presidente Viktor
Yanukovich, na sequência de protestos que mataram pelo menos 82 pessoas.
O fantasma
da Ucrânia está assombrando alguns tiranetes latino-americanos, daí
esse esforço de Dilma para ser a Fada Sininho de Maduro. Deixem-me ver
se consigo ser didático. De fato, a situação é diferente: Yanukovich foi
eleito num pleito considerado, então, democrático e limpo — à diferença
o maluco venezuelano.
A parte,
digamos, “europeia” da Ucrânia se revoltou com a tutela econômica e, em
certa medida, política que a Rússia exerce no país e foi às ruas,
recorrendo — e é bom que isto fique muito claro — a métodos bastante
violentos de contestação. Numa reação brutal e estúpida, a polícia foi
produzindo cadáveres. E a crise chegou aonde chegou. Mas que se note: a
Ucrânia, perto da Venezuela, era um exemplo de democracia.
Então, senhora presidente, não há dúvida de que são situações muito distintas: a Venezuela é uma ditadura.
Indagada
sobre o cerceamento à imprensa no país vizinho, Dilma se limitou a
exaltar os compromissos do Brasil com a liberdade de expressão, o que
absolutamente não estava em questão. O tema era a Venezuela.
Numa declaração que vem a ser o exato oposto da verdade, afirmou: “Eles
[a Venezuela] têm uma história. Não cabe ao Brasil discutir o que a
Venezuela tem a fazer, até porque seria contra a nossa política externa.
Não nos manifestamos sobre a situação interna de nenhum país. Não nos
cabe isso.”
Mentira!
Quando a pequena Honduras depôs o pilantra Manuel Zelaya, seguindo à
risca a sua Constituição, Lula, em companhia de Chávez, chegou a
incentivar a guerra civil. Quando, também segundo os rigores da lei, o
Paraguai depôs Fernando Lugo, o governo Dilma retaliou suspendendo o
país do Mercosul — aproveitando a janela, de forma indecorosa, para
abrigar a Venezuela no bloco. Então é falsa a afirmação de que o Brasil
não se mete na realidade interna dos outros países. Interfere, sim,
quando se trata de proteger seus aliados ideológicos.
Agora
mesmo, diante da crise venezuelana, com milícias assassinando pessoas
nas ruas, o que disse o governo brasileiro? Afirmou que a sua posição é
aquela expressa pelo Mercosul. E o que afirmou o comunicado do bloco,
cuja presidência rotativa está com a Venezuela? Chamou os protestos da
oposição de “ações criminosas de grupos violentos que querem espalhar a intolerância e o ódio”.
Logo, o Brasil está chamando a oposição venezuelana de criminosa. Não
se está diante de uma escancarada interferência nos problemas internos
de um outro país?
Ainda mais indecoroso
Dilma disse algo ainda mais indecoroso:
“Para o Brasil, é muito importante que se olhe sempre a Venezuela do ponto de vista dos efetivos ganhos que eles tiveram nesse processo em termos de educação e saúde para o seu povo”.
Dilma disse algo ainda mais indecoroso:
“Para o Brasil, é muito importante que se olhe sempre a Venezuela do ponto de vista dos efetivos ganhos que eles tiveram nesse processo em termos de educação e saúde para o seu povo”.
Como é que é?
Ainda que a
Venezuela fosse realmente um exemplo a ser seguido nessas duas áreas — é
mais uma das mistificações das esquerdas latino-americanas —, o que
Dilma está no dizendo é que, para o Brasil, a questão democrática perde
importância diante dos tais ganhos sociais. Ora,
quem acredita nisso — e acho que a gente não tem por que duvidar da
crença de Dilma nessa barbaridade; afinal, ela tem uma história… — está
fazendo uma confissão: a presidente da República Federativa do Brasil
está afirmando que ganhos em saúde e educação podem compensar a falta de
democracia.
Não por acaso, o Brasil se tornou um importador de escravos cubanos, não é mesmo?
Numa fala
em que nada está certo, a referência que fez ao Brasil não tinha como
sair redonda. Para demonstrar o compromisso do Brasil com a democracia,
lembrou que, “nas manifestações de junho, não houve nenhuma repressão…”.
É, de fato, o governo federal ficou apenas assistindo, com um ministro
ou outro, como José Eduardo Cardozo e Gilberto Carvalho, insuflando…
Quem teve e tem de arcar com o peso da repressão ao vandalismo são os
governos estaduais.
0 comments:
Postar um comentário