RODOLFO COELHO PRATES
Diz o ditado popular que há dois caminhos: o fácil e o certo. E o Brasil vem, há várias décadas, trilhando o fácil, embora diga que sempre faz o certo. O mais recente episódio é o programa federal Mais Médicos. Embora em alguns locais possa acarretar melhora das condições de saúde, esse programa, de fato, não trilhou o caminho certo. Ele parte da premissa de que é mais fácil importar médicos de outros países do que estruturar melhor as universidades para formar profissionais em número necessário às demandas sociais. Trazer médicos é também mais cômodo que elaborar uma política sustentável para a atividade da medicina, pois isso envolve um amplo diálogo com inúmeros setores, e para esse diálogo o governo não demonstra habilidade ou interesse.
Mas esse episódio não é o único. Há mais de um século o Brasil importou europeus para substituir o trabalho escravo. Por várias razões, nas últimas décadas do século 19 a escravidão estava entrando em seu declínio, e o caminho mais fácil foi deixar marginalizados os que aqui estavam e trazer trabalhadores estrangeiros para essa nova fase da economia nacional. Hoje toda a sociedade brasileira sabe o equívoco que foi cometido.
Em meados do século passado, sob o governo de Juscelino Kubitscheck, o governo adotou o discurso fácil de desenvolver o país 50 anos em apenas cinco. Como se fosse possível dar saltos no tempo e pular etapas na construção social. E nada mais simbólico naquele momento que a indústria automobilística, sinônimo de modernidade e mobilidade. O governo decidiu interromper a importação de carros e importar as próprias indústrias. E até hoje, quando uma nova indústria automobilística aterrissa em nosso território, cria-se a ilusão de que é um grande feito. Atualmente, além das empresas tradicionais europeias, americanas e japonesas, que estão aqui há décadas, há também empresas da Coreia, da China e, no futuro próximo, da Índia, mas ninguém se pergunta onde está a empresa brasileira.
Infelizmente todas as iniciativas de uma indústria automobilística nacional foram abortadas. Algumas pessoas podem dizer que, se não há uma única empresa brasileira no setor, é por causa da incompetência dos empresários nacionais. Se esse argumento fosse correto, nenhuma empresa brasileira sobreviveria ao avanço dos tempos.
A experiência de muitos países é reveladora, e ela mostra a necessidade de uma conjugação de elementos que favoreçam o desenvolvimento industrial de uma nação. Enquanto em muitos países há políticas de desenvolvimento industrial, a política nacional é de atração do investimento internacional, que, por meio de um conjunto amplo de incentivos e benefícios, tenta facilitar a vinda de empresas já consolidadas nos seus países de origem. É, mais uma vez, a escolha do caminho fácil e não do caminho certo.
A estratégia democraticamente contestável da política nacional de solucionar os problemas domésticos por meio da importação gera resultados modestos e de curtíssimo prazo, e os problemas futuros decorrentes dessa estratégia se tornam gigantescos, como a história nos ensina.
O governo brasileiro deve necessariamente rever sua postura populista e priorizar ações corretas. Mas, se preferir continuar pelo mesmo caminho da facilidade, deveria excluir os políticos do governo e importar políticos mais comprometidos com as questões nacionais, a exemplo dos políticos dos países nórdicos, que sabem distinguir claramente o que é fácil e o que é o certo.
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