por Rodrigo Botero Montoya
Depois de 20 anos de eleições presidenciais que pavimentaram o caminho para a Revolução Bolivariana de Hugo Chávez, é oportuno refletir sobre a transformação vivida pela Venezuela desde então. Uma maneira de colocar em perspectiva o que aconteceu é evocar o discurso e o comportamento de Chávez durante os anos em que os preços do petróleo pareciam favorecer a imposição do socialismo do século XXI.
Ele se ofereceu para transformar o mundo com a ponta de lança do petróleo. Os títulos do governo argentino foram comprados em default. O poder da Venezuela foi proclamado, formando um eixo Caracas-Brasília-Buenos Aires com base na anunciada proximidade ideológica com Lula e Kirchner. O boom do petróleo alimentou a ilusão de que os recursos financeiros seriam ilimitados e levou a excessos. Subsídios foram concedidos no próprio país e para outros. Em vez de ter poupado uma parte da receita extraordinária, o endividamento externo aumentou.
O direito de propriedade foi exposto à facilidade com que o comandante pronunciou a ordem: “Exproprie-se”. Junto com o enfraquecimento das empresas privadas, houve uma proliferação de empresas estatais e um aumento desproporcional no número de funcionários públicos. As consequências econômicas destas medidas foram parcialmente mitigadas enquanto aumentarm os preços internacionais do petróleo. O fim do boom exterrno deixou claro o tamanho da lesão e a fragilidade da economia venezuelana, dada a sua falta de diversificação.
A resposta ao choque do preço da energia tem sido apertar os controles, restringir ainda mais o campo de ação do setor privado e recorrer à repressão para evitar aumentos ou escassez de preços. Embora a deterioração econômica e social tenha sido gradual, nos últimos cinco anos, adquiriu proporções dramáticas. Os indicadores disponíveis revelam uma queda considerável no tamanho da economia. Quase 500 mil empresas desapareceram. A produção de petróleo é uma fração do que existia em 1998. Embora um aumento recente tenha sido concedido, o salário mínimo é equivalente a US$ 6 por mês.
Em termos sociais, a deterioração é notória. Estima-se que o sistema de saúde tenha regredido ao nível de 1940, devido à insuficiência de equipamentos, suprimentos e medicamentos. A falta de cuidado médico adequado levou ao aumento das taxas de mortalidade materna e infantil. Doenças como a malária, que havia sido erradicada, reapareceram. A falta de proteína criou uma situação generalizada de desnutrição. Algo semelhante acontece no sistema educacional. O colapso econômico e social deu origem a um fenômeno migratório de dimensões sem precedentes na América Latina.
Pesquisadores sociais se esforçam para avaliar a magnitude e as implicações do impacto que a implementação do modelo econômico e político bolivariano teve. Os historiadores do futuro terão o desafio de identificar as causas que explicam esse fracasso.
Rodrigo Botero Montoya é economista e foi ministro da Fazenda da Colômbia
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