PERCIVAL PUGGINA
O demagogo brasileiro incorpora três características da índole nacional: o hábito de botar a culpa nos outros, a mania de remendar os efeitos em vez de resolver as causas dos problemas, e o conceito de que, fora do esporte, competição é coisa de mau caráter. Um estadista, contemplando o perfil socioeconômico e racial da universidade pública brasileira diria que ele é condicionado: 1º) pela péssima qualidade do ensino fundamental e médio nas escolas públicas e 2º) pelo injusto e equivocado perfil do gasto nacional em educação.
O estadista saberia que a injustiça não está na ausência de uma lei de cotas, mas no fato de que a União gasta bilhões de reais para pagar a universidade de quem poderia custear seus próprios estudos e que em grande parte deveria ser privatizada. Se esses recursos fossem aplicados para qualificar o ensino fundamental e médio, estaríamos agindo sobre uma das principais causas da desigualdade, sem agredir o mérito, único critério de seleção legítimo no ambiente acadêmico. Toda a juventude seria beneficiada, a sociedade se capacitaria melhor para o mundo moderno e a universidade ganharia em qualificação. Qualquer outro critério de acesso ou promoção (ideológico, político, social, racial, ou de classe) produz dano irreparável.
Já o demagogo diz: “A culpa é dos desníveis sociais que beneficiam as elites!”, e acrescentaria: “Negros e pardos proveem das deficientes escolas públicas; a solução é lhes proporcionar cotas nas boas universidades estatais!”. Resultado previsível? Expressiva perda de qualidade e quase nenhum ganho quantitativo. Há, no entanto, quem resulte convencido de estarmos zelando pelos necessitados nessa competição injusta. Enquanto isso, os anos passam e na base do sistema, o péssimo ensino público descarrega na vida produtiva milhões de talentos desaproveitados, jovens de todas as “raças”, incapazes, tanto para um trabalho bem remunerado, quanto para continuar estudando.
EXTRAÍDADEPUGGINA.ORG
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