por Carlos Alberto Sardenberg O Globo
A CUT - a central sindical do PT - descobriu a causa do desemprego: a
Lava Jato. Foi ao detalhe: cada preso da operação desempregou 22 mil
pessoas. Não, eles não estão de gozação. A tese, digamos, foi defendida
pelo secretário de comunicação da central, Roni Barbosa, em discurso de
apoio a Lula, ontem em Curitiba.
No mesmo momento, em Brasília, no plenário do STF, o advogado
Antônio Mariz sustentava que a Procuradoria Geral da República
"atrapalha o país" ao apresentar denúncias de corrupção contra o
presidente. Isso porque, alegou, a PGR "impede Temer de trabalhar".
Chegou a pedir: "deixem o presidente em paz".
Um defende Lula, outro defende Temer, mas a tese, digamos, é
exatamente a mesma -uma versão nova do clássico "rouba mas faz".
O pessoal da CUT diz que a Lava Jato paralisou grandes
empreiteiras e outras empresas especialmente do setor de óleo e gás, o
que levou o país à recessão e ao desemprego. Quer dizer com isso que se
não houvesse a operação contra a corrupção, estaria tudo bem: o PIB
crescendo, os brasileiros trabalhando, o PT no poder .... e os ladrões
roubando sossegadamente. (Esta última conclusão, claro, é nossa.)
Como Lula representa aquele momento de expansão, denunciá-lo e
processá-lo é uma conspiração dos que não querem o crescimento do
Brasil. Entre estes, certamente estão o presidente Temer e seus
associados.
Na versão Mariz fica assim: o país está voltando a crescer
depois da recessão do lulopetismo, essa recuperação se deve ao
presidente Temer, de modo que não é hora de denunciá-lo. Quem faz isso,
como o procurador Janot, só pode estar conspirando contra o Brasil.
Mas como não se pode defender publicamente a corrupção, cujas
evidências são arrasadoras, os dois lados se desviam da mesma maneira: é
coisa dos outros.
Um dos vice-presidentes do PT, o ex-ministro Alexandre Padilha,
garantiu ontem que as malas e caixas de dinheiro encontradas no
incrível apartamento de Salvador foram resultado de corrupção feita no
governo Temer e não quando Geddel Vieira Lima, o dono ou fiel
depositário da dinheirama, foi ministro de Lula e diretor da Caixa
Econômica na gestão Dilma. Como pode saber disso? Deu uma olhada nas
fotos e "descobriu" que as notas eram novinhas.
Argumento mais do que duvidoso. Geddel ficou anos nas
administrações petistas e, na Caixa, controlava financiamentos de
bilhões. Foi dali que saiu o grosso da propina, dizem diversos delatores
e testemunhas. O governo Temer tem pouco mais de um ano, tempo
parcialmente aproveitado por Geddel, que está preso.
Mas isso não libra o PMDB, pois Geddel, membro histórico do
partido, estava nos governos petistas como representante de Temer. O que
fazer?
Tentar mostrar que Temer e o partido não têm nada com isso.
Ontem, o PMDB formalizou o afastamento de Geddel Vieira Lima.
Do mesmíssimo modo, o pessoal de Lula está dizendo que Antônio
Palocci - chefe de campanha de Lula e Dilma, ex-ministro dos dois,
grande chefe do PT por anos - "nunca foi um verdadeiro petista".
Tudo considerado, está na cara que há mesmo uma conspiração
nacional: contra a Lava Jato. Claro que os atores dos dois lados sabem
perfeitamente que houve grossa roubalheira. Sabem também que não dá para
enganar os eleitores por muito tempo.
Tanto sabem que já chegaram às teses mais ridículas. Essa de
que cada preso da Lava Jato gerou 22 mil desempregados é o máximo da
estupidez. Mas o advogado Mariz, um homem culto, quase chegou a dizer
que denunciar Temer trás de volta a recessão e a inflação.
Diante disso, a estratégia que une todos - de Lula a Temer,
passando por Aécio - é barrar a Lava Jato para minimizar os danos. Ser
réu, acusado, é ruim, mas ainda é melhor que preso.
A decisão do STF de ontem - de manter Janot e ressalta a
prerrogativa da PGR de investigar e denunciar o presidente quando julgar
necessário - e as sucessivas ações recentes da Lava Jato indicam que
não será fácil acabar com a maior operação contra a corrupção.
Uma última palavra: dizer que o país só avança no "rouba mas
faz" e que é preciso ser tolerante com a corrupção para preservar o
progresso, é como acreditar que todo mundo aqui é ladrão e que este país
não tem futuro.
Piada?
Sei que muita gente não gosta de piada numa hora dessas, mas é irresistível. Por exemplo:
Proposta CUT contra o desemprego: soltem todos os presos da Lava Jato.
Dos amigos de Geddel: qual o problema? A família sempre gostou de guardar dinheiro vivo.
Garotinho deixou de apresentar seu programa de rádio por um problema de voz - voz de prisão.
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