por Percival Puggina.
Tudo seguiu a mais estrita orientação do centralismo, mitificação e propaganda característica das organizações comunistas. Morte aos fatos e aos acontecimentos! Longa vida às versões que sirvam à causa! Anos mais tarde, Jorge Amado repudiou essa e outras obras, como se verá a seguir, mas a construção do mito persistiu em posteriores biografias, como a escrita por Anita Leocádia - "Luiz Carlos Prestes, um comunista brasileiro" - que cumpriu muito zelosamente seu papel de filha do biografado.
Atente para estas palavras de Jorge Amado, num pequeno vídeo que pode ser assistido aqui:
"Nenhum
escritor, naquele momento, naquela ocasião, era um escritor que não
tivesse um engajamento. E toda primeira parte da minha obra traz um
engajamento que é uma excrescência. Nós éramos stalinistas, mas
terrivelmente stalinistas. Para mim Stalin era meu pai. Era meu pai e
minha mãe. Para a Zélia [Gatai]também. Nós levamos uma trajetória de
anos cruéis para compreender que o pai dela era o mecânico Ernesto
Gattai e que meu pai era o coronel do cacau João Amado. Quer dizer, o
partido me utilizou. E a partir desse momento, em realidade, o que o
partido fez foi, sem querer, provavelmente, a tentativa de acabar com o
escritor Jorge Amado, para ter o militante Jorge Amado. No fim do ano de
1955 eu soube que a polícia socialista torturava os presos políticos
tão miseravelmente quanto a polícia de Hitler. O mundo caiu sobre a
minha cabeça. Já sem escrever a longo tempo, já descrente por inteiro
das ideologias, do fundamental das ideologias - Stalin era vivo ainda -
eu deixei o partido comunista. Fui atacado por muitos dos comunistas de
uma forma muito violenta. O principal dirigente comunista da época,
depois de Prestes, que era Arruda Câmara, disse que dali a seis meses eu
não existiria como escritor e como intelectual. Felizmente ele se
enganou. Ideologia, quer saber o que é, Henry? É uma merda!".
Pois coube a Luís Carlos Prestes, cavaleiro de sua coluna inútil pelo
interior do Brasil, receber da Prefeitura de Porto Alegre um latifúndio
urbano em área nobilíssima da cidade, para ali ser erguido memorial em
sua homenagem. A coluna Prestes, é bom registrar, em virtude das
"expropriações revolucionárias" que fazia, deixou um rastro de miséria
por onde passou. Como garantia do butim, entregava bônus que a
revolução, quando vitoriosa, haveria de saldar... E como tampouco havia
apelo na causa defendida junto a uma população interiorana que sequer
sabia quem governava o país, a coluna viajou 25 mil quilômetros
afugentando aqueles que pretendia atrair. Se você perguntar o que
Prestes fez pelo Brasil (ou pela cidade) só descobrirá que se empenhou
sempre, e sem escrúpulo, por alguma ideia revolucionária desastrada,
desastrosa ou totalitária.O Memorial Prestes está para ser inaugurado. Era tão extenso e valioso o quarteirão que lhe foi designado que, tendo cedido metade para a Federação Gaúcha de Futebol ali edificar sua sede, recebeu em troca a obra pronta, segundo projeto do camarada Oscar Niemayer. É uma pena que a cidade abrigue tão vistosa homenagem a essa figura menor da cena política brasileira, fiel a Moscou e infiel à sua pátria.
Espero que a posteridade não veja o prédio como uma reverência desta geração de sul-rio-grandenses, mas como produto fortuito e circunstancial do trabalho de um grupo político com escassa representatividade, que ainda hoje se abraça a essa ideologia de péssimo passado e nenhum futuro. Por isso, e só por isso, cai-lhe bem o nome "Memorial".
EXTRAIDADEPUGGINA.ORG
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