editorial do Estadão
Foi preciso que a grave crise fiscal gerada pela irresponsabilidade das
administrações lulopetistas comprometesse de tal modo a capacidade dos
governos estaduais e municipais de pagar em dia seus compromissos,
inclusive os vencimentos do funcionalismo, para que seus responsáveis se
convencessem da necessidade de transferir para a iniciativa privada a
gestão de empresas e serviços, em geral administrados de acordo com
critérios políticos. Seguindo o exemplo do governo federal – que há
pouco anunciou a transferência de 57 ativos para a iniciativa privada –,
Estados e municípios tentam atenuar sua crise financeira por meio da
privatização, como mostrou reportagem do Estado.
A privatização ou a concessão para o setor privado eram indispensáveis
para dar a empresas e serviços geridos por Estados e prefeituras a
racionalidade administrativa, a eficiência operacional e a redução dos
custos que resultam em ganhos para usuários e contribuintes. A criminosa
utilização das estatais federais na era petista, que vem sendo exposta
pela Operação Lava Jato, dá ideia de como uma administração
inescrupulosa pode enriquecer políticos, partidos, funcionários públicos
e dirigentes de empresas privadas à custa de recursos públicos e da
capacidade operacional dessas empresas. A privatização, entre outros
efeitos, reduz de maneira substancial o espaço para esse tipo de crime.
Mas era forte a resistência política a essas medidas, pois as estatais
de todos os níveis – federal, estadual e municipal – têm sido fartamente
utilizadas para barganhas políticas na constituição de suas equipes de
direção e gerenciamento. As imensas dificuldades financeiras de Estados e
prefeituras – que atrasam ou parcelam o pagamento de salários e
suspendem outros – estão rompendo a resistência.
Levantamento feito pelo Estado indica
que a nova onda de privatizações, envolvendo governos estaduais e
prefeituras, pode alcançar R$ 80 bilhões, um valor sem dúvida expressivo
para cofres públicos hoje exauridos. O cálculo inclui apenas a venda de
empresas e serviços ligados a energia elétrica, gás natural, saneamento
básico e iluminação pública.
Há investidores interessados nessas atividades, entre eles grandes
grupos estrangeiros, além de empreendedores nacionais em busca de
oportunidades na área de infraestrutura. Entre os ativos a serem
privatizados, alguns despertam interesse maior, porque a modelagem está
mais avançada ou porque pertencem a setores em que a presença do capital
privado já está consolidada. É o caso do setor de energia elétrica,
que, nos cálculos preliminares, deve absorver cerca de R$ 30 bilhões do
total de R$ 80 bilhões. Entre os principais negócios no setor estão as
privatizações de ativos da Companhia Energética de Brasília (CEB), da
Companhia Estadual da Energia Elétrica (CEEE) do Rio Grande do Sul e da
Companhia Energética de São Paulo (Cesp).
É grande também o potencial de negócios no setor de saneamento básico.
Estima-se que os principais negócios cujos projetos estão em andamento
podem render R$ 35 bilhões. A concretização dessas operações de
privatização depende, porém, da superação de vários obstáculos. O Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vem prestando
assessoria técnica a governos estaduais e prefeituras que pretendem
privatizar seus serviços nessa área. O programa do BNDES teve a adesão
de 15 Estados; 11 projetos estão na fase de contratação de consultores.
Na grande maioria dos municípios, porém, embora seja dramática a
carência de serviços de saneamento básico, não há nem esboço de projeto
de implantação ou expansão desses serviços, por falta de capacidade
técnica das prefeituras.
Há oportunidades também nas áreas de distribuição de gás e de iluminação
pública. No entanto, é preciso observar que, se todos os programas
tiverem êxito, isso apenas aliviará a crise fiscal de Estados e
municípios. A reforma profunda da estrutura de despesas do setor público
continuará sendo indispensável.
extraídaderota2014blogspot
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