por Carlos Melo O Estado de São Paulo
A despeito dos ares de esperança comuns às festas de fim de ano, é nula a
chance de o País superar rapidamente a crise. Melhora macroeconômica
ajuda, não basta: o ajuste necessita de reformas e avanços que, por sua
vez, requerem atores políticos qualificados, no momento inexistentes. As
crises se entrelaçam: a política se escoraria na economia, mas a piora
econômica agrava a crise política; a economia depende do bom
funcionamento da política. As duas crises se abraçam, brincam de ciranda
no círculo vicioso.
Tão cedo, o sistema político não sairá do calvário: a dinâmica em que
aprendeu a funcionar se esgotou, mas seu padrão mental é resistente,
embora ultrapassado. Esse presidencialismo de coalizão – sem programa e
escrúpulos – dilapidou o Estado e as condições fiscais já não permitem
“dar para receber”. O governo ainda logra vitórias porque libera verbas a
rodo e redistribui o espólio do finado PT; contudo, a voracidade é
infinita, enquanto os recursos não. Para que Michel Temer pudesse tirar o
País do buraco seria necessário parar de cavar.
Difícil contornar um sistema em pânico que deu em rua sem saída, diante
de opinião pública com porretes na mão. A Lava Jato não será contida no
Parlamento. Se isso ocorreu na Operação Mãos Limpas, no Brasil do
presente as condições são diferentes: mais bem preparados, Ministério
Público e parte da Justiça aprenderam as manhas do exemplo europeu. A
sociedade em rede, mais informada e conectada, guarda colossais
diferenças com a Itália dos anos 1990. Não há acordo possível quando uns
– MP e Justiça – estão tão em alta e outros – Congresso e Executivo –
estão em baixa. Só rendição.
O País vive a transição: a velha ponte ruiu, conquanto nova passarela
não foi planejada. É preciso chegar à outra margem do rio, mas sem
capacidade de comunicação, persuasão e articulação, o País balança na
“pinguela” que possui. De positivo, a consciência de que do labirinto
não há saída fácil: som e fúria significam nada. Após o terremoto,
deve-se enterrar os mortos e cuidar dos vivos – tomando cuidado com os
muito vivos!
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