Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Os acusados é que deveriam ter pressa em rebater as denúncias das delações

Pedro do Coutto

Em carta a Rodrigo Janot  o presidente Michel Temer pede que a Procuradoria Geral da República apresse as investigações da Operação Lava-Jato e, ao mesmo tempo, considera ilegítima a divulgação das delações, para as quais pede maior rapidez. A delação que detonou a crise que envolveu o governo, como se sabe, foi a do ex-diretor da Odebrecht, Claudio Melo Filho.
Michel Temer sustentou na carta que a divulgação de delações atrapalha o governo. Atinge principalmente o país, digo eu. Mas vale acentuar que os acusados por Cláudio Melo Filho é que deveriam ter a máxima urgência de esclarecer os papéis que lhes foram atribuídos no amplo teatro da corrupção que invadiu o Brasil.
Eles, entretanto, não demonstram ansiedade para poderem se explicar. Desce inclusive uma sombra projetada por uma contradição evidente: o vazamento não supera em importância o conteúdo concreto dos fatos delatados. Se forem falsos, melhor para os acusados. Se forem verdadeiros, pior para eles. E para o governo que os integrou a sua equipe.
ESPALHAR CÓPIAS – Por isso, Michel Temer, ao se dirigir a Rodrigo Janot, deveria ter dirigido cópias aos delatados que exercem postos de sua confiança. Uma iniciativa não elimina a outra e as duas convergem para um único plano: o da verdade, forte gerador de efeitos. Uma simples questão de lógica.
Se o delator prejudica o desempenho do Executivo, os delatados, se não se explicarem de forma firme e convincente, atrapalham muito mais. Não há como evitar o confronto entre as duas faces do problema colocado.
Importante destacar que a delação de Cláudio Melo Filho foi a primeira das 77 acertadas com executivos da empresa, a qual chegou ao ponto de montar uma diretoria para cuidar das propinas, além de criar um banco no exteriorpara operacionalizar todo sistema ilegal. E entre as delações programadas encontra-se a maior de todas, a de Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empresa e, essencial anotar, um de seus proprietários. Encontra-se igualmente programada a delação de Emilio Odebrecht, pai de Marcelo.
A PRESSA EXIGIDA – Portanto, dentro de todo este quadro extremamente crítico, a pressa que o presidente da República pede a Rodrigo Janot depende menos dele do que dos autores das delações. Calcule-se pelo enorme número de páginas contendo mais de duzentos nomes de pagamentos, valor das propinas repassadas, abrangendo ainda os reflexos dos subornos.
E tem mais: a esfera destinada às comprovações. Detalhe por detalhe, intermediário por intermediário, banco por banco, emissário por emissário, senhas usadas em casos específicos, como já se publicou.
Dá trabalho montar tudo isso, separando os longos capítulos de uma extensa série que começou a entrar em operação ao longo os últimos doze anos. Inclusive quanto a seleção de informações e comprovações. São trabalhos voltados para eliminar possíveis incorreções. Tudo isso é fundamental. Tão fundamental quanto a solidez das provas. Pois qualquer erro torna-se capaz de fazer desabar uma narrativa para a qual se exige sequência e consequência.

Um trabalho profundo. Tão profundo quanto o esquema de corrupção que abalou os governos Lula e Dilma Rousseff. E agora, com Michel Temer, abala o Brasil.






















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