Jornalista Andrade Junior

domingo, 18 de dezembro de 2016

"Enquanto isso, o País afunda",

editorial do Estadão

 Vagas de Papai Noel foram cortadas, a indústria demite, o comércio definha a uma semana do Natal e a economia continua afundando, enquanto em Brasília as instituições cambaleiam. Judiciário e Legislativo se enfrentam num desafio aparentemente sem fim. O Executivo, acuado pelas delações da Lava Jato, manobra para salvar seu programa de ajuste e dar algum ânimo ao País. Ontem, o grande assunto financeiro deveria ser a nova alta de juros nos Estados Unidos, mais uma chacoalhada global. Mas no mercado nacional as atenções se dividiram. Era inevitável acompanhar a confusão na capital, onde o drama econômico parece ganhar proporções minúsculas.
Os números, assim como a escassa iluminação de Natal, contam uma história muito mais feia do que parecem perceber as excelências brasilienses. Em outubro, os negócios continuaram perdendo vigor e recuaram 0,48% em relação ao patamar de setembro, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), conhecido como prévia do Produto Interno Bruto (PIB). Na série com desconto dos fatores sazonais, o indicador ficou 3,88% abaixo do calculado um ano antes. De janeiro a outubro o resultado foi 5,01% inferior ao dos 10 meses correspondentes de 2015. Em 12 meses a perda chegou a 5,29%. A tendência foi confirmada, com alguma diferença nos detalhes, pelo Monitor do PIB, publicado quase no mesmo horário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). As contas coincidiram em relação ao recuo mensal de 0,48%. A taxa trimestral móvel diminuiu 3,1%, indicando pela segunda vez a interrupção da pequena melhora iniciada em maio. Em 12 meses a queda chegou a 4,3%.
Detalhes muito importantes para se avaliar as possibilidades de recuperação continuaram pouco ou nada animadores. Em outubro o consumo das famílias foi 4,3% menor que o de um ano antes. O investimento em máquinas, equipamentos e obras, medido pela formação bruta de capital fixo, ficou 9,3% abaixo do contabilizado em outubro de 2015.
O continuado recuo do investimento é facilmente explicável. Com a economia muito fraca e escassa perspectiva de recuperação a curto prazo, as empresas privadas deixam de investir em meios de produção. Se o fizessem, estariam imobilizando dinheiro sem perspectiva de retorno por um bom tempo – e numa fase de juros muito altos.
No caso dos investimentos em infraestrutura, o problema é explicável tanto pela crise financeira do setor público, em todos os níveis de governo, quanto pela paralisação das concessões. Sem novos projetos e novos leilões, os grupos privados, mesmo com algum interesse nessas áreas, ficam impossibilitados de assumir compromissos com as administrações públicas. Nas avaliações mais otimistas, os leilões devem ser retomados nos primeiros meses de 2017.
As notícias do setor privado continuam ruins. Em novembro, as fábricas paulistas demitiram 25.500 trabalhadores a mais do que contrataram. No ano, foram 116.500 desligados. Em 12 meses, 170 mil, segundo o relatório da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo divulgado ontem. Não há perspectiva, segundo dirigentes da Federação, de melhora nas condições de emprego do setor a curto prazo.
No mesmo dia, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) distribuiu sua nova pesquisa de intenção de consumo das famílias. O indicador de dezembro foi 2,6% maior que o de novembro. É uma notícia aparentemente positiva, a uma semana do Natal. Mas o índice ainda é 0,3% mais baixo que o de dezembro do ano passado. Além disso, atingiu apenas 76,2 pontos e ficou, portanto, ainda em território negativo.
O nível 100 é a linha divisória entre as perspectivas negativas e positivas. Se a pesquisa estiver correta, os consumidores devem estar um pouco menos desanimados. O estado de humor deve ser menos mau, portanto, mas seria um inegável exagero falar de algum entusiasmo natalino.

Nem por isso o verdadeiro espírito de Natal deve faltar na maior parte do País. Já em relação a Brasília, quem se arrisca a uma aposta semelhante?












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