editorial do Estadão
Vagas de Papai Noel foram cortadas, a indústria demite, o comércio
definha a uma semana do Natal e a economia continua afundando, enquanto
em Brasília as instituições cambaleiam. Judiciário e Legislativo se
enfrentam num desafio aparentemente sem fim. O Executivo, acuado pelas
delações da Lava Jato, manobra para salvar seu programa de ajuste e dar
algum ânimo ao País. Ontem, o grande assunto financeiro deveria ser a
nova alta de juros nos Estados Unidos, mais uma chacoalhada global. Mas
no mercado nacional as atenções se dividiram. Era inevitável acompanhar a
confusão na capital, onde o drama econômico parece ganhar proporções
minúsculas.
Os números, assim como a escassa iluminação de Natal, contam uma
história muito mais feia do que parecem perceber as excelências
brasilienses. Em outubro, os negócios continuaram perdendo vigor e
recuaram 0,48% em relação ao patamar de setembro, segundo o Índice de
Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), conhecido como prévia do
Produto Interno Bruto (PIB). Na série com desconto dos fatores sazonais,
o indicador ficou 3,88% abaixo do calculado um ano antes. De janeiro a
outubro o resultado foi 5,01% inferior ao dos 10 meses correspondentes
de 2015. Em 12 meses a perda chegou a 5,29%. A tendência foi confirmada,
com alguma diferença nos detalhes, pelo Monitor do PIB,
publicado quase no mesmo horário pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). As
contas coincidiram em relação ao recuo mensal de 0,48%. A taxa
trimestral móvel diminuiu 3,1%, indicando pela segunda vez a interrupção
da pequena melhora iniciada em maio. Em 12 meses a queda chegou a 4,3%.
Detalhes muito importantes para se avaliar as possibilidades de
recuperação continuaram pouco ou nada animadores. Em outubro o consumo
das famílias foi 4,3% menor que o de um ano antes. O investimento em
máquinas, equipamentos e obras, medido pela formação bruta de capital
fixo, ficou 9,3% abaixo do contabilizado em outubro de 2015.
O continuado recuo do investimento é facilmente explicável. Com a
economia muito fraca e escassa perspectiva de recuperação a curto prazo,
as empresas privadas deixam de investir em meios de produção. Se o
fizessem, estariam imobilizando dinheiro sem perspectiva de retorno por
um bom tempo – e numa fase de juros muito altos.
No caso dos investimentos em infraestrutura, o problema é explicável
tanto pela crise financeira do setor público, em todos os níveis de
governo, quanto pela paralisação das concessões. Sem novos projetos e
novos leilões, os grupos privados, mesmo com algum interesse nessas
áreas, ficam impossibilitados de assumir compromissos com as
administrações públicas. Nas avaliações mais otimistas, os leilões devem
ser retomados nos primeiros meses de 2017.
As notícias do setor privado continuam ruins. Em novembro, as fábricas
paulistas demitiram 25.500 trabalhadores a mais do que contrataram. No
ano, foram 116.500 desligados. Em 12 meses, 170 mil, segundo o relatório
da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo divulgado ontem. Não
há perspectiva, segundo dirigentes da Federação, de melhora nas
condições de emprego do setor a curto prazo.
No mesmo dia, a Confederação Nacional do Comércio (CNC) distribuiu sua
nova pesquisa de intenção de consumo das famílias. O indicador de
dezembro foi 2,6% maior que o de novembro. É uma notícia aparentemente
positiva, a uma semana do Natal. Mas o índice ainda é 0,3% mais baixo
que o de dezembro do ano passado. Além disso, atingiu apenas 76,2 pontos
e ficou, portanto, ainda em território negativo.
O nível 100 é a linha divisória entre as perspectivas negativas e
positivas. Se a pesquisa estiver correta, os consumidores devem estar um
pouco menos desanimados. O estado de humor deve ser menos mau,
portanto, mas seria um inegável exagero falar de algum entusiasmo
natalino.
Nem por isso o verdadeiro espírito de Natal deve faltar na maior parte
do País. Já em relação a Brasília, quem se arrisca a uma aposta
semelhante?
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário