BERNARDO MELLO FRANCO FOLHA DE SP
A posse da
ministra Cármen Lúcia virou um grande encontro de investigados e
investigadores da Lava Jato. Seguindo o protocolo, a nova presidente do
Supremo convidou os próceres da República para a solenidade. O plenário
do tribunal ficou pequeno para tantos personagens do petrolão.
Do
lado direito da ministra, sentou-se o senador Renan Calheiros,
indiciado em oito inquéritos. Do esquerdo, o presidente Michel Temer,
citado por ao menos três delatores. Outros alvos da operação, como os
ex-presidentes Lula e José Sarney, circularam pela corte recebendo
abraços e tapinhas nas costas.
Como ninguém aparentava
constrangimento, coube ao ministro Celso de Mello instaurar algum
desconforto no salão. Em discurso incisivo, ele criticou a "captura das
instituições do Estado por organizações criminosas" e chamou os
políticos corruptos de "delinquentes", "marginais da República" e
"indignos do poder".
"Os cidadãos desta República têm o direito
de exigir que o Estado seja dirigido por administradores íntegros,
legisladores probos e juízes incorruptíveis", disse. Ministro mais
antigo do Supremo, ele afirmou que os "infiéis da causa pública"
enfrentarão a "severidade das sanções criminais" e serão "punidos
exemplarmente" por "práticas desonestas".
Diante dos chefes dos
Três Poderes, o procurador Rodrigo Janot proclamou a "falência do nosso
sistema de representação política" e disse que "forças do atraso" tentam
parar a Lava Jato. Ele pediu apoio para enfrentar o que chamou de
"reação vigorosa do sistema adoecido".
Em tom mais brando, Cármen
Lúcia também deu seu recado ao cumprimentar "Sua Excelência, o povo"
antes das autoridades. Ela disse que o país vive "tempos tormentosos" e,
por um instante, pareceu comentar a presença dos investigados na festa.
"Alguma coisa está fora da ordem", disse, citando a música de Caetano
Veloso. Os políticos ouviram tudo em silêncio.
terça-feira, 13 de setembro de 2016
Fora da ordem -
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