editorial de O Globo
A mais grave crise fiscal de que se tem notícia pulveriza a mitologia
que acompanha correntes de pensamento político e econômico. Uma delas,
que o Estado tudo pode e é agente eficaz de desenvolvimento e eliminação
da pobreza.
A simples quebra do Tesouro, pelos excessos cometidos nesta mesma
direção pelo governo Dilma Rousseff, já é prova sólida de que existem
limites mesmo para a mais firme vontade política. Vontade apenas de nada
vale, se as políticas executadas estiverem erradas.
Agora, com a dívida pública próxima de 70% do PIB e ainda em ascensão,
um déficit nominal (incluindo os juros da dívida) na faixa dos 10% do
PIB, uma situação que aponta para a insolvência do Tesouro, não há
justificativa para não se olhar com lupa e método para a qualidade das
despesas que faz o Estado, algo como 40% do PIB. Com o dinheiro do
acossado contribuinte.
Isso, independentemente de medidas no campo da macroeconomia. Reforça
bastante esta necessidade o fato de o Ministério Público Federal haver
identificado indícios de fraudes no Bolsa Família, envolvendo pagamentos
entre 2013 e 2014 de R$ 2,5 bilhões a 1,4 milhão de beneficiários.
Chega a se aproximar de 10% dos R$ 28,8 bilhões orçados para todo este
ano.
Identificou-se distribuição de benefícios entre pessoas mortas ou sem
CPF, como também com vários números no cadastro da Receita, e assim por
diante. Esses desvios devem se repetir em outros programas sociais,
porque, se nos 13 anos do PT no Alvorada, o programa de maior exposição
da área social não foi controlado como deveria, imagine-se em outros.
É evidente que há muita margem para economizar recursos nesses gastos.
Com acerto, o ministro do Desenvolvimento Social e Agrário, deputado
Osmar Terra (PMDB-RS), assumiu defendendo um “pente-fino” no Bolsa
Família.
É preciso ir mais à frente, estabelecendo-se o mecanismo do “orçamento
zero”, proposto no documento “Uma ponte para o futuro”, do PMDB. Por
ele, toda despesa precisa ser avaliada a fim de que se faça o Orçamento
seguinte não para atender a cotas fixas de recursos para este ou aquele
setor, mas a partir da avaliação do resultado do gasto feito no
exercício anterior e das necessidades efetivas da área específica.
O princípio do “orçamento zero”, usado na iniciativa privada, é indutor
eficaz da cultura da auditoria constante de despesas e, por tabela, do
combate a fraudes.
É boa coincidência que a revelação desta enorme fraude no Bolsa Família
ocorra no início do governo do presidente interino Michel Temer, cuja
missão prioritária é reequilibrar as contas públicas. E isso se
relaciona com melhoria dos gastos públicos e flexibilização do
Orçamento, engessado por despesas predeterminadas por lei, a antítese de
uma gestão orçamentária de boa qualidade.
extraídaderota2014blogspot
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