Laryssa Borges - Veja
A Polícia Federal deflagrou nesta sexta-feira a 27ª fase da Operação
Lava Jato. Desta vez, o foco das investigações é um empréstimo
fraudulento concedido pelo Banco Schahin, cujos recursos teriam sido
usados para a quitação de dívidas do Partido dos Trabalhadores. Mais do
que apenas o rastreamento do dinheiro, a nova fase, batizada de Carbono
14, traz de volta o fantasma do assassinato do ex-prefeito de Santo
André Celso Daniel (PT).
Foram presos na nova fase o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira e o
empresário Ronan Maria Pinto. O ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o
jornalista Breno Altman foram conduzidos coercitivamente. Silvinho, como
é conhecido, chegou a ser incluído entre os réus do escândalo do
mensalão, mas fez um acordo com a Justiça para realizar serviços à
comunidade e não responder ao processo. Delúbio foi condenado no mesmo
esquema a seis anos e oito meses de prisão por corrupção ativa.
Conforme revelou VEJA em 2012, o publicitário e operador do mensalão
Marcos Valério revelou em depoimento à Procuradoria-Geral da República
que Ronan Maria Pinto, um empresário ligado ao antigo prefeito, estava
chantageando o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, para
não envolver seu nome e o do ex-presidente Lula na morte de Daniel.
Segundo os investigadores da Operação Lava Jato, pelo menos metade do
empréstimo fictício contraído junto ao Banco Schahin acabou desaguando
nos bolsos de Ronan.
As apurações do mega esquema de corrupção na Petrobras indicam que o
empresário e amigo do ex-presidente Lula, José Carlos Bumlai, integrou
um esquema de corrupção envolvendo a contratação da Schahin pela
Petrobras para operação do navio sonda Vitoria 10.000. A transação só
ocorreu após o pagamento de propina a dirigentes da Petrobras e ao PT. A
exemplo do escândalo do mensalão, o pagamento de dinheiro sujo foi
camuflado a partir da simulação de um empréstimo no valor de 12,17
milhões de reais do Banco Schahin, com a contratação indevida da Schahin
pela Petrobras para operar o navio sonda Vitoria 10000 e na simulação
do pagamento do suposto empréstimo com a entrega inexistente de embriões
de gado. Em depoimento, Bumlai admitiu que tomou o empréstimo para
repassar os valores ao PT e detalhou que o dinheiro foi pedido pelo
ex-tesoureiro da sigla Delúbio Soares.
"A fiar-se no depoimento dos colaboradores e do confesso José Carlos
Bumlai, os valores foram pagos a Ronan Maria Pinto por solicitação do
Partido dos Trabalhadores", disse o juiz Sergio Moro no despacho da 27ª
fase.
Agora a Polícia Federal quer entender todos os capítulos dessa história e
cumpre na manhã desta sexta doze mandados para aprofundar a
investigação sobre o esquema de lavagem de capitais de cerca de 6
milhões de reais do empréstimo, considerado crime de gestão fraudulenta
do Banco Schahin. As medidas estão sendo cumpridas em São Paulo,
Carapicuíba, Osasco e Santo André.
A procuradoria afirma que o dinheiro deste empréstimo ao PT acabou
gerando prejuízo para a Petrobras, já que os valores só foram liberados
depois que o Grupo Schahin pagou propina para vencer a concorrência e
ser operadora do navio-sonda Vitória 10.000. Apenas este contrato chegou
a 1,6 bilhão de dólares.
Para a viabilização do esquema de pagamentos do empréstimo forjado ao
PT, o dinheiro saiu de José Carlos Bumlai para o Frigorifico Bertin,
que, por sua vez, repassou cerca de 6 milhões de reais a um empresário
do Rio de Janeiro. Na sequência, ele fez transferências diretas para a
Expresso Nova Santo André, empresa de ônibus controlada por Ronan Maria
Pinto. Outras pessoas físicas e jurídicas indicadas pelo empresário para
recebimento de valores, como o jornal Diário do Grande ABC, também foram usados para camuflar a transação.
Empresário com diversos negócios na região do ABC paulista, Ronan Maria
Pinto é apontado pelo Ministério Público como um dos participantes do
esquema de corrupção instalado em Santo André durante a administração de
Celso Daniel. O nome do empresário, velho conhecido do PT, voltou à
tona com a delação premiada do ex-diretor da Área Internacional da
Petrobras Nestor Cerveró. Ele disse que Bumlai obteve o empréstimo junto
ao Banco Schahin e repassou 6 milhões de reais a Ronan. O nome da nova
fase da Lava Jato, Carbono 14, é uma referência a procedimentos
utilizados para a investigação de fatos antigos. As suspeitas envolvem
crimes de extorsão, falsidade ideológica, fraude, corrupção ativa e
passiva e lavagem de dinheiro.
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