Seis dias no Hotel Ceasar Park, na Praia de Ipanema, foram pagos com recursos públicos do Fundo Partidário, que, por lei, só pode ser usado para custeio de atividades relacionadas à manutenção do partido.
Prestação de contas do PSB em
análise no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostra que o partido pagou
R$ 14,6 mil para seu presidente nacional, o governador de Pernambuco e
pré-candidato à Presidência Eduardo Campos, se hospedar durante o
carnaval de 2012 no Rio, quando assistiu ao desfile das escolas de samba
com a mulher e os filhos. ...
Os seis dias no Hotel Ceasar Park, na Praia de Ipanema, foram pagos com
recursos públicos do Fundo Partidário, que, por lei, só pode ser usado
para custeio de atividades relacionadas à manutenção do partido.
Conforme nota fiscal apresentada pelo PSB no processo, em análise pela
Coordenadoria de Exame de Contas Eleitorais e Partidárias (Coepa), a
hospedagem de 17 a 23 de fevereiro daquele ano foi num apartamento
padrão luxo, de frente para o mar. Durante a temporada, no entanto, o
partido não divulgou nenhuma agenda partidária dele ou de outros
filiados na capital do samba.
O Estado ouviu três dirigentes do partido à época, que, reservadamente,
disseram não ter ocorrido eventos ou reuniões no período do carnaval.
Nos primeiros três dias da hospedagem, o governador não estava no Rio,
mas em Pernambuco. Participou de eventos de carnaval em Recife, Olinda e
Bezerros, como registrou sua agenda oficial, divulgada pelo governo.
No dia 20, após o almoço, embarcou para a capital fluminense, onde
assistiu, com a mulher, Renata, os filhos e uma comitiva de integrantes
de seu governo, ao desfile da Unidos da Tijuca.
A escola homenageava o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, com apoio do governo
pernambucano. Campos ficou no camarote com a mulher, enquanto os filhos
desfilaram. Até a data do check-out, não houve mais agenda oficial pelo
governo. O PSB não registrou nenhum compromisso partidário no Rio,
segundo sua página oficial.
A nota fiscal da hospedagem foi emitida em 14 de março de 2002 pela
Stylus Viagens e Turismo, agência que também atende ao governo de
Pernambuco e recebeu R$ 12,1 milhões de diversos órgãos do Estado desde
2008. O pagamento, dias depois, partiu de conta do PSB no Banco do
Brasil, em Brasília, usada para movimentar os recursos do Fundo
Partidário.
Exclusividade. Conforme a Lei dos Partidos Políticos (9.096/1995), os
recursos deste fundo devem ser aplicados exclusivamente na manutenção
das atividades da legenda, como pagamento de salários, custeio de sedes,
institutos de pesquisa, campanhas e propaganda.
Questionado pelo Estado, o PSB informou, em nota, que a sigla só cobre
despesas relacionadas com seu funcionamento. Contudo, não especificou de
qual atividade partidária o governador participou no carnaval carioca
ou se a presença no desfile é, no seu entendimento, um compromisso dessa
natureza.
Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior
Eleitoral (TSE), o jurista Carlos Velloso diz que a Justiça Eleitoral,
se provocada, deve cobrar explicações sobre a despesa quando confrontada
com situações do tipo. Segundo ele, se entender que houve
irregularidade, cabem sanções como a devolução dos recursos.
"O que se entende por atividade partidária? Convenções, viagens para
reuniões de próceres partidários, tudo aquilo o que diz respeito à vida
do partido. Tem de ter uma agenda", comentou, analisando o caso em
abstrato.
Trata-se, no entanto, de um terreno complexo. O juiz Marlon Reis, do
Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, é favorável a um controle
mais rigoroso sobre esse tipo de despesa. Porém, segundo ele, o
princípio constitucional da autonomia partidária impede que a Justiça
avalie o mérito dos gastos, cabendo se ater apenas a formalidades, como,
por exemplo, se os comprovantes de despesas apresentados são legítimos
ou não.
A prestação de contas do Diretório Nacional PSB, apresentada em abril
de 2013 ao TSE, passará sob o crivo da área técnica da corte, que dará
parecer pela aprovação, reprovação ou aprovação das contas com
ressalvas. Só depois, o processo será julgado. As informações são do
jornal O Estado de S.Paulo.
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