Jornalista Andrade Junior

FLOR “A MAIS BONITA”

NOS JARDINS DA CIDADE.

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CATEDRAL METROPOLITANA DE BRASILIA

CATEDRAL METROPOLITANA NAS CORES VERDE E AMARELO.

NA HORA DO ALMOÇO VALE TUDO

FOTO QUE CAPTUREI DO SABIÁ QUASE PEGANDO UMA ABELHA.

PALÁCIO DO ITAMARATY

FOTO NOTURNA FEITA COM AUXILIO DE UM FILTRO ESTRELA PARA O EFEITO.

POR DO SOL JUNTO AO LAGO SUL

É SEMPRE UM SHOW O POR DO SOL ÀS MARGENS DO LAGO SUL EM BRASÍLIA.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Batendo em mulher

Feira LivreDuas notas de Carlos Brickmann
PUBLICADO NA COLUNA DE CARLOS BRICKMANN
Questão de sexo
Alguns cavalheiros polêmicos visitaram o Brasil ultimamente, como o iraniano Mahmoud Ahmadinejad, o italiano Césare Battisti (que ficou), o pessoal da FIFA. Ninguém criticou o corte de seus cabelos, nem suas roupas, nem seu sex-appeal. Mas, quando se trata de mulher, como no caso de Yoani, os atributos físicos e de moda entram imediatamente em debate. É feia, é reta, tinha de cortar o cabelo, tratar dos dentes, usar roupas diferentes ─ e isso num país onde existe (acreditem! É verdade!) uma secretaria de Políticas para as Mulheres, com status de Ministério, comandada pela ministra Eleonora Menicucci. Que, aliás, mantém-se silenciosa sobre as agressões que uma mulher sofre quando tenta expor suas ideias.
Haverá alguém aqui adepto do ex-primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi? Ele deve ter queixas de vários dirigentes homens de outros países, mas só se soltou ao falar de uma mulher, a primeira-ministra da Alemanha Ocidental, Angela Merkel: “uma bunduda incomível” O curioso é que quem critica os atributos físicos das mulheres nem sempre resistiria a uma análise feminina. Ou alguém acredita que as festas de Berlusconi sejam animadas por meninas fascinadas pela beleza física, vitalidade e glamour de Sua Excelência? E de graça?
Batendo em mulher
A repórter Daniela Lima, da Folha de S. Paulo, foi insultada e agredida a socos e pontapés quando cobria a festa de dez anos de PT no poder. Motivo? Aparentemente, os cafajestes não apreciam o jornal em que a repórter trabalha.
E qual a reação oficial do partido?
Pífia e covarde: o deputado Edinho Silva, presidente estadual do PT, só se manifestou um dia depois, por nota escrita. Nela, afirma que o partido “não compactua com o tumulto” e “repudia a ação exaltada”. A agressão e os xingamentos desaparecem: a nota oficial os ignora, chamando-os de “tumulto”. E o partido dizer que repudia esse tipo de ação também é discutível: quem passa o tempo insultando jornalistas e pedindo censura à imprensa insufla os militantes à ação direta ─ especialmente se puderem agredir uma mulher, alvo preferido de quem é covarde.

Parla, Lula! Parla!



Reynaldo-BH: ‘Parla, Lula! Parla!’

REYNALDO ROCHA
A culpa é de FHC! Lula seria a obra-prima de Fernando Henrique Cardoso? E este uma nova encarnação de Michelangelo?
Lula é o “Moisés” esculpido pelo gênio de Caprese. Conta a história que ao término de Moisés, Michelangelo, impressionado com o que havia realizado, exclamou: PARLA!
Só FHC consegue que Lula fale. O silêncio de quase 100 dias sobre o que exigimos saber é mais uma bofetada na cidadania. Não se trata de segredos de alcovas ou, quem sabe, 50 tons de marrom. Trata-se de perguntas simples que precisam de respostas do mesmo teor.
Rosemary Noronha foi escolhida a partir de quais qualificações? Como assessora internacional,, domina quantos idiomas? É formada em exatamente o quê? Há quanto tempo assessora Lula? Por que tinha passaporte diplomático? Por que acompanhou Lula em viagens ao exterior? Onde se hospedava? Lula autorizou Rose a falar em nome dele? Lula apoiava as tratativas corruptas da amante? Recebia algo por estes favores da dileta assessora? Rose estava autorizada a se apresentar como namorada do co-presidente? Nenhum dos ameaçados pelos pedidos de Rose procurou Lula (ou alguém com acesso ao ex-presidente) para relatar a chantagem ameaçadora? Lula nunca soube dos irmãos Metralhas, cuja indicação bancou, ou da ligação da dupla com Rose? Nunca soube do aumento patrimonial da amante?
Após quase 100 dias, Lula falou! Sobre FHC! É só o que sabe falar.
Um “Móises” que se revolta com o Michelangelo que o criou. A criação se revoltando contra o criador. O mármore que se sabe pedra. Que só tem a forma que tem, pelo gênio que o moldou.
É preciso matar o criador para existir como criatura. Não se trata de mera inveja patológica. Trata-se de sobrevivência. Igualmente doentia.
É sintomático que Lula peça (ou ordene) que FHC se cale. Faz parte do delírio. Que solicita o silêncio do outro para garantir o próprio discurso. Quer que o criador fique mudo para conseguir atenção.
Não se preocupa sequer com a imbecilidade de exigir de terceiro o que se recusa a fazer: calar-se. Mesmo que um alerte e exponha verdades. E a estátua repita mentiras que só visam destruir o motivo da infelicidade existencial que o perturba.
Lula fala. Sobre FHC. E sobre tudo. Exceto quando o “não sabia” é ineficaz. Ou risível.
É tão evidente a obsessão psicótica de Lula em relação ao criador que não se importa com outras críticas: de Eduardo Campos, de Ciro Gomes, da imprensa e de milhões de brasileiros. Estes são desprezados. Não merecem respostas. Porém, em relação a FHC, é imediata a resposta espumando ódio pela baba que escorre da boca.
Se FHC ousar dizer que Lula já não tem barba, será ferozmente atacado em represália. Se o Brasil disser que Lula tem uma amante que foi paga com nosso dinheiro e usou do cargo (e cama) para ser uma corrupta na antessala da presidência, ouviremos o silêncio.
Parla, Lula! Parla!
Quem sabe se FHC perguntar algo sobre Rose ─ o que cobramos há mais de três meses! ─ Lula atenda à ordem do criador. E fale. Mesmo que diga ─ quem sabe? ─ que Rose é uma agente da direita raivosa infiltrada pelos tucanos na cama do Imperador de Garanhuns.
Lula pediu para FHC se calar. O Brasil decente exige que Lula fale.
É uma diferença imensa. Que demonstra o mesmo: o caráter de quem nascendo para ser cópia, jamais conseguirá ser original.
Parla! Sem precisar que seu criador ordene.

O Lincoln de cordão carnavalesco

AUGUSTO NUNES - Direto ao Ponto

O Lincoln de cordão carnavalesco finge que aprendeu a ler para reduzir o estadista americano a uma versão em inglês de Lula

O único doutor honoris causa do mundo que sempre detestou escola e estudo guardou para a festa do 30° aniversário da CUT a notícia tão confiável quanto uma previsão de Guido Mantega. “Estou lendo muito agora”, disse já no começo do palavrório desta quarta-feira. A plateia caiu na gargalhada. O palanque ambulante reiterou que o milagre que se consumara. “Só de livro do Ricardo Kotscho e do Frei Betto já li uns trezentos”, exemplificou. A troca da gargalhada pelo riso respeitoso foi a senha para a viagem pela estratosfera.
“Estava lendo o livro do Lincoln’, decolou, caprichando na pose de quem decorou a Bíblia ainda no berçário. Não disse qual. Mas pelo menos descobriu que houve um Lincoln ─ Abraham ─ que foi presidente dos Estados Unidos. É um avanço e tanto. Até recentemente, Lula achava que Lincoln era marca de cigarro e de automóvel. “Fiquei impressionado como a imprensa batia no Lincoln, em 1860, igualzinho bate em mim”, comparou-se o Exterminador do Plural ao vencedor da Guerra da Secessão. No Brasil da Era da Mediocridade, não há limites para a bazófia. A lira do delírio encaixa qualquer partitura.
O posseiro do Planalto e o antigo inquilino da Casa Branca só não são idênticos porque o Lincoln de cordão carnavalesco é favorecido pelo aparecimento de armas inexistentes nos tempos da versão de Lula em inglês. “O coitado não tinha computador”, descobriu. “Sabe o que ele fazia para saber de notícias? Ia para o telex, para o telégrafo, ficar numa sala esperando”.
O telex instalado por Lula na Casa Branca permitiu que Lincoln usasse em 1860 um aparelho ínventado em 1930. “Nós aqui poderemos xingar um ao outro em tempo real”, completou o animador de comício. Em sete anos e meio ele produziu 19 palavras manuscritas. Mas faz de conta que aprendeu a disparar desaforos pela internet.
De 2003 para cá, o ex-presidente repetiu em incontáveis palavrórios que é o Getúlio Vargas do século 21. A comparação só faria algum sentido se o novo Pai dos Pobres reprisasse o tiro no coração. De qualquer forma, um Getúlio agora lhe parece pouco. O maior dos governantes desde Tomé de Souza é páreo para o estadista que impediu a fragmentação dos EUA e acabou com a escravidão. Mas não tem chance alguma de morrer como o colega ianque.
Lincoln foi assassinado enquanto assistia a uma peça teatral. Lula nem sabe o que é isso. Jamais foi visto na plateia do gênero. E nunca será. Quem acha leitura pior que exercício em esteira decerto acha teatro mais detestável que três maratonas. Uma atrás da outra.

Como Abraham Lincoln

Como Abraham Lincoln
Por Silvia Amorim
 O Globo -
 Lula se compara ao ex-presidente dos Estados Unidos por considerar que, como o republicano em 1860, sofre críticas incessantes da imprensa, "que não gosta de gente progressista"  Ataques à mídia. Lula: "Quantas vezes vocês fazem passeata em Brasília e não aparece? Se for contra o governo, aí vai aparecer na televisão""modéstia" Na festa de comemoração dos 30 anos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), ontem, em São Paulo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que seus adversários políticos se sentem incomodados com o sucesso alcançado por ele. Lula dedicou parte do pronunciamento a críticas à imprensa e se comparou ao ex-presidente dos Estados Unidos Abraham Lincoln. 

- Nós sabemos o time que temos, sabemos o time dos adversários e sabemos o que eles estão querendo fazer conosco. Acho que a bronca que eles tinham de mim era o meu sucesso, e agora é o sucesso da Dilma. Eles não admitem que uma mulher que veio de onde ela veio dê certo porque a onda pega. Daqui a pouco qualquer um de vocês vai querer ser presidente da República - disse Lula aos sindicalistas.

  Um dos fundadores da CUT, o ex-presidente orientou a atual diretoria da entidade a se organizar para obter maior visibilidade na imprensa. Nesse momento, Lula fez diversas criticas à mídia, mas sem mencionar especificamente veículos de comunicação.

- Essa gente nunca quis que eu ganhasse as eleições. Nunca quis que a Dilma ganhasse as eleições. Aliás, essa gente não gosta de gente progressista. Estes dias eu estava lendo - eu ando lendo muito agora, viu, Gilberto (Carvalho, ministro da Secretaria Geral da Presidência)? - o livro do Lincoln e fiquei impressionado como a imprensa batia no Lincoln em 1860. Igualzinho bate em mim. E o coitado não tinha computador. Ele ia para o telégrafo e ficava esperando. Nós aqui podemos xingar o outro em tempo real. Quantos já estão tuitando aí? Eu estou naquela idade de parar de reclamar que aqueles que não gostam de mim não me dão espaço - disse Lula no evento, que contou com a presença do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, um dos condenados no processo do mensalão.
  
O ex-presidente afirmou que não é preciso pedir favor a jornais.
  
- Nós temos uma arma poderosa totalmente desorganizada, e a gente não tem que ficar chorando porque não saiu no jornal tal. Não tem problema, a gente não tem que pedir favor. Pegue o espaço que temos e faça com que ele seja bem utilizado. Este país teve formadores de opinião pública que eram contra as Diretas Já. Só foram para a rua quando tinha 300 mil pessoas na Praça da Sé. Essa gente não era contra a derrubada do Collor. Só foram para a rua quando a gente já estava na rua - completou o ex-presidente.
  
Para Lula, a imprensa somente noticia quando o assunto é ruim para o governo:
  
- Quantas vezes vocês fazem passeata em Brasília e não aparece (na mídia)? Se for contra o governo, aí vai aparecer na televisão e, se alguém xingar o governo, vai aparecer mais ainda (...) Nunca disseram que o presidente da CUT era formador de opinião, e nós mudamos esse conceito.
  
Em reação à declaração de Lula de que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deveria ficar "quieto" em vez de criticar a gestão do PT, o PSDB paulista divulgou nota ontem em que chamou o petista de "patrão de mensaleiros".

  "Da histeria nada contida de Lula, uma coisa é verdadeira, Dilma e os petistas de plantão no Planalto precisam mesmo da ajuda de FHC, pois até agora, dez anos depois de chegar ao poder, não sabem o que fazer, nem como", diz a carta, que destaca realizações do governo FH, como a conquista da estabilidade econômica, a reforma da Previdência e a Lei de Responsabilidade Fiscal 
 

Revanchismo

A família Teles
. Essa senhora revanchista, Maria Amélia Teles, faz parte da Comissão nacional da Verdade, que segundo consta na lei  que a criou, não poderia ter membros emocionamente  envolvidos com a "causa".


Fonte: A Verdade Sufocada - - do Cel Carlos Alberto Brihante Ustra   

Como acontece em todos os movimentos onde os comunistas são derrotados, eles iniciam a sua volta lutando pela anistia, que, uma vez conquistada, lhes permite viver usando as liberdades democráticas que queriam destruir. Posteriormente, começam uma virulenta campanha para denegrir os que os combateram, posam de vítimas e de heróis e fazem da mentira e da calúnia o seu discurso. Não descansam enquanto não conseguem, por revanchismo, colocar na prisão aqueles que os combateram e derrotaram. Para isso, mudam as leis e até a própria constituição, o que é feito com a corrupção do Legislativo e com o apoio de simpatizantes, escolhidos a dedo, para as mais altas funções
É preciso continuar a doutrinação da população, e março que se aproxima, é o auge. Matérias requentadas, como  "Dor acompanha filhos de presos torturados", de Thiago Herdy  , publicada no Globo de 24/02/2013, pipocam em toda mídia.

Já que eles batem e rebatem na mesma tecla, vamos, novamente  transcrever os acontecimentos do caso Janaína e Edson Luis Teles e novamente o despacho que o Juiz deu sobre o caso.
Ao final de dezembro de 1972 o DOI de São Paulo estava preocupado com o trânsito de guerrilheiros que, da capital paulista, eram encaminhados para a área de guerrilha do Araguaia, onde pretendiam estabelecer uma área liberada, semelhante a ocupada, até os dias de hoje, na Colômbia, pelas FARC.

Durante essas investigações a gráfica clandestina do PCdoB foi localizada e estourada”. Os responsáveis por esse “aparelho de imprensa” eram Maria Amélia Teles e seu marido César Augusto Teles. Na ocasião, estavam com eles os dois filhos do casal - Janaína, de 5 anos, e Edson Luis, de 4 anos.
Era contato freqüente do casal, Carlos Nicolau Danielli, membro do Comitê Central do PCdoB, que fizera curso de Guerrilha em Cuba e tinha estreitas ligações com o casal e, principalmente, com Maria Amélia. Toda a matéria que a imprensa clandestina do Partido publicava tinha que ter sua aprovação.

No aparelho, homiziada, encontrava-se Criméia Schimidt de Almeida, irmã de Maria Amélia, que na ocasião se fazia passar por babá das crianças. Criméia era militante do PCdoB e integrava o “Destacamento A” na Guerrilha do Araguaia.
Quando a gráfica foi “estourada” Maria Amélia, César Augusto e Criméia foram presos. As crianças, como não poderiam continuar no local sozinhas, foram encaminhadas ao DOI pela equipe. As máquinas de impressão e as armas foram apreendidas.

Ao chegarem, entrevistei o casal e lhes disse que as crianças não poderiam permanecer naquele local. Perguntei se tinham algum parente em São Paulo que pudesse se responsabilizar por elas. Responderam que as crianças tinham tios em  Belo Horizonte/MG.  Pedi o telefone deles para avisá-los do que acontecia e indagar se poderiam vir a São Paulo para receberem os dois filhos do casal. Feito o contato, esses familiares pediram alguns dias de prazo para viajar à capital paulista. Decidi que, enquanto aguardávamos a chegada dos tios, as crianças permaneceriam sob o cuidado do Juizado de Menores.
Nesse momento, Maria Amélia e César Augusto pediram para que seus filhos não fossem para o Juizado. Uma policial militar, que assistia ao diálogo, se ofereceu para ficar com Janaína e Edson Luis até a chegada de seus tios, desde que os pais concordassem com o oferecimento, o que foi aceito na hora pelo casal.

Movido mais pelo coração do que pela razão, achei que essa era a melhor solução. As crianças foram levadas para a casa da agente e para que não sentissem a falta dos pais, diariamente, eram conduzidas ao DOI para ficar algum tempo, aproximadamente duas horas, com eles. Isso se repetiu até a vinda dos parentes. Quando chegaram, Janaína e Edson Luis foram entregues aos seus tios, na presença dos pais.

No 7º mês de gravidez Criméia foi presa, em 28/12/1972, pelo DOI/CODI/IIEx, onde permaneceu por 24 dias, até ser encaminhada para Brasília,
que era a área encarregada de combater a Guerrilha do Araguaia.
Seu filho, João Carlos Schimidt de Almeida Grabois, atualmente com 36 anos, nasceu no Hospital do Exército de Brasília, em 13/02/1973. Em 2005 foi indenizado porque estava no útero de sua mãe quando ela foi presa, segundo consta na sentença.

O tempo passou e em 1985, Maria Amélia declarou aos organizadores do livro Brasil Nunca Mais, o seguinte:
“Na tarde desse dia (28 de dezembro de 1972), por volta das 7 horas, foram trazidos, seqüestrados, também para a OBAN, meus dois filhos, Janaína de Almeida Teles, de 5 anos, e Edson Luiz de Almeida Teles, de 4 anos, quando fomos mostrados com as vestes rasgadas, sujos, pálidos, cobertos de hematomas. Sofremos ameaças por algumas horas de que nossos filhos seriam molestados.”Em 31/01/1997, segundo depoimento de Janaína à Rose Spina, em matéria sob o título Memória: Filhos da Resistência, publicado no Portal da Fundação Perseu Abramo consta:Posteriormente foram levados, no mesmo Opala azul, para Belo Horizonte, onde vivia boa parte da família, pessoas que estavam longe de aprovar a opção feita por César e Amelinha. Os dois irmãos ficaram aos cuidados de uma tia e de seu marido, um delegado de polícia com relações com o DOPS.Janaína assim se refere aos tios que, a pedido de seus pais, foram a São Paulo apanhá-la, junto com seu irmão, e os acolheram em sua casa.“ Esse infeliz disse que meus pais tinham me abandonado e minha tia me fez sua empregada, me fazia dar mamadeira para meus primos, de 3, 4 e 6 anos, praticamente de minha idade”.Em depoimento de Maria Amélia, publicado no site http://emilianojose.com.br ela assim se refere a esses mesmos tios:“Ficaram na casa de uma policial por um dia e depois foram mandados pra casa de um outro policial parente do pai das crianças.
Ali as crianças sofreram toda a sorte de privações e humilhações.Eram insultadas por serem filhos de “comunistas”, etc. Qualquer desobediência, por parte das crianças, diziam que eram assim porque tinham sido doutrinados pelos pais”

Em 30/10/2005 o jornal “O Globo”, em matéria assinada pelo jornalista Evandro Éboli, publicou:
“Crianças e adolescentes filhos de comunistas também sofreram privações, foram presos, perseguidos, torturados, exilados e eram obrigados, como seus pais, a trocar de identidade para fugir do cerco dos militares. A história dos anos da ditadura mantém quase oculto o que se passou com eles. Mas não era incomum os militares prenderem crianças junto com os pais. Os filhos eram usados durante as sessões de tortura e obrigados assistir essas atrocidades. Era o meio de arrancar confissões dos comunistas”.“Presa pela Operação Bandeirante (Oban) em dezembro de 1972, em São Paulo, a militante do Partido Comunista Maria Amélia Almeida Teles viu seus dois filhos serem levados também pelos militares. Janaína, com 4 anos, e Edson Luiz, com 5 anos, foram parar numa casa cercada de militares, onde ficaram trancados num quarto. Com freqüência, eram levados à cela da mãe para vê-la torturada, no DOI-CODI. Janaína se lembra que os militares diziam que seus pais os abandonaram e que não iriam voltar para buscá-los”.
“Janaína, 5 anos, e Edson Luiz, 4 anos, ficaram presos por 15 dias. Eram levados ao Departamento de Ordem Política e Social
(Dops) para ver as marcas de torturas na mãe.”
No programa “Fantástico”, da Rede Globo de TV, de 15/10/2006, Criméia afirmou que
mesmo grávida não foi poupada. Em Brasília ficou 20 horas em trabalho de parto, na cela, sem qualquer ajuda, até que seu filho nasceu no Hospital do Exército.Nos primeiros dias do mês de abril de 2006, quando a primeira edição deste livro já estava pronta, recebi do Exmo Sr. Dr Juiz de Direito da 23ª
Vara Cível do Foro de São Paulo uma Ação Declaratória, movida por César Augusto Teles, sua esposa Maria Amélia Teles, seus filhos Janaína e Edson Luis de Almeida Teles e sua cunhada Criméia Schmidt de Almeida.
As 46 páginas da Ação Declaratória de ocorrência de danos morais tinham a finalidade de declarar que eu (RÉU), como Comandante do DOI/CODI/II Exército, agi com dolo e cometi ato ilícito passível de reparação, causei danos morais e danos materiais à integridade física dos AUTORES, incluindo seus dois filhos. Estava sendo acusado dos crimes de tortura, seqüestro, cárcere privado dessas crianças e de tortura de seus pais e de sua tia Criméia.
Estou usando a mesma técnica deles:a  repetição
Vejam o despacho do Juiz Gustavo Santini Teodoro sobre o  processo onde o coronel  Ustra é acusado
por Maria Amélia de sequestro, cárcere privado e tortura de seus filhos Edson e Janaína.
" 2.4. Entretanto, a prova testemunhal ficou muito vaga quanto aos autores Janaina de Almeida Teles e Edson Luis de Almeida Teles, então menores de idade, filhos dos autores César Augusto e Maria Amélia. Realmente, as testemunhas não viram Janaina e Edson na prisão. Ninguém soube esclarecer se os então menores realmente viram os pais com as lesões resultantes das torturas. Nada indica que eles teriam recebido ameaças de tortura, ou sido usados como instrumento de tortura de seus pais. Mesmo o relato do réu em seu livro “Rompendo o Silêncio” não corresponde a uma confissão (fls. 17), pois, ainda que por dedução e indução facilmente se possam identificar os nomes das crianças mencionadas na narrativa, não há reconhecimento da prática de tortura contra elas, ou da utilização dos infantes como instrumento de tortura de seus pais. JULGO IMPROCEDENTE o pedido formulado pelos autores Janaina de Almeida Teles e Edson Luis de Almeida Teles, os quais, porque sucumbentes, arcarão com custas, despesas processuais e honorários dos advogados do réu, fixados estes, de acordo com a norma já invocada, em dez mil reais, com atualização monetária pela tabela prática a partir desta sentença. P.R.I. São Paulo, 7 de outubro de 2008. GUSTAVO SANTINI TEODORO Juiz de Direito "
Amanhã abordaremos o caso de  Antonio Raymundo Lucena, que a filha diz que foi morto por um policial que colocou  a arma na cabeça de seu pai e atirou.

PRELÚDIO DE UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA

“A Instituição será maculada, violentada e conspurcada diante da leniência  de todos aqueles que não pensam, não questionam, não se importam, não se manifestam”Gen Marco Antonio Felicio da Silva
O Sr, Claudio Fonteles, ex-procurador da República e até alguns dias atrás coordenador da “Comissão da Verdade”(CV), designada por muitos como a “Comissão da Mentira”, foi entrevistado pelo “O Globo”, no dia 17/02 deste ano em curso, durante a qual mostrou que, passados muitos anos, não se desvencilhou de seu viés cristão-marxista, adquirido, na década de 60, enquanto militava em organização subversiva, oriunda da juventude universitária católica, denominada  Ação Popular (AP).
Das mais atuantes entre todas as organizações subversivas, já em 1963, antes de 31 de março de 64, a AP realiza aliança com o PCB, atuando no meio rural.


Em 1965, dominando a UNE e o movimento estudantil, tendo como aliado o PC do B, então em oposição ao PCB, prega um “socialismo com humanismo” e define o caminho da revolução como o da luta armada, segundo a concepção cubana foquista e passa a receber apoio financeiro de Cuba. Pratica toda sorte de agitação e propaganda comunista e violências como assassinatos, roubos e atos terroristas.
Como vemos, todos aqueles que militavam na AP não lutavam por uma democracia, mas pela ditadura do proletariado, a mesma que matou milhões de seres humanos nos países que caíram sob o jugo comunista.
Sou obrigado a repetir, para bem enfatizar, que os integrantes da “Comissão”, bem como o Sr Fonteles, violam a lei que a criou a CV por não satisfazer o seu artigo 2º , aquele que estabelece as credenciais básicas para os seus componentes, entre elas a isenção política, a defesa da verdadeira democracia e dos direitos humanos.
Consultando o Blog, do dia 17 de fevereiro de 2003, do Sr. Fonteles, deita ele a já conhecida verborragia enganadora, pinçando palavras fora do contexto geral, afirmando: 
“Não há dois lados, na verdade não há lado algum, mas uma única realidade, normativamente caracterizada. Com efeito, como está mesmo na Exposição de Motivos que fundamentou a Lei nº 12.528/2011, que criou a Comissão Nacional da Verdade, com a Lei nº 9.140/1995, ficou assentado que o Estado brasileiro, por seus agentes públicos, cometeu graves violações em detrimento da pessoa.” Repetinto o que já disse, a violação da lei torna-se nítida quando o Sr. Gilson Dipp e um de seus auxiliares, o advogado José Carlos Dias, ao assumirem os respectivos cargos, afirmaram, publicamente, que caberia à “Comissão da Verdade” ouvir e investigar os dois lados, agentes do Estado e guerrilheiros e terroristas subversivos, que cometeram supostamente os crimes capitulados na lei que a criou. Entretanto, acovardados, no dia 12 de Junho de 2012, à página 11, do Jornal O Globo, o Sr. Gilson Dipp afirmou que “o caráter da Comissão da Verdade será o de apurar os crimes cometidos pelo Estado e não os dois lados do conflito durante o regime militar: - Quais os dois lados? Vamos procurar as graves violações aos direitos humanos. Quem comete graves violações? A lei diz isso (que se trata de violações do Estado)”. O Sr, José Carlos Dias o acompanhou nas afirmações acima.
Ora! A lei se refere apenas às graves violações dos direitos humanos, sem particularizar os agentes do estado como os únicos passíveis de investigação. Diz a lei em seu artigo primeiro:
 “ Art. 1º - Fica criada, no âmbito da Casa Civil da Presidência da República, a Comissão Nacional da Verdade, com a finalidade de examinar e esclarecer as graves violações de direitos humanos praticadas no período fixado no art. 8º do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a fim de efetivar o direito à memória e à verdade histórica e promover a reconciliação nacional.”
Aliás, repito, mais uma vez, o tema já havia provocado dura discussão entre o ex- ministro da Defesa e ex-Presidente do STF,  Nelson Jobim, com o ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi. O ex-ministro Jobim não aceitava e recriminava a possibilidade de a dita “Comissão” investigar apenas os crimes cometidos por Agentes do Estado ( militares) e ameaçou pedir demissão do cargo se o seu ponto de vista não fosse o acordado, o que finalmente ficou assentado com o apoio dos atuais comandantes militares os quais, hoje, repito e enfatizo, não fazem qualquer objeção à deformada e ilegal leitura da lei.
Há que enfatizar que metade dos crimes da chamada esquerda não tem autoria definida, sendo que a lista respectiva foi encaminhada aos membros da “Comissão da Verdade” para apuração de violações contra direitos humanos.  Isso representa um universo de cerca de mais de meia centena de crimes cujos autores não foram identificados até hoje.  Dentro da lista dos crimes da chamada esquerda, cujos assassinos até hoje não foram identificados, estão atentados à bomba, assaltos a estabelecimentos comerciais e mortes originárias de tiroteios ou troca de tiros com militares e/ou policiais.
A ilegalidade se torna, ainda, maior quando a “Comissão da Verdade” resolve “legalizar” sua decisão de realizar investigações somente de agentes públicos e de excluir das apurações os crimes cometidos pelos subversivos, por meio de uma medida administrativa, publicada sob a forma de “Resolução”, no Diário Oficial da União, referendando o acordo informal dos integrantes da “Comissão”, os quais passam, agora, a se concentrar em "agentes públicos, pessoas a seu serviço, com apoio ou no interesse do Estado", considerando que os opositores ao regime já haviam sido, anteriormente, punidos pelo próprio Estado, o que, como já vimos, é uma deslavada mentira.
 Fonteles, violando a lei da CV, mais uma vez, reiterou que todos os militares "convocados" à comparecer à comissão são obrigados a dar o seu depoimento. 
"Se ela (a pessoa) não quiser depor, ela responde ao crime de desobediência. E se ela não quiser ir depor, ela pode ser conduzida coercitivamente. Não com violência, mas alguém a pegar pelo braço e a levar lá". A lei é clara, pois, em seu Art 4º, incisoVIII, parágrafo 4º diz: “As atividades da Comissão Nacional da Verdade não terão caráter jurisdicional ou persecutório.” Assim, nenhum militar será obrigado a comparecer e a depor em tal CV, muito menos arrastado pelo braço.
Desafio o Sr Fonteles a obrigar qualquer militar, oficial ou não, a comparecer à CV e a depor contra vontade. Ainda mais, coercitivamente, arrastado pelo braço.
Poderá ser o prelúdio de uma tragédia anunciada!
     
 

Lula é mesmo o nosso Lincoln?

REINALDO AZEVEDO

Lula é mesmo o nosso Lincoln? Ou: A safadeza e a sem-vergonhice como atos heroicos

Luiz Inácio Lula da Silva, quem diria?, recorreu a Lincoln para justificar as safadezas e a sem-vergonhice do mensalão. O que há de mais interessante nisso? Trata-se, pela primeira vez, de uma confissão, ainda que feita de alusões e silêncios. Vamos lá.
O Apedeuta compareceu nesta quarta a um evento em comemoração aos 30 anos da CUT. E, como é de seu feitio, jogou palavras no ventilador. O homem que já se comparou a Jesus Cristo — a parte da cruz, é evidente, ele dispensa porque até greve de fome ele furava chupando escondido balas Juquinha — anda com inveja da notoriedade que Lincoln voltou a adquirir nos últimos tempos… Que coisa! Quando Barack Obama foi eleito presidente dos EUA, em 2008, o Babalorixá de Banânia torceu o nariz. Não viu nada de especial naquilo, não. Grande coisa um negro na Casa Branca! Ele queria era ver um operário sentar naquela cadeira. Não sei se vocês entenderam a sutileza do pensamento…
No discurso que fez no aniversário da central sindical que responde hoje por boa parte do que há de mais atrasado no Brasil em matéria de corporativismo, que infelicita a vida de milhões de brasileiros, abusando daquele estilo informal que alça a tolice à condição de categoria de pensamento, Lula afirmou:
“Nós sabemos o time que temos, sabemos o time dos adversários e sabemos o que eles estão querendo fazer conosco. Acho que a bronca que eles tinham de mim é o meu sucesso e agora é o sucesso da Dilma. Eles não admitem que uma mulher que veio de onde ela veio dê certo porque a onda pega. Daqui a pouco, qualquer um de vocês vai querer ser presidente da República. Essa gente nunca quis que eu ganhasse as eleições. Nunca quis que a Dilma ganhasse as eleições. Aliás, essa gente não gosta de gente progressista. Esses dias eu estava lendo, eu ando lendo muito agora, viu, Gilberto [referia-se a Gilberto Carvalho], o livro do Lincoln e fiquei impressionado como a imprensa batia no Lincoln em 1860. Igualzinho bate em mim. E o coitado não tinha computador. Ele ia para o telégrafo, esperando tic tic tic. Nós aqui podemos xingar o outro em tempo real. (…)”
Lula já declarou que detesta ler. Não conseguiu enfrentar sem dormir, segundo confessou, um romance curtinho de Chico Buarque. Faz sentido. Terá encarado a pedreira de “Lincoln”? Talvez tenha assistido ao filme de Steven Spielberg, de uma chatice que chega a ser comovente!!!, e olhem lá… O vocabulário a que recorreu me faz supor que andou mesmo é lendo briefing de assessoria. Há anos, muitos anos mesmo!, divirto-me identificando dedicação metódica nas bobagens que diz. Em muitos aspectos, Lula é a personagem mais “fake” da política brasileira. Todas as coisas estúpidas que solta ao vento nascem de um cálculo.
A facilidade com que as asneiras vão brotando de sua boca faz supor uma personagem algo ingênua, que conserva a autenticidade popular e o frescor natural do povo. Huuummm… Isso pode agradar a alguns subintelectuais do Complexo PUCUSP, que sonham com esse misto de torneiro mecânico e Tirano de Siracusa, uma coisa assim de “rei filósofo que veio da graxa”… Trata-se de uma fantasia! Lula é chefe de uma máquina que se apoderou do estado brasileiro — e parte considerável dessa máquina, a sua ala, digamos, heavy metal, é justamente a CUT. Ali se concentra, reitero, boa parte do atraso brasileiro. Mas retomo o fio.
O vocabulário a que Lula recorreu é coisa de assessoria mesmo, de briefing. Dinheiro não falta a seu instituto para contratar sabidos. O livro “Lincoln” a que ele se refere, base do filme de Spielberg, certamente é a biografia escrita por Doris Kearns Goodwin, cujo título em inglês é “Team of Rivals: The political Genius of Abraham Lincoln”. Agora voltemos lá à sua fala. O “team” do presidente americano era uma “equipe”, mas Lula preferiu a outra acepção, que também serve para uma disputa futebolística, jogo metafórico em que ele é mesmo imbatível. No fim das contas, faz tudo parecer uma pelada. Vejam lá: ele diz saber o que os adversários querem fazer com “eles”, os petistas… Muito provavelmente, querem ganhar o “jogo”, também entendido, em sua monomania metafórica, por “eleição”. O nosso “Lincoln” de Garanhuns transforma a pretensão legítima dos adversários numa espécie de conspiração e ato criminoso. Não por acaso, no dia anterior, recomendou a FHC que, “no mínimo”, ficasse quieto e colaborasse para que Dilma fizesse um bom governo. O nosso grande patriarca criminaliza a ação política de seus oponentes. Ela se confunde com sabotagem.
No discurso, também sobraram críticas à imprensa, como de hábito. Embora os petistas deem hoje as cartas em boa parte das redações do país — quando não estão no comando, compõem o caldo de cultura que transforma bandidos em heróis e, se preciso, heróis em bandidos —, o nosso o Lincoln de São Bernardo ainda não está contente com a sujeição. Quer mais. Enquanto restar um texto independente no país, ele continuará a vociferar contra a “mídia”. Adicionalmente, os petistas contam ainda com a súcia financiada por estatais que faz seu trabalho criminoso passar por jornalismo. Vamos ao ponto.
Assumindo o mensalão
O Babalorixá de Banânia comparou-se a Lincoln —  a exemplo do que se deu com Cristo, ele também dispensa a parte sacrificial… — no suposto tratamento que a imprensa dispensaria a ambos. Besteira! Parte da imprensa americana apoiava Lincoln, parte não. A geografia da guerra civil, é evidente, pautava em boa medida críticas e elogios. Uma coisa é certa: jamais ocorreu ao presidente americano tentar censurá-la, como fez Lula no Brasil mais de uma vez. Até porque não conseguiria. Estava empenhado na aprovação da 13ª Emenda, a que proíbe a escravidão nos EUA, mas subordinado à Primeira Emenda, a que impede a censura do Estado. O Congresso não pode nem mesmo legislar a respeito de limites à liberdade de expressão.
A alusão a Lincoln, de fato, remete a outra coisa, bem mais dolosa do ponto de vista intelectual, ético, moral, político e histórico. A relação de Lula e dos petistas com o mensalão passou por diversas fases. Houve a primeira, a da admissão do erro, com pedido de desculpas. Durou pouco. Veio em seguida a acusação de “golpe das elites”, forjada por um oximoro reluzente: “intelectuais petistas”. Depois, chegou a da negação: “O mensalão nunca existiu”. E agora estamos diante da quarta, e é neste ponto que Lula decidiu pegar carona na vida de Lincoln: os crimes dos mensaleiros teriam sido atos heroicos.
Como assim?
O republicano Lincoln, e o filme dá grande destaque a essa passagem, retardou o fim da guerra civil para poder aprovar a 13ª emenda, que proibiu a escravidão no país, e, sim, literalmente comprou o apoio de alguns democratas, especialmente de congressistas que não tinham sido reeleitos. A moeda principal foram cargos no governo federal, mas também houve dinheiro. Eis aí: é precisamente nesse ponto que Lula pretende, no que me parece uma forma de confissão, colar a sua biografia à do presidente americano.
Eis um debate interessante, que remete a fundamentos da moral individual e da ética pública: a transgressão de um princípio para pôr fim a uma ignomínia, como a escravidão, é aceitável? Ao comprar o voto daqueles parlamentares com um propósito específico, de que outros males — imaginem aí — Lincoln estava livrando os EUA? No mínimo, pode-se supor que o fim do conflito poria termo apenas ao primeiro ciclo da guerra civil, porque outro estaria sendo contratado. Um fundamento ético ou moral, que é sempre abstrato, revela a sua força quando aplicado. Vamos ao exemplo mais elementar: todos sabemos que é errado matar como princípio geral, mas nem por isso cabe hesitação quando há apenas duas alternativas: matar ou morrer. Se não matar vira sinônimo de morrer, matar, então, é a única alternativa de que dispõe a vida. Nesse caso, anula-se a diferença moral entre não matar e matar. É por isso que a ética da guerra — e ela existe —, por mais que pareça funesta (e, em certa medida, é mesmo), modula os modos da morte.
A política não é, e nunca foi, um exercício de santos. Com frequência, governantes os mais virtuosos tiveram de recorrer a expedientes que nem sempre foram de seu agrado para realizar tarefas necessárias que, de outra sorte, não se realizariam. No mundo da ética e da moral aplicadas, muitas vezes somos obrigados — e o governante mais do que do que qualquer um de nós — a escolher o mal menor porque o nosso princípio abstrato já não encontra lugar na realidade corrompida. Apelando a uma dicotomia conhecida, de Max Weber, nem sempre a ética da responsabilidade, que é a do homem público, atende a todas as exigências da ética da convicção, que é a do indivíduo.
Voltemos a Lula. Por que mesmo o seu partido fez o mensalão? Com que propósito? Se o ato de Lincoln não era, em si (e não era!), um exemplo de pureza e não poderia, pois, aspirar à condição de uma norma abstrata (“compre parlamentares sempre que precisar”), seu desdobramento prático livrou os EUA de diabólicos azares — além, evidentemente, de conferir mais dignidade a milhões de pessoas submetidas à ignomínia da escravidão. O peculatário que enfiou a mão em quase R$ 80 milhões do Banco do Brasil pretendia o que mesmo? Aquela súcia de vagabundos que roubou dinheiro público estava a serviço de que causa?
Lincoln tinha em mente um país, e não foi sem grande sofrimento pessoal — até o sacrifício final — que levou adiante o seu intento. Estava, efetivamente, consolidando uma república federativa. O mensalão, ao contrário, os fatos falam de forma eloquente, foi uma tentativa de golpear as instituições e de transformar a compra de votos numa rotina. Estava em curso a formação de um Congresso paralelo e de uma República das sombras.
Não deixa de ser interessante que Lula tenha feito esse discurso asqueroso na CUT. Não se esqueçam de que, nas lambanças do mensalão, ficamos sabendo que a turma queria usar a central sindical para criar um… banco dos companheiros! Eis o nosso Lincoln! Aquele atuou para pôr fim à vergonha da escravidão. O nosso, para criar um modelo que eternizasse o seu partido no poder.
Lula deveria, no mínimo, ficar de boca fechada.
Por Reinaldo Azevedo

O suicídio do poder americano

Os Estados Unidos teriam muito mais dinheiro para se defender se a sobrevivência nacional importasse mais que ideais abstratos.

Com cortes automáticos despontando no horizonte, as forças armadas dos Estados Unidos estão fadadas a sentirem dificuldades. Na última sexta-feira, o Washington Times noticiou a declaração do General da Força Aérea Mark Welsh dizendo que um corte em larga escala nas horas de voo começará no dia 1 de maio. De acordo com um assessor parlamentar citado no artigo, mesmo que o financiamento normal fosse retomado até julho, apenas cerca de 40 a 50% das aeronaves de combate americanas estariam nas “condições de atender os requerimentos desejados para os tempos de guerra”.
Enquanto a Rússia e a China reservam ouro e mão-de-obra a fim de minar o dólar, e enquanto os EUA continuam a sangrar financeiramente, o verdadeiro perdedor será a segurança nacional. Evidentemente a segurança nacional dos EUA tem altos custos. É dito que o Pentágono é o maior dos programas de bem-estar e, além disso, há a excessiva corrupção e o desperdício intricados no Departamento de Defesa. Mas seja como for, o sistema está à beira da falência e os cortes orçamentários na área militar ocorrerão em detrimento do poderio americano.
Como muitos leitores devem saber, os EUA têm participado de conflitos estrangeiros que também incluíram escandalosas quantias nos esforços para reconstruir o Iraque e o Afeganistão. O governo federal derramou de seu próprio tesouro para assegurar as bênçãos da liberdade para povos que provavelmente nos odeiam. E, como o sangue e o tesouro americanos já foram usados até o esgotamento, o retorno para casa será acompanhado da inevitável consequência de que tanto o Iraque quanto o Afeganistão voltarão a ser o que eram antes, ou seja, sociedades regidas pelo conflito e pela lei do mais bruto, de modo que os inimigos da América voltarão ao poder.
A América não tem sido sábia na sua política externa. Como escreveu James Burnham em Suicide of the West,
“muito raramente a política externa dos Estados Unidos tem sido direcionada de modo consciente para grandes objetivos estratégicos de longo prazo”. Ao contrário, a política externa dos EUA sempre tem sido “um amálgama de ideais morais abstratos com interesses materiais que, em muitos casos, não têm nenhuma conexão inteligível com esses mesmos ideais abstratos”.
Burnham observou logo em seguida que é

“essa dupla face da política externa americana que tem irritado tanto os europeus, que frequentemente – e erroneamente – levam em conta apenas os interesses materiais [...] como sendo a única parte genuína do amálgama, de modo que eles veem os ideais apenas como um retoque de cinismo hipócrita”.
As aventuras americanas em terras iraquianas e afegãs no século XXI ilustram essa observação quase cinco décadas após terem sido escritas. Corriqueiramente a América sacrifica o bom-senso financeiro nos altares da “democracia”, da “lei internacional” ou da “paz”. Esse retoque hipócrita de ideais abstratos não é hipocrisia de maneira alguma. Antes fosse! São esses mesmos ideais abstratos que estão quebrando a banca – aqui e lá fora. Grandes interesses estratégicos são regularmente sacrificados em favor de partidos e movimentos de “inclinação e slogans liberais” [N.T.: “liberal” na acepção americana do termo, ou seja, de esquerda]. Considere, por exemplo, a “Primavera Árabe”, que atualmente veste a máscara liberal. Tudo é pago pela América a fim de beneficiar potenciais inimigos islâmicos cujos interesses materiais e estratégicos são antiéticos do ponto de vista americano.
Os Estados Unidos teriam muito mais dinheiro para se defender se a sobrevivência nacional importasse mais que ideais abstratos. Lamentavelmente, nosso prevalecente idealismo requer o empobrecimento e a destruição da América – assim como forçará a destruição das classes proprietárias. E, quanto mais somos idealistas, mais nossas políticas serão necessariamente suicidas. Na verdade, jamais deveríamos considerar as consequências de longo prazo da generosidade às pessoas erradas ou as consequências das reconstruções nacionais feitas onde forças nacionais destrutivas e as circunstâncias estão sempre destinadas a ter o poder.
“Provavelmente nenhuma outra nação”, escreveu Burnham, “tem sido tantas vezes ‘surpreendida’ por acontecimentos internacionais: surpreendida pelo fato de que Mao e Castro, no final das contas, eram comunistas [...] e que os seres humanos, como se fosse a maior surpresa de todas, agem como seres humanos”. A coisa realmente torna-se perigosa, observou Burnham, quando essa habitual distração americana toma conta quando o assunto é a guerra. “Os Estados Unidos nunca estiveram preparados militarmente, politicamente ou psicologicamente para as suas guerras” escreveu Burnham. Do mesmo modo, não estaremos preparados quando o Egito se aliar ao Irã em um conflito futuro; ou quando o Irã conduzir testes nucleares na cidade de Nova York.
Essa limitação no horizonte de visão está na estrutura dos americanos. Eles não têm olhos para o que está adiante. E isso se aplica, principalmente, à situação financeira americana. Os americanos não veem a bancarrota que se aproxima. Se vissem, não teriam reeleito o atual presidente. Não estariam segurando dólares, mas migrando para o ouro e a prata. Então se deve perguntar o que essas pessoas farão quando chegar o momento de crise. Como eles irão lidar com o fim da prosperidade?
As pessoas fazem o que já está consolidado no hábito, isto é, se elas têm se iludido nos últimos cinquenta anos, elas continuarão a se iludir. Se elas acreditaram em slogans vazios, então há de se assumir que elas continuarão a acreditar em slogans vazios – independente de como ele esteja alterado segundo as necessidades do momento. Os erros que causaram a bancarrota continuarão a prevalecer e continuarão a funcionar. Qual, pois, é o contra-argumento que tende a prevalecer e qual demagogo está disposto a arrumar o que está errado?
Por isso, a Força Aérea dos Estados Unidos terá menos aeronaves de combate “capaz de atingir os requerimentos para os tempos de guerra”. A América terá menos armas de todos os tipos e sua influência será anulada enquanto a Rússia e a China exercem seu domínio sobre a Europa, Ásia e África. Além do mais, as pensões e os benefícios sociais atuais serão descontinuados e os Estados Unidos sucumbirão a uma série de crises políticas. Esse é o derradeiro preço do idealismo abstrato da América. Conforme James Burnham nos alertou,

“a civilização ocidental não pode sobreviver persistentemente [...] sem os Estados Unidos. Tomo isso como algo muito óbvio nas discussões, pois se os Estados Unidos colapsarem ou forem reduzidos à insignificância, o colapso de todas as outras nações ocidentais não tardará a seguir o mesmo rumo...”


Publicado no Financial Sense.

Tradução: Leonildo Trombela Júnior

Mensalão gera discussões entre DEM e PT na Câmara

Integrantes da bancada do DEM na Casa levaram um banner sobre o esquema de desvio de dinheiro público para uma exposição sobre os dez anos petistas no governo federal. Clima esquentou entre os deputados
 Deputados do DEM e o PT se meteram em uma confusão nesta quarta-feira (27) na Câmara. A oposição criou um cartaz para ilustrar o ano de 2005, quando o esquema do mensalão veio à tona, para colocar na exposição comemorando os dez anos dos petistas no governo federal. O material elaborado pelos demistas foi colocado no espaço vazio entre os anos de 2004 e 2006.

Enfurecidos com o “desrespeito ao espaço”, parlamentares petistas foram até o local tirar satisfação com o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), e outros inegrantes da bancada, como Cláudio Cajado (BA), Onyx Lorenzoni (RS) e Felipe Maia (RN). O deputado Amaury Teixeira (PT-BA) retirou o cartaz do local. “Os caras fizeram aquela presepada toda e eu botei o cartaz no corredor da Presidência”, contou Teixeira ao Congresso em Foco.

Ele estava acompanhado de Edson Santos (PT-RJ). Houve muito empurra-empurra, e o cartaz foi parar na liderança do PT. Segundo a assessoria, o material foi remetido para a segurança da Casa.
No plenário, o clima ficou ainda mais quente. Amigo do ex-presidente Lula, Devanir Ribeiro (PT-SP) interrompeu o discurso de Onyx, chamou-o de “canalha” e deu um tapa no braço esquerdo do oposicionista.
Mesmo depois do incidente, a oposição continuou provocando os petistas. “Na época em que éramos governo, eles levavam faixas para o plenário, e o [José] Genoino [PT-SP, um dos condenados do mensalão] era mestre disso”, disse Caiado ao site. Ele ironizou: “Fomos completar a história do PT e eles ficaram chateados, mas nem tanto, porque levaram nosso outdoor pra dentro da liderança”.
Para Amaury Teixeira, a crítica foi desrespeitosa. “Tem que respeitar o espaço dos outros. Não pode colocar em cima do nosso espaço”, afirmou ele à reportagem. Nos fundos do plenário, outro condenado no mensalão, João Paulo Cunha (PT-SP) reclamava com Anthony Garotinho (PR-RJ) do comportamento de juízes e repórteres que, na opinião de ambos, os perseguem politicamente.

PEGADINHA

 Fantasma no cabeleireiro

Depois  da pegadinha da garota assustadora do elevador (do SBT), surge mais essa pegadinha com fantasma, dessa vez nos EUA. A pegadinha consistia em colocar imagens de uma garota para aparecer no espelho das clientes, já no final, com as clientes com o ## na mão, aparecia o melhor da festa… confira!

"Não creio que em Cuba haja socialismo"

Confira a íntegra da entrevista concedida pela blogueira cubana Yoani Sánchez a Cynara Menezes:

 foto agência brasil

CartaCapital–Você é de esquerda ou de direita?

Yoani Sánchez – Me considero uma pessoa pós-moderna, ou seja, considero que os limites e as fronteiras entre os fenômenos que vivemos não estejam tão claros. Quando alguém me pergunta se sou jornalista, digo que estou no meio do caminho entre o jornalismo, a literatura, o ativismo cívico, talvez algo de informática. Isso faz com que o produto final do meu trabalho seja um híbrido. O mesmo ocorre a respeito de temas que definem as posições ideológicas. Por exemplo: sou uma defensora da liberdade de expressão, sobretudo da liberdade de imprensa. Para muitas pessoas isso me colocaria ao lado dos liberais, do liberalismo. No entanto, também sou uma grande defensora desse setor que há em toda sociedade, mais desfavorecido. Nasci num solar de Havana, uma casa coletiva. Um solar é uma casa que foi linda, mas que com os anos foi dividida e vivem muitas famílias, com banheiros coletivos e cozinha coletiva. ...

CC –Aqui dizemos cortiço.

YS –
Ainda hoje digo a meu marido: ‘Posso ir ao banheiro?’ E ele responde: ‘Mas claro, vai. Precisa pedir?’. Porque quando eu era pequena tinha que perguntar se podia ir e sempre estava ocupado… Minha família é de ferroviários, por isso me preocupo muito com as pessoas pobres. Me preocupa a situação que vivem agora os mais desfavorecidos do meu país com todas estas reformas de corte neoliberal que Raúl Castro está fazendo. Por um lado estão abrindo espaços, estão criando oportunidades para o setor privado – em Cuba se diz ‘setor por conta própria’, mas é o setor privado. Por outro, estão criando grandes diferenças sociais, muita gente está ficando desprotegida materialmente, gente que está perdendo seus trabalhos, que não tem acesso à moeda conversível. Vou contar uma pequena história: em Cuba, temos muitos problemas com o tema da qualidade da educação, porque os salários dos professores são muito baixos e pouca gente quer ser professor. Então está acontecendo um fenômeno, as famílias estão pagando ‘repassadores’, professores extras nas horas que os estudantes não estão na escola. E já começa a se notar, do ponto de vista acadêmico, a diferença entre os estudantes cuja família tem dinheiro para pagar um professor adicional e a família que não tem. A compra e venda de casas, uma medida largamente desejada, no entanto está provocando a redistribuição classista dos bairros. Gente que tem mais dinheiro vai para os melhores bairros e os que tem menos, para a periferia, aos piores edifícios. Isso está se fazendo sem levar em conta uma política de transparência e sem uma política de proteção a essas pessoas. Se continuar assim, teremos uma Cuba tão neoliberal quanto qualquer outro país, com as grandes diferenças e os grandes abismos. Nesse ponto, eu poderia ser tachada de esquerda. Creio que o Estado tem a obrigação de proteger as pessoas mais desfavorecidas materialmente, para que não entrem na competição da vida com desvantagens. O Estado tem a obrigação de garantir um ensino público de qualidade pelo menos até determinado nível escolar. Tem também o dever de garantir uma ajuda aos familiares. Agora, eu não creio que em Cuba haja um socialismo. Quando era pequena, tive que estudar muito as teorias marxistas, leninistas, a economia socialista, manuais que eram muito abundantes até alguns anos –agora diminuiu. E recordo que praticamente a primeira página desses manuais dizia que uma sociedade socialista ou comunista era onde os meios de produção estavam nas mãos do proletariado. Era como uma fórmula. O que acontece em Cuba? Temos um só patrão que se chama Estado ou governo ou Partido Comunista ou como você queira chamá-lo. Esse patrão tem os meios de produção em suas mãos, contrata os operários e lhes toma uma enorme mais-valia: entre o valor da produção e o salário que recebe o operário há um abismo. Imagine que em Cuba existem pessoas que trabalham confeccionando charutos e cada charuto pode custar depois, no mercado, um mínimo de 30 pesos conversíveis, mas essa pessoa recebe por mês um salário abaixo disso. Ou seja, a mais-valia é total, com o agravante de que você não pode protestar. Nós temos um patrão capitalista, a diferença é que nosso patrão é uma família, um grupo de militares que tem um discurso aparentemente de esquerda. Mas quando você observa bem, há muito de capitalismo selvagem e inclusive de feudalismo medieval.

 

CC – Você preferia que a revolução cubana não tivesse acontecido?

YS –
Não, não. Penso que a revolução foi um bom detonante para a energia. O problema foi quando a revolução se devorou a si mesma e deixou de ser uma revolução.

CC – Quando isso ocorreu?

YS –
Essa é uma grande discussão. Por exemplo: meu marido, que é jornalista e é mais velho do que eu, diz que a revolução terminou em 1968, porque neste ano Fidel Castro aplaudiu a entrada dos tanques soviéticos em Praga. E isso foi determinante: como uma revolução rebelde permite que um império –ainda que seja comunista é um império– termine com um processo nacional de rebeldia, de transformação? Outras pessoas dizem que a data foi 1980, com o êxodo de Mariel, quando mais de 120 mil cubanos disseram ao regime: ‘Não gostamos deste sistema’. Essa foi uma maneira de votar. Minha mãe diz que para ela a revolução terminou em 1989, o ano em que fuzilaram o general Arnaldo Ochoa, que estava vinculado ao narcotráfico, mas também foi um julgamento político. Um julgamento a um setor que poderia, dentro dos próprios militares, provocar uma mudança. Ou seja, as datas são muitas. Eu não conheci a revolução. Nasci em 1975, sob muito estatismo, sovietização, rigidez. Aqueles rebeldes descidos da Serra Maestra, que pareciam tão jovens, com seus escapulários, tão reformistas, tão sonhadores, no momento em que nasci já eram uns burocratas de abdômen avantajado e muito cuidadosos cada vez que davam um passo para que nada lhes fugisse do controle. A revolução, sim, a revolução foi uma necessidade de muitas pessoas. E muita gente acreditou na revolução e muita gente se sentiu traída com a derrota final da revolução.

CC – Mas e se não tivesse ocorrido o embargo norte-americano? Poderia ser diferente, não?

YS –
O embargo, sem dúvida, fez com que a revolução se radicalizasse e deu ao governo um argumento para explicar tudo. Mas eu não creio que realmente o tema das liberdades fosse diferente sem o embargo. Simplesmente vivemos sob um sistema pensado para que o indivíduo não possa ser livre, porque se é livre, começa a perguntar, a questionar, a se associar, a buscar informação e o sistema não funciona, porque é um sistema que está baseado em que o mundo é um inferno e Cuba é um paraíso. ‘Você tem que se conformar com o zoológico porque lá fora é a selva’: essa é a dicotomia que explora o governo cubano. Quando a pessoa abre os olhos, lê outra literatura, contacta com outras pessoas, essa dicotomia começa a ruir, já não funciona.

CC – Para nós, o que parece injusto é que um país gigante tente esmagar durante anos uma ilha pequena só porque decidiu fazer diferente e ser comunista.

YS –
Esse é o símbolo de Davi contra Golias. Mas o Davi que eu conheço se chama povo cubano. E o Golias que faz a minha vida difícil é o governo de Cuba.

CC – Você não teme que acabe o regime dos Castro e Cuba caia em mãos dos cubanos de Miami, que são políticos da pior direita inclusive para os Estados Unidos? Ou seja, pular da frigideira direto para o fogo?

YS –
A Cuba do futuro tem muitos riscos, mas não é por isso que vamos nos conformar com o presente. Não é uma atitude de esquerda se paralisar por temor ao futuro. A atitude de esquerda é: vamos à mudança! E depois encontraremos soluções para os problemas que irão surgindo. Não tenho esse temor, mesmo porque o exílio de Miami também é um estereótipo. Agora mesmo é um exílio muito plural. Passaram-se 54 anos desde que começou o exílio, os que se foram em 1959 ou nos anos 1960 já são octogenários. Ao exílio ou à emigração, como chamam agora, chegou uma nova geração com outra mentalidade. Inclusive, nas últimas votações para presidente, um amplo setor da Flórida votou em Barack Obama. No último ano, 400 mil cubanos viajaram à ilha, vindos principalmente dos EUA. É um sinal que lhes importa mais agora os vínculos familiares do que o tema político ou econômico. Não tenho esse temor realmente de que ocorra a miamização de Cuba, primeiro porque não creio que o dilema nacional seja os Castro hoje ou Miami amanhã. Em meu país há gente talentosa, com muito critério e muito patriotismo. O patriotismo não tem nada a ver com o governo atual ou o sistema comunista. Amar Cuba é outra coisa, não é amar uma ideologia, é amar os coqueiros, José Martí, a música, viver ali. É preciso diferenciar isso. E penso que o desafio do futuro será aproveitar esse conhecimento, esse capital que tem os mais de 2 milhões de emigrados cubanos que hoje não têm nem mesmo o direito ao voto em seu país natal, conseguir que esse exílio se integre à vida nacional, mas sem que esmaguem a nós, os cidadãos que vivemos ali. Um dos grandes temas da Justiça do futuro será o tema das devoluções de propriedades. Outro será como estruturar o tema empresarial para que os emigrados não tenham vantagens sobre os nacionais que não temos capitais. Mas de verdade não temo isso. Tem muita gente que diz: ‘você não teme que chegue o McDonald’s em Cuba?’ Não, não temo, chegará. O que me preocupa muito agora é que o operário cubano, para comer um hambúrguer, precise trabalhar dois dias completos. Não me importa que se chame McDonald’s ou McCastro, mas que as pessoas tenham a oportunidade de ter um salário digno que lhes permita escolher entre comer vegetais ou um hambúrguer.

CC – Você fala muito de direitos humanos. O que acha dos presos norte-americanos em Guantánamo?

YS –
É um horror dos EUA, uma ilegalidade. Infelizmente não posso fazer nada quanto a isso.

CC – O que é o melhor que pode acontecer em Cuba? Haver eleições?

YS –
Acho que sim. Mas é importante que a pressão venha da cidadania, que as próprias estruturas que estão nascendo, os grupos –todos pacíficos– da oposição, da sociedade civil, o jornalismo independente, consigam pressionar o governo. Isso seria o ideal. Pressionar para que comecem logo uma série de reformas não só no plano econômico como político. Creio que o principal é despenalizar a divergência. Me dizem: ‘bom, isso não é uma lei’. Mas é importante. Em Cuba tem muita gente talentosa que tem iniciativas e programas de mudança pensados na nação, mas que agora tem medo de divulgá-los. Conheço economistas que tem programas para sanear a economia, como eliminar a dualidade monetária, mas dizem: ‘eu não posso mostrar isso porque vão me acusar de ser da CIA, do império’. Muita gente tem medo de dizer suas propostas. Quando o governo cubano, Raúl Castro, tome o microfone e diga ‘neste país nunca mais ninguém vai ser nem encarcerado, nem golpeado, nem estigmatizado por pensar diferente do governo, por ter outra tendência política ou outra opinião sobre a economia ou as finanças’, nesse dia tudo começa a mudar porque as pessoas vão começar a se atrever a dizer o que pensam.

CC – Se Cuba vai tão mal, por que as pessoas não se revoltam?

YS –
As pessoas em Cuba se rebelam emigrando. A revolta cubana não está na praça Tahrir, está do lado de fora dos consulados. É muito diferente. No Egito e na América do Norte se acumulou uma massa de jovens inconformados com o sistema, com essas ditaduras de muitos anos. Em Cuba temos um grande déficit de jovens, de natalidade. Cuba tem a natalidade um país de primeiro mundo e a emigração de um país de terceiro. Ou seja, a população está entre duas tendências. Uma, parece, muito positiva, e outra, muito negativa. Não há essa população jovem tão grande. Por outro lado, a tecnologia está num estado muito rudimentar. Para a primavera árabe, foram determinantes as redes sociais, os telefones celulares, blackberries.

CC – Isso, sim, tem a ver com o embargo… A tecnologia não chega a Cuba.

YS –
Mais ou menos. Por um lado, sim, pela possibilidade de comprar a tecnologia. Mas a tecnologia é vendida na China, no Japão, no Panamá. Há um monte de telefones chineses. O problema tem a ver com os custos da telefonia celular em Cuba. O telefone celular se paga com pesos conversíveis, não se paga com moeda nacional. Um SMS que se envia a um celular estrangeiro custa um peso conversível em Cuba, enquanto o salário médio mensal são 20 pesos conversíveis. É uma limitação econômica. Há cerca de 1,8 milhões de celulares para uma população de 8 milhões. Essa infra-estrutura de convocatória online, que funcionou muito na primavera árabe, está em estado muito primitivo em Cuba. Outra limitação é que as pessoas não têm consciência cívica. Durante anos o Estado se ocupou tanto de tudo que muitas pessoas, contemporâneas minhas, sentem que o país não lhes pertence. O país é do governo, é do partido, de Fidel. Estão apáticas. Quando têm um pouco de rebeldia, não a usam para enfrentar um repressor na rua, mas para enfrentar um tubarão no estreito da Flórida. Creio que nós, cubanos, votamos com os pés. Não protestamos, mas votamos indo-nos do país.

CC – Você crê que agora que mudaram as leis migratórias pode haver um êxodo?

YS –
Há muita gente planejando ir embora. Inclusive nos dias em que estive organizando os vistos, vi muita gente jovem do lado de fora dos consulados. É difícil, porque há muitos requisitos para conseguir um visto, mas os cubanos são engenhosos. Então o que estão fazendo? Vendem suas propriedades, a casa, o automóvel, e com esse dinheiro compram uma passagem para um país que não pede visto. Um dos primeiros sinais é que na Aeroflot, que voa de Cuba a Moscou, se esgotaram todos os bilhetes na primeira semana. Por que? Porque a Rússia não pede visto para os cubanos. Então vão para aí e usam este país como trampolim para ir a outra parte. Sim, vai haver uma saída em massa.

CC – Além da liberdade de expressão, o que mais você inveja no capitalismo?

YS –
Eu vivo sob um capitalismo de Estado. Vivi também em outras sociedades, passei dois anos na Suíça, e lembro que me impactava muito o acesso à informação, poder escolher um jornal ou outro. E também o estímulo que o cidadão tem para prosperar. Em meu país, as pessoas sabem que trabalhar mais não vai lhes dar uma vida melhor. Então há muita apatia para trabalhar. Um pouco de competição não é ruim, faz a pessoa tentar se superar, melhorar, subir. Em Cuba vivemos todo o contrário. Tem gente que pensa: ‘para que trabalhar, se de todas as maneiras com o subsídio alimentar posso viver, muito mal, mas posso?’ Foi desestimulada a criação de riqueza nacional e pessoal, e isso me parece que tem que ser estimulado. Com a empresa privada, a pequena e média empresa, o cooperativismo, que será muito importante para a transição em Cuba. A criação de cooperativas de trabalhadores, agrícolas e industriais.

CC – Escutei você falar relativamente bem de Mariela Castro. Poderia ser uma saída ao regime que se tornasse presidenta, sucedendo seu pai?

YS –
Eu não acredito que ela queira. Me parece que está mais focada na sexualidade e em seu trabalho no centro de educação sexual. Sim, poderia ser uma maneira de moderar o regime. Mas creio que criaria muito inconformismo nas pessoas, seria uma evidência de nepotismo muito clara: do irmão mais velho ao caçula e à filha deste. Nos deixaria um sabor tão amargo na boca que, por melhor que fosse sua presidência, sempre nos ficaria a impressão de que somos um reino que se herda consanguineamente.

CC – E se fossem convocadas eleições e ela se candidatasse?

YS –
Eu não votaria nela. Ainda que faça um trabalho muito bom do ponto de vista da sexualidade e do respeito às diferenças, me parece uma pessoa com sérias dificuldades para dialogar. Todas as vezes que tentei um debate de ideias, recebi respostas muito agressivas. Quando um político age assim, tem muitas possibilidades de se converter em um ditador.

CC – Você falou que em Cuba a imprensa é monopólio estatal, já que só há um jornal, o Granma. Você sabe que no Brasil seis famílias detêm 70% da imprensa? Também é monopólio, não?

YS –
Me parece uma boa razão para que os brasileiros lutem para mudar essa situação. Eu estou lutando no meu país para mudar a minha.
 
Por Cynara Menezes
Fonte: Carta Capital - 

Entre a cadeia e o Oscar


Por mais que não se satisfaçam com o próprio engodo, os esquerdistas sempre se autorizam a fazer aquilo que, literalmente, condenam nos outros.
1.
Por um desconhecido vídeo de 15 minutos no Youtube com críticas ao profeta Maomé, um sujeito foi preso pelo governo Obama, que o culpou pela morte de 4 americanos na Líbia em alegada reação de protesto, mesmo sabendo que se tratava de um ataque terrorista alheio ao conteúdo.

Por um filme-propaganda de 2 horas e meia ("A hora mais escura"; no original "Zero Dark Thirty"), que celebra Obama por "matar" Bin Laden e inclui cenas de afogamento de terroristas presos, a equipe da diretora Kathryn Bigelow recebeu 4 indicações ao Oscar: Melhor Filme, Atriz, Roteiro Original e Edição de Som, tendo vencido nesta última.

Ora, ninguém vai sair matando americanos - muito mais do que 4 - depois de ver o filme de Bigelow? Talvez.

Mas a culpa será dela e dos produtores? Nunca!

Afinal, com o governo dando uma ajudinha providencial no acesso a informações confidenciais, eles contribuíram para a imagem de herói do presidente.

A birra de muitos "antibushianos" do show business e da política pelo filme deixar supor que os afogamentos da Era Bush foram eficazes na obtenção de pistas que levaram ao esconderijo de Bin Laden aniquilou apenas suas chances de vitória nas categorias principais do Oscar esquerdista.

Mas nada assim que dê cadeia a ninguém, sabe?

Por mais que não se satisfaçam com o próprio engodo, os esquerdistas sempre se autorizam a fazer aquilo que, literalmente, condenam nos outros.

Eles confiam plenamente na eficácia de suas técnicas.

Na hora de encontrar culpados para eventuais tragédias, jamais hesitam em afogar os neurônios alheios.

2.

Na cerimônia do Oscar, não houve maior ironia (mas pode chamar de cara-de-pau) do que o prêmio de Melhor Filme para "Argo" - que conta a história real de um resgate de 6 oficiais americanos sob ataque numa embaixada do Irã, em 1979/80 - ser anunciado por Michelle Obama, cujo marido falhou justamente no resgate de 4 oficiais americanos sob ataque numa embaixada da Líbia, em 2012.

Obama não ganhou o Oscar com a sua semiautobiografia "Lincoln", nem com o seu filme-propaganda "A hora mais escura", mas Michelle deu o ar da graça, na gigantesca telona, para manter a imagem do governo e da família, literalmente, nas alturas - sobretudo entre a população provinciana, quase brasileira, que acha muito chique isso de primeira-dama aparecer em festa de cinema - e fazer até Jack Nicholson parecer um anão.

Eu achei graça, claro. Se até o filme de um militante como Ben Affleck compromete involuntariamente o seu líder, nada como a franjinha de Michelle para distrair a massa.


 
Nota de rodapé: Se você quer continuar admirando astros hollywoodianos como George Clooney, Ben Affleck, Matt Damon, Sean Penn, Jamie Foxx e tutti quanti, o melhor mesmo a fazer é continuar sendo um analfabeto político.


Felipe Moura Brasil edita o Blog do Pim.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Hugo Chávez e o uso da própria morte como instrumento político



Reynaldo-BH: Hugo Chávez e o uso da própria morte como instrumento político

 Existem variadas formas de se medir a estatura de um homem, de um regime ou de uma situação. Depende da régua que se usa. Ou do uso que se queira fazer dela.

Até onde a vida ─ o que ao fim e ao cabo é só o que nos resta ─ entra nesta composição? Não sei. Ou melhor, o que sei não se coaduna com o que vejo.
Falo de Hugo Chávez. “Retornado” de Cuba após meses de isolamento e dúvidas, chega a Caracas sem que ninguém o tenha visto. Ou se viu, como estava.
Este foi o primeiro passo. Depois, uma foto com as filhas. Montagem? Real? Um único momento de lucidez? Não se sabe. Mas o novo Simon Bolívar não poderia morrer longe da pátria.
Ao retornar, o primeiro aviso: está mal. Como na piada famosa, “sua avó subiu no telhado”. Depois, piorou. Notícia divulgada em uma “plenária” latino-americana, dessas que acontecem duas vezes por mês, sem que ninguém (muito menos eles) saiba para que sirvam ou quais os resultados.
O que assusta é o uso da vida e da morte como propaganda de um regime que o cadáver pretende deixar como legado. O que espanta é a manipulação da verdade como instrumento de continuidade do pesadelo que não se encerra com o fim do caudilho.
Terá Chávez ─ ainda ─ consciência do que se faz? Ou será um corpo inerte à espera do melhor momento de um anúncio que parece, a cada dia, mais inevitável? Estará sendo usado ou deixando-se usar? Até onde esta régua mede a infâmia? Acreditará na posteridade ou o impulso do poder pelo poder é um câncer ainda mais letal que aquele que o mata?
Um homem que deixa a própria vida ser transformada em um espetáculo dantesco e tenebroso, à espera da morte, não é medido com a minha régua.
A pantomina que se ensaia à vista de todos tem uma peculiaridade: trata-se de realidade. Um homem vai morrer.
Aos sucessores desta herança destrutiva, interessa a morte anunciada, oculta e mitificada. Ao próprio, a terra não lhe será leve. Infelizmente.
Hugo Chávez em agonia é o exemplo maior da idolatria do poder. De quem, abrindo mão da vida e da dignidade, se oferece em sacrifício em nome de nada. De nenhum valor. De nenhuma verdade. Abusando da falsificação. Até do último ato que todo e qualquer ser humano terá que encenar. Ou viver.
Se não bastasse o que fez em vida, na busca de um poder eternizado, usa a morte nesta tentativa.
Sinto por ele. Sinceramente. Esta batalha ─ contra a morte ─ sempre será perdida. Por todos. Cedo ou tarde. Resta saber, de cada um, como se comportar na saída de cena. A última. Final. Que não comporta mentiras. Mesmo em se tratando de Hugo Chávez.
Pena.

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