TOMAZ FILHO
O governo dos Estados Unidos elogiou nesta quinta-feira, 15, a postura crítica do presidente eleito Jair Bolsonaro sobre o programa Mais Médicos,
implementado com a Organização Pan-americana de Saúde (OPS) e Cuba, o
que motivou o cancelamento da participação dos profissionais de saúde
cubanos.
“Que bom ver o presidente eleito Bolsonaro insistir em que os médicos
cubanos no Brasil recebam seu justo salário ao invés de deixar que Cuba
leve a maior parte para os cofres do regime”, escreveu no Twitter
Kimberly Breier, a principal funcionária do Departamento de Estado dos
EUA para a América Latina.
O presidente eleito pretendia submeter os médicos cubanos a um “teste de
capacidade”, pagar o salário integral aos profissionais e permitir a
vinda de suas famílias para o Brasil.
“Em torno de 70% do salário destes médicos é confiscado pela ditadura
cubana. E outra coisa, que é uma falta de respeito com os que recebem
tratamento por parte destes cubanos: não temos qualquer comprovação de
que sejam efetivamente médicos e estejam aptos a desempenhar sua
função”, declarou Bolsonaro na quarta-feira.
Em resposta, Havana anunciou que irá abandonar o programa brasileiro –
do qual participa desde a sua criação, em 2013, devido a declarações do
presidente eleito, que anunciou mudanças no programa a partir de 1º de
janeiro, quando tomará posse.
Nesta quinta, um grupo de 196 médicos retornou para Cuba após três anos
de trabalho no Brasil – os primeiros após o anúncio de Havana de sair do
programa Mais Médicos.
“O Ministério da Saúde Pública de Cuba tomou a decisão de não continuar
participando do programa Mais Médicos e assim o comunicou à diretora da
OPS e aos líderes políticos brasileiros que fundaram e defenderam esta
iniciativa”, diz um comunicado oficial de Cuba.
Também questionou “o preparo dos nossos médicos” e condicionou “a sua
permanência no programa à revalidação do título”, destaca o texto
oficial cubano.
“A retirada do programa será apoiada por nossos médicos, pois nem os
princípios nem a dignidade são negociáveis”, afirmou a vice-ministra da
Saúde de Cuba, Regla Angulo, ao receber os profissionais no aeroporto.
Para Bolsonaro, o cancelamento do programa de envio de médicos cubanos
ao Brasil foi uma decisão “unilateral” e “irresponsável” da “ditadura”
de Cuba, que não aceitou as mudanças pretendidas pelo presidente eleito
para manter a cooperação.
Cerca de 20.000 médicos cubanos trabalharam no Brasil durante cinco
anos, e a decisão cubana afeta cerca de 8.000 que o fazem atualmente.
Segundo fontes diplomáticas brasileiras, os médicos cubanos retornarão a
seu país antes do Natal, embora calculem que cerca de 2.000 poderiam
permanecer no Brasil devido a relacionamentos amorosos e familiares, que
lhes permitiriam obter o visto de residência.
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