por Ney Lopes.
Disse bem o ex-ministro e governador Ciro Gomes sobre o presidente Bolsonaro: “ele comanda o avião em que todos estamos como passageiros. Sou obrigado a desejar que dê tudo certo”.
Preocupam-me os resquícios do radicalismo político-ideológico, a característica marcante da eleição de 2018.
A polarização PT e anti-PT enlouqueceu a direita radical, que considerava “esquerdinha petista”, quem não pensasse como ela e extremistas de esquerda rotulavam de “golpistas fascistas”, os que deles discordassem.
Ficaram mais perto da sensatez, aqueles que receberam epítetos, de um lado e de outro.
A campanha passou.
De agora por diante, a palavra chave deverá ser “tolerância” com ideias e propostas com as quais não haja concordância, sem prejuízo da critica, quando considerada necessária.
O radicalismo ideológico, vetos prévios, o sectarismo, ações extremadas são exemplos de intolerância.
Afinal, o que distingue a democracia de uma ditadura é a liberdade dos que discordam poderem dizer “não”, desde que assumam as consequências.
A tolerância é necessária na política, por significar valor supremo e elemento essencial da Democracia.
No atual momento nacional, exemplo incontroverso de intolerância são as ácidas críticas ao embaixador Ernesto Araújo, indicado pelo Presidente Bolsonaro para o ministério das Relações Exteriores.
“Por que” a manifestação de tanta indignação do PT e aliados, quando se trata de Embaixador, considerado competente pelos próprios colegas, afável no trato, tendo sido promovido e exercido funções importantes em governos petistas?
O seu brilhante curriculum justifica a indicação, por ter exercido as chefias de Serviços, Investimentos e Assuntos Financeiros; Negociações Extra-Regionais do MERCOSUL; Ministro-Conselheiro no Canadá e em Washington; Vice-chefia de Missão diplomática nessas mesmas embaixadas, quando ficou à frente de negociações importantes, como da tarifa do etanol e o contencioso do algodão.
Serviu ainda em Berlim e Bonn (Alemanha), entre outras funções.
As restrições baseiam-se em posições pessoais assumidas pelo embaixador Ernesto Araújo, com base em divulgações distorcidas, contra a orientação política do PT, antiglobalização e simpatia pelo presidente Trump.
Não de trata de concordar ou não com essas ideias do novo ministro, mas sim repetir Voltaire: “Posso não concordar com nenhuma das palavras que disser, mas defenderei até a morte o direito de dizê-las”.
Quando presidi o PARLATINO (Parlamento Latino Americano) e a Comissão Mista do MERCOSUL no Congresso Nacional testemunhei o eficiente trabalho do Embaixador Ernesto Araújo, no Ministério das Relações Exteriores.
Pela vivência parlamentar que tive, recordo que o PT adotou posições ultrarradicais na política externa brasileira, a partir de 2003.
O “guru” ideológico do Presidente Lula, professor Marco Aurélio Garcia, durante treze anos, exerceu de “fato” o cargo de Ministério das Relações Exteriores. O ministro Celso Amorim apenas “carimbava” as suas decisões.
Foi Marco Aurélio Garcia quem implantou a chamada diplomacia “ativa e altiva”, com apostas na América do Sul, África, palestinos e árabes, incluindo notórias ditaduras.
A política externa passou a ser “ideológica” e “partidarizada”. Sabe-se, inclusive, que existiam discordâncias internas no próprio governo.
Em entrevista ao professor Dawisson Belém Lopes (Estado), o professor Marco Aurélio revelou um fato, que aproxima as posições atuais do Embaixador Ernesto Araújo ao deputado José Dirceu, à época chefe da Casa Civil.
Disse Marco Aurélio, que Dirceu “era muito pró-americano no começo do governo Lula” e chegou a sugerir que o embaixador americanista Rubens Barbosa fosse o Ministro de Relações Exteriores de Lula.
Somaram-se desastres na política externa petista.
Um deles é a criação em 2008, da UNASUL (União de Nações Sul-Americanas) pelos ex-presidentes Lula, Hugo Chávez (Venezuela) e Nestor Kirchner (Argentina), com o único objetivo de “esvaziar” o PARLATINO (Parlamento Latino-Americano), que não “cheirava bem” ao governo petista.
Hoje restam escombros da tal UNASUL, além de vários escândalos, com a sede do Equador praticamente fechada.
O governo brasileiro paga uma cota de US$ 4 milhões por ano e, em agosto, devia US$ 12,5 milhões.
Enquanto isso, o PARLATINO, instituição referendada por todos os países latino-americanos e que mantém parceria com o Parlamento Europeu, funciona há mais de 50 anos, sem nunca ter ocorrido escândalo em suas gestões político-administrativa, incluindo-se o período exercido pelo autor do artigo.
Outra lamentável injustiça ocorreu com a demissão sumária do Ministério das Relações Exteriores, do embaixador Antonio Patriota, que foi vítima da “intolerante” política externa petista ao manifestar-se favorável ao asilo político do senador boliviano Roger Pinto.
Dilma demitiu o ministro Antonio Patriota, para satisfazer Evo Morales, o ditador boliviano.
Diante de tantos precedentes falta autoridade ao petismo para condenar a nomeação do embaixador Ernesto Araújo.
O PT, que fala tanto em democracia, precisa aprender que na política, jamais todos pensarão da mesma maneira e sempre existirá uma parte da verdade abrigada pela tolerância.
Para Gandhi “a lei de ouro do comportamento é a tolerância mútua”.
Diante de tantos precedentes falta autoridade ao petismo para condenar a nomeação do embaixador Ernesto Araújo.
O PT, que fala tanto em democracia, precisa aprender que na política, jamais todos pensarão da mesma maneira e sempre existirá uma parte da verdade abrigada pela tolerância.
O Embaixador Ernesto Araújo exerce apenas o seu direito de pensar, como da mesma maneira no passado, o “conselheiro” Marco Aurélio Garcia, conduziu a nossa política externa, voltada para alianças consideradas suspeitas, em várias partes do mundo.
Será que o embaixador Ernesto Araújo está impossibilitado de ser ministro, apenas por discordar da orientação dos governos Lula-Dilma?
É o caso dizer: basta de tanta intolerância!
Ney Lopes – jornalista, advogado, ex-deputado federal; ex-presidente do Parlamento Latino-Americano, procurador federal – nl@neylopes.com.br – blogdoneylopes.com.br
*Publicado originalmente no Diário do Poder.
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