Com Estadão Conteúdo
A revista britânica The Economist avaliou que o presidente do Brasil,
Michel Temer, conta com boas chances de completar o seu curto mandato.
Na edição que chega às bancas e aos assinantes amanhã, o veículo
destaca, no entanto, que ele segue vulnerável no cargo por causa de
acusações de corrupção. Para a publicação, desde maio, quando uma
gravação de Temer, parecendo discutir o pagamento de subornos, havia a
expectativa de que os promotores do país atuassem. Então, em 26 de
junho, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fez a primeira
acusação desse tipo contra um presidente no cargo.
Janot, explica o semanário, baseia suas acusações no áudio e no
testemunho de Joesley Batista, o empresário bilionário que a gravou
secretamente. Isso resultou em uma operação em que o ex-assessor do
presidente, Rodrigo Loures, foi filmado recebendo R$ 500 mil por,
supostamente, ter intercedido na agência antitruste em nome de sua
empresa. Janot suspeita que o dinheiro, mais outros R$ 38 milhões
prometidos por Batista, foi, de fato, destinado a Temer. O presidente se
diz inocente e ressalta que seu relacionamento com Loures é tudo o que o
liga ao pagamento.
A reportagem lembra que, mesmo antes das acusações, o governo Temer
registrou a menor popularidade da história, com apenas 7% de aprovação.
Em junho, ele se manteve no cargo quando o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) decidiu liberá-lo e também a Dilma Rousseff, de quem era
vice-presidente antes do impeachment no ano passado, de acusações de
financiamento de campanhas ilícitas em 2014. Mas, segundo a The
Economist, ele mantém apoio onde importa mais: no Congresso. Para que o
caso de Janot prossiga, é necessária a aprovação por dois terços dos
deputados na Câmara. Temer, de acordo com a revista, parece ter apoio
suficiente para tornar isso improvável.
Os deputados parecem ter decidido, de acordo com o veículo, que duas
coisas são necessárias para dar-lhes uma chance de reeleição em 2018:
uma retomada econômica e uma contenção da vasta investigação de
corrupção chamada Lava Jato. “Em nenhum dos pontos, a remoção de Temer
os serviria bem”, avaliou o semanário. Na primeira, o presidente tem
conseguido reduzir a inflação e obteve um retorno ao crescimento no
primeiro trimestre do ano, bem como sinais de que suas reformas
pró-mercado estão dando frutos. A reforma trabalhista mais flexível
parece estar em progresso, conforme a publicação.
Quanto à Lava Jato, a revista cita que políticos de todos os lados estão
sob suspeita, então a maioria concorda com a conveniência de
enfraquecê-la. Em 28 de junho, Temer anunciou que Raquel Dodge
substituiria Janot quando seu mandato terminar em setembro. Eles esperam
que ela tenha uma abordagem menos enfática. Entre os insatisfeitos está
Dilma, do Partido dos Trabalhadores (PT), de esquerda, que considera
sua substituição um “golpe”. A reportagem salienta também que, a
qualquer momento, o Superior Tribunal Federal (STF) pode se pronunciar
contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda o político mais
popular do Brasil, que tem meia dúzia de casos pendentes contra ele por
corrupção e lavagem de dinheiro.
“Tudo isso significa que o Sr. Temer tem um bom espaço para completar os
últimos 18 meses de seu mandato. Mas ele continua vulnerável”,
considerou a The Economist. Por exemplo: o Congresso pode procurar
suavizar uma revisão impopular das pensões públicas, que reduzem o
orçamento. Pode pedir mais em troca de apoio. E Janot, continua a
publicação, deverá apresentar uma série de outras acusações contra o
presidente – por aceitar outros subornos, bem como a obstrução da
justiça. Vários de seus colegas já estão na prisão, como Loures, ou
podem estar em breve.
“Os brasileiros, que marcharam em milhões para exigir o impeachment de
Dilma, estão cansados de protestar. Mas outras revelações surpreendentes
poderiam leva-los de volta às ruas.”
extraídaderota2014blogspot
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