Jornalista Andrade Junior

domingo, 3 de abril de 2016

QUEM SOMOS NÓS?

por Décio Antônio Damin.

Somos homens comuns! Não gosto desta classificação. Políticos, juízes, ministros, autoridades, transformados em “pop stars”, dizem estar falando de maneira acessível ao dirigir-se a nós e colocando-se em outro patamar. Dividem os brasileiros e as suas cabeças, em “coroadas e ilustradas” (as deles) e “não coroadas e limitadas” (as nossas). Tal divisão me provoca indignação, pois, comumente não se percebe autoridade intelectual e por vezes, nem moral, nos que fazem esta discriminação! Dá assim para entender as afirmações de Dostoiévski nas suas “Notas do Subsolo” quando diz que “o homem culto, inteligente, deve tornar-se uma pessoa sem caráter, se quiser se tornar alguém”, explico eu, crescer na vida política, enriquecer, “tornar-se enfim importante”. Deveria para isto, e esta é a beleza da afirmação, se soltar das amarras éticas que o prendem, mas, como não o faz dá chance aos outros sem princípios a respeitar, de lhe tomarem a frente e passarem a ditar regras e fazer leis que regerão a vida de todos. Dostoiévski adota, neste momento, a “filosofia da preguiça” como um meio ideal para viver. É um preguiçoso porque quer e não por incapacidade ou distúrbio de conduta. É diferente do preguiçoso que nada faz porque é incapaz ou indolente! É uma filosofia de vida perigosa e desaconselhável até, e acredito que quando ele a externou deveria estar deprimido, refugiando-se em seu “subsolo”. “Fazer o quê, por que e para quê?”deve ter se perguntado ao ver que nada muda!
Erudição é apenas uma parte do intelecto e da inteligência que tem outros componentes. Não ler, não reviver as experiências de outros, que as perenizaram, é ignorar o porquê dos conhecimentos que nos trouxeram até aqui. Equivaleria a ter que redescobrir tudo!
No Brasil em que vemos semi-analfabetos (e até analfabetos) ocupando cargos importantes dirigir-se a nós numa linguagem inculta que apenas lembra a “Última Flor do Lácio”, tratando-nos como mentecaptos, orgulhando-se (e servindo de mau exemplo) de nunca terem lido um livro sequer, é que nos sentimos agredidos ao sermos rotulados de “comuns”, até com um certo desdém. Afinal, quem são os homens comuns? Seremos todos nós, os anônimos que levantam cedo para trabalhar, estudam, esforçam-se, ganham pouco, pagam impostos, criam os filhos como podem e ensinam o que sabem? Serão os analfabetos, os doutores, os endividados, os que votam acreditando em promessas e são enganados, assaltados, que não tem planos de saúde ou até os tem, os que estão nas filas do SUS e em outras, ou amontoados numa emergência, que riem, choram, perdem o sono, se desesperam, esperam, esperam... , vão para a cadeia sem maiores recursos..., e jamais serão prioridade? Nem serão “consultores” de qualquer coisa para ganhar milhões de clientes cujos nomes não poderão declarar? É tempo de parar com isso, e sermos apenas homens iguais e conquistando o que for possível pelo mérito, pela dedicação e pelo suor. Talvez assim, como Dostoiévski, não precisemos mais nos refugiar no “nosso subsolo” e curtir a nossa desesperança!
* Médico 








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