PERCIVAL PUGGINA
Eu
amo esses caras! Eles falam pelas vozes de tantos traídos, de tantos
iludidos! A eleição do próximo dia 5 de outubro passa a depender muito,
muito mesmo, da ruptura que fizeram com seu passado recente.
De uns tempos para cá se tornou impossível encontrar um novo petista. Só há velhos petistas. Por muitos anos, contudo, não foi assim. O sujeito vinha de uma família tradicionalmente ligada ao PSD, ao PL ou à UDN e, depois, à ARENA ou ao PDS. Contava anos e anos votando nos partidos conservadores ou liberais. E de repente - vupt! -, se bandeava para o Partido dos Trabalhadores. O PT era o novo, oposição "a tudo isso que está aí", e era promissor (promessas e leviandades permitidas à oposição não faltavam ao PT, que navegava nas águas serenas da utopia). Durante anos, a gente via isso acontecer todo dia, toda hora. O partido da estrela se expandia com velocidade de seita evangélica, salpicando de estrelinhas os espaços urbanos do país. Cada novo petista considerava-se a mais recente encarnação do Bem. Em seus olhos luzia um brilho místico, como se houvessem presenciado revelação particular de alguma divindade. O petismo era mais do que uma religião. Era, concretamente, o novo Céu e a nova Terra.
Pois
eis que passados 12 anos de hegemonia petista, não se encontram mais
novos militantes da estrela. Inversamente, passa-se a topar, onde se vá,
com ex-petistas de todas as idades. Você fala para eles em PT e pedem
briga. Parecem dispostos a rachar ao meio qualquer vivente que lhes
mencione o partido das duas letrinhas.
Considero-os
admiráveis. A cada dia que passa, mais do que qualquer outra força
política, eles se convertem em esperança para o país. Era necessário que
essa migração iniciasse para que as energias cívicas renascessem. Os
ex-petistas estiveram com Jonas no estômago da baleia, conheceram
pessoalmente o Averno e viveram, duas vezes, a experiência da salvação.
Uma, alegre, mas ilusória. Outra, sofrida pelas dores de um novo parto.
Eu os acolho com júbilo. Eu os aclamo como o bom presságio de um país
cujo futuro imediato deles depende.
A
nação andou com os ex-petistas para aquele mesmo lugar muito alto onde o
Demônio tentou Jesus, buscando seduzi-lo com os poderes terrenos. O PT
nem pestanejou. Abraçou a companhia e foi em frente. Mas os ex-petistas
recuaram: "Até aqui pudemos vir. Além disso não iremos!". Eu amo esses
caras! Eles falam pelas vozes de tantos traídos, de tantos iludidos! A
eleição do próximo dia 5 de outubro passa a depender muito, muito mesmo,
da ruptura que fizeram com seu passado recente. São eles que fornecem
os dados mais estimulantes das últimas pesquisas eleitorais. São eles
que estão virando o jogo. Há neles algo que falta em muitos que não
viveram a experiência pela qual passaram. Enquanto os que nunca foram
petistas manejam os instrumentos da disputa política segundo o que
aprenderam em sucessivas derrotas, os ex-petistas lutam com o ânimo dos
que morderam a medalha da vitória e cuspiram o gosto amargo das
esperanças frustradas. E se robusteceram para as escaramuças que se
avizinham. Sejam bem-vindos. O Brasil precisa muito de vocês.
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