JOSEF BARAT
Neste início de século, o governo busca seguir o velho modelo econômico do nacional-desenvolvimentismo, que prevaleceu entre 1930 e 1980. Foram 50 anos em que o País se voltou para dentro, cresceu aceleradamente e se industrializou. As características principais desse modelo eram a forte presença estatal nos investimentos, o controle cambial e as reservas de mercado, as restrições às importações, o crédito subsidiado para grandes empresas e o Estado investindo e operando indústrias e infraestruturas de serviços básicos. Três mecanismos garantiam recursos para os investimentos: inflação, fundos vinculados a tributos setoriais e endividamento externo. A inflação, ao final, representou uma brutal transferência de renda dos mais pobres para o Estado e para os grandes grupos empresariais, agravando mais a concentração de renda.
O nacional-desenvolvimentismo foi bom enquanto durou. O contexto mundial era outro, uma vez que prevalecia o protecionismo, a maior presença estatal nas infraestruturas, o descontrole dos gastos públicos e a inflação. No entanto, o mundo mudou com o aprofundamento da globalização. Houve o espalhamento de novas cadeias produtivas transcendendo fronteiras, a decorrente redução das barreiras comerciais e o combate aos desequilíbrios fiscais e à inflação, para possibilitar os avanços na produção e nas trocas em escala mundial. Sempre a reboque das mudanças, a quebra do modelo, nos anos 80, impôs ao Brasil uma longa e sofrida transição. Com atraso, teve de se adaptar ao novo contexto para poder ser um ator de importância na economia globalizada. Por isso, foi fundamental quebrar as barreiras comerciais e instituir o tripé macroeconômico de apoio à mudança para uma economia mais aberta e competitiva. Passamos a ter a gestão coordenada do superávit primário, câmbio flutuante e regime de metas da inflação. O Brasil ganhou estabilidade monetária e maior inserção na economia mundial.
Se a indústria, como um todo, não soube enfrentar a competição externa - seja por estar viciada no protecionismo, seja por ter baixos níveis de competitividade e frágil desenvolvimento tecnológico não será o retorno às proteções que a tornará mais competitiva. Os exemplos da prosperidade do agro-negócio e da mundialização de certos segmentos industriais brasileiros mostram que houve alternativas. Por outro lado, se a falência do Estado nos anos 80 nos impôs infraestruturas precárias e insuficientes, a recuperação veio após a instituição das concessões ao setor privado. Portanto, não será com maior carga tributária e inflação que o Estado retornará à "época de ouro" de seu domínio sobre a economia. O Estado brasileiro é perdulário, incompetente, fortemente controlado por grupos políticos e, portanto, atrasado e corrupto em sua essência. Esperar que venha a comandar o crescimento econômico daqui para a frente - como o fez no passado - é esquecer o velho preceito marxista de que a História se repete como farsa. Ou como tragédia, se a inflação desandar e os investimentos encolherem ainda mais.
O mais curioso nessa guinada para o nacional-desenvolvimentismo é essa espécie de "síndrome de Estocolmo" econômica. Os governos militares levaram ao auge o nacional-desenvolvi-mentismo, ironicamente aprofundando e ampliando parâmetros que vinham das épocas de Vargas e Kubitschek. O fechamento da economia, a industrialização a qualquer custo e o descaso com a inflação dominaram o pensamento econômico. Inegavelmente, o País deu um enorme salto para a contemporaneidade, pois poucos países cresceram aceleradamente como o Brasil, entre 1930 e 1980. Mas os anos 80 e 90 já indicavam a falência desse modelo econômico autárquico, não apenas diante das grandes mutações da economia mundial, mas também diante do quadro de hiperinflaçào associada à estagnação da economia por mais de duas décadas. É estranho ver aqueles que hostilizavam as políticas econômicas dos governos militares quererem repeti-la tanto tempo depois. Hoje o governo vislumbra o futuro olhando pelo retrovisor.
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