Colocados em seus reais e devidos termos, os gastos governamentais com a Copa do Mundo se revelam menos significativos do que se tem imaginado. Correspondem, segundo reportagem desta Folha, a cerca de um mês (9%) do que se despende para custear a educação.
União, Estados e municípios canalizam anualmente R$ 280 bilhões para a escola pública. É de R$ 25,8 bilhões o investimento no Mundial –cabendo ainda lembrar que está previsto o reembolso, ao erário, do que se gastou na construção de estádios e outras obras.
Feitas as contas, surge como inegavelmente exagerada a opinião corrente de que o governo poderia usar o dinheiro aplicado em sedes esportivas para resolver o problema da educação no país.
Essa comparação não diz tudo. Os R$ 25,8 bilhões que se desembolsam com o campeonato quase equivalem, por outro lado, à maior obra de infraestrutura do governo, a usina hidrelétrica de Belo Monte, orçada em R$ 30 bilhões.
Relativamente pequeno e, ao mesmo tempo, desproporcional, o investimento realizado com a Copa pode ainda ser avaliado segundo o seu retorno futuro: erigem-se pelo país arenas capazes de abrigar dezenas de milhares de pessoas, quando alguns torneios regionais têm público médio ínfimo.
Do balanço dessas constatações alternativas pode-se tirar conclusão consternadora. Se, comparado a outros investimentos em obras públicas, o gasto com a Copa é elevadíssimo, isso se deve ao fato de que o próprio Orçamento tem reservado uma parcela muito pequena do total para a infraestrutura.
Dada a enorme quantia que o Estado desembolsa com juros da dívida pública (cerca de R$ 270 bilhões) e Previdência (perto de R$ 390 bilhões), para nada dizer dos notórios desperdícios com a máquina administrativa, surgem de certa forma diminutos os recursos lançados nos estádios.
Cálculos desse tipo são importantes para reavaliar o sentimento geral de que os problemas do investimento público no Brasil seriam de fácil solução. Nem por isso os protestos contra a Copa deixam de ter motivos, ainda que se baseiem numa matemática simplista.
É que representam, em parte, uma reação contra a mística de que o país está pronto para ingressar no Primeiro Mundo, ou, no uso de vocabulário mais atualizado, a seguir o "padrão Fifa" no atendimento das necessidades da população.
Salta aos olhos o contraste entre o mundo real e as ilusões da Copa do Mundo –alimentadas pela retórica do governo. O qual, ainda uma vez, adia as reformas imprescindíveis, nas áreas previdenciária e fiscal, capazes de dissipar em definitivo os paradoxos –e os descontentamentos– que os números do Orçamento revelam.
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