Maio de 2014 já é o mês em que o Google mais acusa ocorrências do termo "greve" em suas buscas. Há pouco engajamento nas ruas em prol do evento, diferentemente dos protestos, que aos poucos voltam a reprisar o junho de 2014.
À medida em que a Copa do Mundo se
aproxima, o caos vai tomando conta do país e isso preocupa os
organizadores. Alguns atrasos fizeram a Fifa tomar a frente e começar a tocar obras em estádios mais problemáticos; nenhum aeroporto da Infraero ficará 100% pronto para a competição; e o Itaquerão, onde ocorrerá o primeiro jogo, será entregue inacabado. Mas esses são só alguns dos problemas enfrentados a poucos dias do início do evento.
Várias classes têm aproveitado a proximidade da competição para fazer paralisações. De acordo com o Google Trends,
maio de 2014 foi o mês em que mais se falou em greve na história do
sistema de busca. E se trata de um assunto recorrente em todos os
estados da federação.
Problemas na vizinhança
Não é para menos. Só para citar alguns exemplos, funcionários do IBGE, rodoviários de Salvador, servidores municipais de São Paulo e motoristas de ônibus do Rio pararam
suas atividades. Mas o que mais preocupa é a segurança. Com medo de que
isso prejudique o andamento da Copa, o governo planeja entrar com ações
na Justiça Federal para tentar barrar os grevistas.
São duas as principais frentes que serão adotadas na Copa: o governo vai entrar com ações judiciais contra as paralisações, medida que hoje cabe aos Estados, e quer cobrar de líderes de greve que arquem com os custos de eventual emprego da Força Nacional para garantir a ordem pública.
As recentes greves em estados como Bahia e Pernambuco deram
uma amostra do que pode ocorrer caso haja paralisações durante a Copa.
As cenas de saque e depredação assustaram jornalistas estrangeiros, que
demonstraram preocupação a esse respeito durante entrevista com
ministros do governo sobre a questão.
Até em países vizinho há ameaças de greve visando a realização da Copa do Mundo. No Peru, trabalhadores exigem melhores salários
das companhias aéreas ou cruzarão os braços durante o evento, impedindo
a saída para o Brasil de pelo menos 300 voos programados para o
período. Mas a paralização pode afetar inclusive outros voos que não
saiam de aeroportos peruanos, mas precisem passar por eles em seu
trajeto. A atitude vem influenciado funcionários da TAM, associados ao
mesmo conglomerado, a fazer ameaças semelhantes.
Superfaturamento
A competição também segue sendo assolada
por denúncias de corrupção. Antes mesmo do início do evento, o Tribunal
de Contas do Distrito Federal apontou superfaturamento de R$ 431 milhões na construção do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, que teve um custo total de R$ 1,6 bilhão.
A reforma do Mané Garrincha começou a ser posta em prática em julho de 2010 e, pouco tempo depois, a Controladoria Geral da União (CGU) deu início à auditoria nas primeiras planilhas do projeto. De cara, a CGU encontrou preços unitários contratados com valor acima de mercado. De uma amostra de R$ 383,1 milhões, os auditores constataram um sobrepreço de R$ 43 milhões — 11,2% do montante.
Como a arena não foi financiada pelo
BNDES, e sim com recursos do governo do Distrito Federal, a CGU acabou
se afastando do monitoramento das obras, mas fez alguns outros
apontamentos no início da construção.
A investigação detectou “alocação excessiva de mão de obra” na instalação de equipamentos, como o ar-condicionado multi-sistem. Seriam necessárias 455 horas de trabalho para a instalação, mas o preço unitário da empresa contratada considerou 3.048 horas, conforme a CGU. Além disso, existiam “discrepâncias” entre a especificação de serviços no memorial descritivo e na planilha licitatória.
Hotéis inacabados
Outro problema enfrentado é o atraso na entrega de hotéis que receberam financiamento do BNDES. No Rio de Janeiro, dos nove empreendimentos aprovados pelo programa ProCopa Turismo, apenas três foram concluídos no prazo.
Os outros seis hotéis, que ofereceriam 2.045 novos quartos, estão com obras atrasadas ou paralisadas. Alguns deles podem ser entregues só em 2016, às vésperas dos Jogos Olímpicos. Os repasses destinados a projetos que não ficaram prontos a tempo representam 86% dos R$ 404,4 milhões que o banco público já liberou para ampliar o número de vagas na cidade.
O Gran Mercure Riocentro, vizinho ao
centro internacional de mídia, onde a Fifa havia orientado as empresas
credenciadas a instalar suas equipes, não ficará pronto, o que obrigou
os jornalistas a buscar novas acomodações. A reforma do Hotel Glória,
por sua vez, foi abandonada – mesmo depois de receber R$ 50 milhões
– após os problemas do empresário Eike Batista.
Embora o portal do governo afirme que o
ProCopa destina-se a financiar a “construção, a reforma, a ampliação e a
modernização da rede hoteleira para a Copa”, o BNDES declarou que a
conclusão das obras antes do início do evento não foi condição para os
empréstimos.
Tiro no pé
Desde o início, a vinda da Copa do Mundo
ao Brasil causa polêmica. Conquistada após o país se apresentar como
único candidato, só ganhou alguma simpatia popular quando o governo
confirmou as cidades sedes meses depois. Nas eleições de 2010, chegou a
contar alguns pontos a favor da situação, sendo ela vendida como uma
grande vitória do bom momento proporcionado pelo petismo. À medida em
que a data da realização se aproxima, no entanto, o evento vem se
mostrando um enorme transtorno para todos os envolvidos. A mídia
espontânea que, imaginava-se, justificaria todo o alto investimento
público tende a se transformar em propaganda negativa. Fato é que, a 15
dias do evento, há pouco engajamento nas ruas em prol da festa, ruas
estas tomadas por protestos. Bilhões de reais jogados fora depois, a
“Copa das Copas”, ao lado da derrocada da Petrobras, pode ser crucial
para a queda do atual governo nas eleições de outubro. Na falta de
argumentos, há quem venha a público “defender-se” dizendo que “o que tinha pra ser roubado, já foi“. Que os brasileiros lembrem-se disso diante das urnas.
fonte impliante.org
0 comments:
Postar um comentário