Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 3 de abril de 2014

O que se diz e se contradiz -

CELSO MING


O ESTADO DE S. PAULO - 

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, não entende que haja algo de errado com a escalada dos preços. Para ele, a inflação está baixa e se manterá baixa, como afirmou ontem, em Brasília: "A maioria dos preços está equilibrada e sob controle".

Não é o que pensa o Banco Central. No seu último Relatório de Inflação, aponta para "os níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos 12 meses". Mantega, ao contrário, parece satisfeito porque, nos últimos 11 anos, a inflação não passou dos 6,5% ao ano, o teto da meta. É pouco.

A inflação achata o poder de compra do trabalhador e disso ninguém discorda. Mas Mantega não reconhece duas fontes de inflação dentro do governo. A mais importante é a redução insuficiente das despesas públicas. O contra-ataque está excessivamente dependente da política monetária (política de juros) comandada pelo Banco Central. Ou seja, a política fiscal não ajuda. Não dá para concordar com ele quando afirma que o governo "sempre teve grande cuidado com a inflação". Não teve e não tem.

Ele também não reconhece que os preços administrados (25% da cesta do custo de vida) vêm sendo represados artificialmente pelo governo. Nem que esse represamento produz distorções. E que produz inflação, na medida em que provoca remarcações defensivas pelos agentes econômicos - como, também, denunciou o Banco Central no seu Relatório.

Na mesma entrevista dada ontem, Mantega garantiu que o Conselho de Administração da Petrobrás estava correto quando aprovou a compra da Refinaria de Pasadena (Texas, Estados Unidos), em 2006. Nesse ponto, contraria a presidente Dilma que,no dia 19 de março, afirmou em nota oficial que o Resumo Executivo elaborado pelo diretor da Área Internacional, que serviu de base para a aprovação da compra da refinaria, era "técnica e juridicamente falho". A presidente Dilma, que na ocasião presidia o Conselho de Administração da Petrobrás, afirmou, também no dia 19 de março, que, se as cláusulas Marlim e Put Option, integrantes do contrato, fossem conhecidas, "seguramente, não seriam aprovadas pelo Conselho".

No dia seguinte à divulgação desse documento presidencial, o então diretor da Área Internacional, Nestor Cerveró, foi demitido sumariamente da função de diretor financeiro que ocupava na BR Distribuidora.

Mas as coisas aí continuam mal paradas. Cerveró afirma que nenhuma informação foi omitida e que os membros do Conselho tiveram acesso prévio a todos os documentos da compra.

Se a presidente Dilma enganou-se, digamos assim, na nota oficial, até agora não corrigiu seu engano e não desmentiu nem Cerveró nem Mantega, que afirmam o contrário do que ela afirmara. E se não havia nada de errado na decisão do Conselho de Administração em 2006,por que, então, Cerveró foi demitido por isso oito anos depois?

E há a questão de fundo. A Refinaria de Pasadena foi adquirida um ano antes de fevereiro de 2006, quando a Petrobrás entrou no negócio, pela belga Astra, por US$ 42,5 milhões. Meses depois, foi repassada para a Petrobrás pelo total de US$ 1,18 bilhão. Para a presidente Dilma, essa foi uma operação lesiva à Petrobrás. Ou não foi, como está dizendo Mantega?

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