Pasadena foi um bom negócio? Em artigo na Folha, José Sérgio Gabrielli,
o ex-presidente da Petrobras, anotou: “A resposta é sim para o momento
da compra, mas não teria sido sob o cenário entre 2008 e 2012.” Nessa
versão, “o mundo mudou, nós descobrimos o pré-sal e o planejamento
estratégico da Petrobras acompanhou as mudanças.”...
“O mercado de derivados nos EUA se alterou drasticamente”, escreveu
Gabrielli. “Foram as variações de margens de refino e os diferenciais de
preço entre o petróleo leve e pesado que fizeram a lucratividade de
Pasadena variar. Enquanto isso, no Brasil, a demanda por derivados se
aqueceu, levando a companhia a investir em refino interno.”
A certa altura, Gabrielli sustentou que, “irresponsavelmente, a
oposição distorce fatos e dados” sobre a aquisição da refinaria. Segundo
ele, cria-se “uma narrativa que desinforma a população” e “prejudica a
imagem da Petrobras”, favorecendo a “depreciação de seu valor de
mercado.”
Levando-se o raciocínio de Gabrielli às últimas (in)consequências, o
culpado pelo mau passo da Petrobras é Pedro Álvares Cabral. Se ele não
tivesse descoberto o Brasil naquele 22 de abril, ainda seríamos uma
Pindorama habitada por índios nus. Com todas as vantagens e
desvantagens.
A principal desvantagem, caro leitor, é que você não existiria. Não
leria esse texto, já que o repórter também não existiria. Eu e você
devemos ter sangue índio. Mas o melado que corre em nossas veias inclui
um pouco de tudo o que veio depois de Cabral: o português, o negro, o
alemão, o italiano… Em compensação, também não existiria o José Sérgio
Gabrielli.
Outra vantagem é que tucano seria apenas uma ave de bico grande.
Melhor: o búlgaro Pedro Rousseff não teria emigrado para o Brasil.
Jamais teria se casado com a jovem Dilma Jane Coimbra Silva. Que não
teria dado à luz a menina Dilma Rousseff.
Inexistindo, Dilma não teria escrito aquela nota na qual escreveu que
não avalizaria a compra de Pasadena se as cláusulas que obrigaram a
Petrobras a comprar a parte da belga Astra Oil na refinaria, elevando o
valor total do mico a US$ 1,25 bilhão, constassem do resumo executivo
apresentado ao conselho de administração da estatal. Aliás, ela nem
presidiria o tal conselho se Cabral fosse surdo e não tivesse escutado o
grito de “terra à vista”.
Em entrevista ao reporter Ricardo Galhardo, outro que não precisaria
existir, Gabrielli assumiu a reponsabilidade pelo relatório “falho” que
embasou a decisão do conselho da Petrobras. Mas soou avesso à ideia de
frequentar o noticiário sozinho:
“Eu sou responsável. Eu era o presidente da empresa. Não posso fugir da
minha responsabilidade, do mesmo jeito que a presidente Dilma não pode
fugir da responsabilidade dela, que era presidente do conselho. Nós
somos responsáveis pelas nossas decisões. Mas é legítimo que ela tenha
dúvidas.”
O azar de Gabrielli é que os índios de Pindorama já tinham uma queda
pela corrupção passiva. Vendiam-se por qualquer pedaço de espelho.
Imagine como seria se os portugueses tivessem sido postos para nadar de
volta às caravelas! Não existiria o prejuízo de Pasadena. Não haveria
nem a Petrobras. Muito menos um PT para aparelhá-la e uns Calheiros para
indicar apaniguados. Donde não existiria também o diretor preso junto
com o doleiro..
Talvez não escapássemos da corrupção. Os índios já não se contentariam
apenas com espelhinhos. Mas todos os relatórios “técnica e juridicamente
falhos” e as conversas grampeadas seriam em tupi guarani. Quer dizer:
uma coisa bem mais original. É uma pena que a CPI, se for instalada, não
possa convocar Pedro Álvares Cabral. Seria divertido escutá-lo dizendo
que “o Brasil foi um bom negócio no momento do descobrimento, mas o
mundo mudou. E ainda não tinham inventado a cláusula de put option.”
Fonte: JOSIAS DE SOUZA portal UOL
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