Escrito por Carlos Ramalhete
Esta situação insustentável durou da virada do século 19 a meados do século passado, gerando o feminismo, solução errada para um problema real. Mulheres de classe média, desinteressadas por homens ao ponto de adotar como lema “a mulher precisa de um homem tanto quanto um peixe de uma bicicleta”, as primeiras líderes feministas esforçaram-se não por reconstruir um espaço para o feminino no mundo, mas por masculinizar a mulher.
Sua tacanha visão burguesa, limitada ao exíguo lar de classe média, fê-las ver com inveja a dupla escravidão da mulher de classe baixa e instar suas seguidoras a lançar-se ao famigerado “mercado de trabalho”, adotando, elas também, a dupla jornada.
Conseguiram. Hoje não apenas se espera que a mulher pobre seja forçada a um emprego tão pouco recompensador quanto operar o caixa de um supermercado, como se faz o mesmo com a mulher de classe média. Desde cedo ela é incentivada a procurar uma profissão rentável, a tornar-se uma profissional independente.
Ora, é tão trágico que a mulher seja independente como que o homem o seja. Um depende do outro. A interdependência do matrimônio, já ferida pela sociedade burguesa ao arrancar o homem do lar para ir ganhar o seu pão longe dele, sofreu um golpe ainda mais feroz. E este golpe é ainda mais doloroso, por ir contra as lealdades naturais da mulher. Um homem suporta, a contragosto, separar-se da família por todo o dia. Para uma mulher, abandonar seus filhos é negar sua razão de ser.
Urge aproveitar as oportunidades geradas pela sociedade pós-industrial para recriar a forma natural de produção, em que cada lar é uma sociedade não apenas de vida, como de produção e comércio. Maridos e mulheres, trabalhando juntos e educando os filhos na sua profissão, formam uma microssociedade muito mais feliz e realmente independente que qualquer delírio feminista.
Publicado no jornal Gazeta do Povo.
Carlos Ramalhete é professor
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