Jornalista Andrade Junior

quinta-feira, 24 de abril de 2014

Maduro quer ministério para “defesa mundial” da Venezuela

Pasta de Comunicação Internacional será a 32ª do Gabinete chavista
O Gabinete de Nicolás Maduro já conta com 31 ministérios e, se depender do presidente venezuelano, pode ganhar mais um no rastro da repercussão dos dois meses de manifestações contra o governo. Em entrevista exclusiva ao jornal local “Últimas Noticias”, Maduro anunciou que planeja criar o Ministério para a Comunicação Internacional, “dedicado exclusivamente à defesa mundial da Venezuela” num contexto de “guerra comunicacional” contra o país.
— Atingimos todos os objetivos planejados, mas é necessário admitir que, do ponto de vista midiático, todos esses meios de comunicação e representantes da oposição que saíram pelo mundo pedindo uma intervenção contra a Venezuela fizeram muitos danos ao país — disse Maduro, para quem a criação do novo ministério é uma “necessidade dos tempos”.
O 32º ministério do governo Maduro será mais um órgão num aparato criticado por opositores devido ao seu tamanho. Além dos ministérios, há seis vice-Presidências e impressionantes 111 vice-ministérios. Um dos mais polêmicos deste contingente, criado pelo presidente em outubro do ano passado, é o Vice-Ministério da Suprema Felicidade.
O presidente venezuelano inclusive já tem um nome para o Ministério para a Comunicação Internacional: o embaixador do país na Organização dos Estados Americanos (OEA), Roy Chaderton, deverá ser o titular da pasta. Chaderton comandou a mobilização na OEA para aprovar, em votação, que uma reunião do Conselho Permanente sobre a situação da Venezuela fosse feita a portas fechadas — impedindo assim a participação da deputada opositora María Corina Machado. Na época, o embaixador considerou que seria “uma aberração” se a OEA desse a palavra a alguém que “apoia a desestabilização da Venezuela”.
As rusgas entre o chavismo e a imprensa nacional e estrangeira não são novidade. Com a atual crise na Venezuela, Maduro tem reforçado as acusações de que o país tem sido vítima de um ataque midiático internacional, da mesma forma que constantemente denuncia supostas tentativas de golpe de Estado. Ao mesmo tempo, Maduro marcou presença recentemente em veículos de comunicação de fora da Venezuela para dar a visão chavista dos fatos, com entrevistas para a emissora americana CNN e o jornal britânico “Guardian”, além de publicar um artigo de opinião no “New York Times”.
Provocação antes de reunião
Dentro da Venezuela, um dos expedientes mais frequentes do governo para ocupar espaço na mídia é o uso de cadeias nacionais de rádio e televisão, prática inclusive criticada pelos representantes da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática (MUD) na primeira reunião de diálogo com o governo, na semana passada. Ontem, aproveitando o primeiro aniversário de seu mandato presidencial, Maduro voltou a comandar uma cadeia nacional e, mesmo em meio ao diálogo, provocou a oposição.
— Vocês imaginam o que aconteceria se eles tivessem ganhado as eleições? Haveria uma guerra, uma matança no país. — disse Maduro, que venceu em 2013 com uma vantagem de menos de 300 mil votos. —A permanência de Nicolás Maduro na Presidência é a maior garantia de estabilidade do país.
A transmissão foi iniciada horas antes do segundo encontro entre representantes do governo e da MUD, previsto para ontem à noite. Uma pesquisa divulgada ontem pelo instituto Hinterlaces mostrou que 90% dos venezuelanos apoiam o diálogo. No entanto, diminuiu para 54% os que disseram crer que o contato pode ajudar a resolver os problemas da Venezuela.
De acordo com o Itamaraty — o Brasil media o diálogo junto com Equador e Colômbia —, a segunda etapa do diálogo inclui negociações sobre dois temas: presos e uma eventual lei de anistia; e a criação de uma comissão da verdade. Estes assuntos estavam na agenda desejada pela MUD para o diálogo com o governo. A coalizão defende a anistia de manifestantes detidos, assim como a soltura de nomes da oposição como Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular e acusado de incitar a violência em protestos, e os prefeitos Enzo Scarano e Daniel Ceballos, na cadeia por não destruírem barricadas montadas por opositores em suas cidades.

Fonte: O Globo

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