JOÃO MELLÃO NETO
Com seus 86 mil funcionários e presença em 25 países, a Petrobrás era o grande orgulho nacional desde a sua fundação. A empresa vinha se superando - desde que foi criada, há 60 anos, por Getúlio Vargas -, ano após ano, até alcançar em 2011, para gáudio nosso, o 12.º lugar entre as maiores empresas do mundo, batendo a General Electric, a Shell, a Microsoft, a Sony, a Nestlé, o JP Morgan, o Wall-Mart, o HSBC, a Procter & Gamble e outros gigantes mais.
Antes de qualquer conclusão precipitada, é preciso levar em conta que esses rankings variam, dependendo de quem os faz. Nós, aqui, nos valemos do ranking da revista Forbes, que é o que tem a maior credibilidade no mundo. O 12.º lugar da Petrobrás em 2011 era motivo de grande orgulho para todos nós, brasileiros. O pré-sal nos garantiria um futuro glorioso, apesar de ser um petróleo de quase impossível extração. Para alcançá-lo seria necessário penetrar em 7 quilômetros de rocha salgada, e nós assumimos esse desafio com destemor. Infelizmente, esses bons tempos passaram.
No balanço referente a 2012, a Petrobrás despencou no ranking, ocupando atualmente um desonroso 120.º lugar. E o lucro? O que houve ninguém viu, o que se sabe é que sumiu... O mistério não é tão difícil de entender: da gestão do então presidente Lula para cá, tem sido notória a apropriação de recursos da empresa para fins outros que não a exploração exclusiva de petróleo.
O fato é que a Petrobrás foi impiedosamente saqueada nos últimos tempos. E mais não se levou por escassez de espaço nas algibeiras. E a empresa, teúda e manteúda, a ninguém negou o seu úbere, servindo a todos com abundância e generosidade.
Chega uma hora, no entanto, em que, por maiores que sejam os recursos, eles simplesmente não dão mais para o gasto. A Petrobrás vive uma fase assim. Simplesmente não dá para empregar tanta gente, pagar salários milionários a uma mão de obra desqualificada e, ainda por cima, remunerar regiamente tantos desocupados e "amigos do rei", mais conhecidos como "consultores de sua majestade". Eles nada fazem de útil, não têm especialidade alguma, todavia, na hora de cavar uma encrenca - ou mesmo uma mera intriga -, revelam-se imbatíveis. E a empresa está na contingência de jogar a mobília no fogo para, assim, produzir algum calor.
No caso da Petrobrás, os escândalos vieram à tona pelo excesso de volúpia e de ganância desmesurada por parte dos ditos consultores que já estavam prestes a incinerar todos os móveis da empresa em troca de alguns trocados.
Em se tratando de Petrobrás, tudo é possível, até mesmo pagar US$ 1,3 bilhão por uma usina em via de sucateamento (a de Pasadena, no Texas), avaliada pelos próprios ex-proprietários em 1/40 disso. Foi a partir desse episódio que a pizza foi para o forno. Mas aí já era escândalo demais. O caso foi crescendo, em escala, do mero erotismo para a mais grosseira pornografia.
Eu mesmo, em minha santa ingenuidade, por um momento cheguei a acreditar na instalação da comissão parlamentar de inquérito (CPI) para apurar o caso Pasadena. Mas qual o quê! Não levei em conta a coesão férrea dos situacionistas. As forças do governo, além de trabalharem coordenadas, têm em cada membro um interesse bem definido pelo qual lutar e, assim sendo, se tornam invencíveis. Ser governista, no Brasil, mais do que uma arte, requer empenho e estômago. É uma arte porque demanda imensa criatividade. Qual biruta de aeroporto, há que saber que os ventos são volúveis e instáveis. A cada momento sopram numa direção e é preciso se fazer de coerente toda vez que eles teimam em mudar.
Eles são como carrapichos, uma praga que está sempre disposta a aderir e, uma vez que o faz, é praticamente impossível desvencilhar-se dela. Seja qual for a natureza do governo, para eles o importante é ter boas relações com o poder, que entendem como uma via de mão dupla. Ou seja, eles fazem todo o serviço sujo, para que os poderosos não tenham de "sujar as mãos", e recebem de volta prebendas e privilégios que a outros não seria de bom tom receber. Mas para eles, acostumados com tarefas grosseiras, tanto faz. Não adianta mudar de governo, porque eles não mudam o seu modo de ser. E, convenhamos, sem eles - os governistas -, é praticamente impossível governar a Nação.
Existem pessoas que colecionam borboletas, outras preferem guardar selos raros. Já essa gente sinistra se dedica a armazenar dossiês. Creiam no que eu digo: não é paranoia minha afirmar que a maioria dos membros do Congresso Nacional - ao menos a parcela que mais se destaca - tem uma ficha bem guardada, e detalhada nos mínimos pormenores, que vai do berço ao túmulo, para a eventualidade de vir a ter alguma utilidade.
Fica a pergunta: mas por que a Petrobrás? Porque ela é e sempre foi lucrativa. E, de mais a mais, é a maior empresa brasileira. Como afirmava Roberto Campos, empresa privada, no Brasil, é aquela que é controlada pelo governo; já empresa estatal é aquela que não é controlada por ninguém...
Assim sendo, quando aparece um negócio graúdo na ponta do anzol, não há santo que lhe resista, nem mesmo aqueles que tenham porventura feito "voto de pobreza".
Há que levar em conta que grande parte dos consultores acima mencionados não tem nada de útil que fazer, e eles nada fazem a não ser tentar cavar novos negócios, valendo-se do bom nome que a Petrobrás ainda tem no mercado.
Já caímos do 12.º para 120.º lugar no ranking mundial das empresas petrolíferas. Para nós, está claro que nem negócios altamente lucrativos, como o do petróleo, resistem a desaforos. Qual surpresa nos reservará o ranking da Forbes no ano que vem?
Do jeito que as coisas vão, teremos no Brasil, em breve, uma nova Pasadena...
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