RODRIGO BOTERO MONTOYA
O GLOBO -
Governo não parece disposto a reduzir desequilíbrios nas tarifas de serviços públicos e no preço dos combustíveis
Há alguns anos, quando os países europeus sofriam as consequências da crise financeira, Cristina Kirchner costumava dar lições em fóruns internacionais e apresentar a condução da economia argentina como um modelo a imitar. Era parte do peculiar estilo diplomático kirchnerista que um editorial de “La Nación”, de Buenos Aires, descreve assim: “Agressivo, arrogante, sempre disposto a criar conflitos, com a indignação e a petulância como componentes centrais permanentes...”
As circunstâncias criaram a necessidade de modificar esse discurso. Em parte porque, apesar das dificuldades, os países europeus começam a sair da crise. Mas, além disso, porque o suposto modelo econômico do regime mostrou-se uma ficção que está desmoronando. Não obstante termos de intercâmbio favoráveis à Argentina, e taxas de juros internacionais baixas, o governo enfrenta condições de estancamento econômico, com um ritmo de inflação superior a 30% ao ano. O nível de reservas internacionais vem caindo. A forma discricionária como se administra o controle de importações cria atritos com os sócios comerciais, incluindo os integrantes do Mercosul.
As autoridades econômicas se esforçam para recompor as relações com a comunidade financeira internacional, tendo em vista a frágil situação econômica. É preciso obter uma elevada soma de recursos externos para evitar um colapso. Isso implicou moderar o estilo prepotente com o qual se tratavam os credores e os investidores estrangeiros. Depois da expropriação, em 2012, do investimento da Repsol na empresa petrolífera YPF, anunciando que não se iria pagar, o governo decidiu negociar uma indenização. A expropriação havia deteriorado, sem necessidade, as relações diplomáticas com a Espanha.
O país aceitou iniciar negociações com os membros do Clube de Paris, para começar a pagar as dívidas pendentes com os governos dos países industrializados. Um obstáculo previsível para a renegociação da dívida em moratória com os países-membros do Clube de Paris é o requisito de que um eventual acordo deverá estar sujeito ao monitoramento do Fundo Monetário Internacional, algo a que a Argentina resiste. Aceitar este requisito, por sua vez, iria requerer normalizar as relações com o FMI, ao qual não se permitiu fazer a revisão periódica da economia argentina nos últimos sete anos.
O governo não parece disposto a implementar um programa coerente para reduzir os desequilíbrios que se acumularam nas tarifas dos serviços públicos, no preço dos combustíveis e nas contas fiscais. Continua utilizando o recurso de emissão monetária para financiar o gasto público. É difícil combater a inflação ao mesmo tempo que se nega sua existência. O uso sistemático da mentira destruiu a credibilidade governamental.
Na etapa final de seu mandato, e sem a possibilidade de se perpetuar no poder, Cristina Kirchner está tendo que reconhecer que os fatos são teimosos e aprender que, como afirmava Keynes, com a economia se pode fazer qualquer coisa, menos evitar as consequências.
Governo não parece disposto a reduzir desequilíbrios nas tarifas de serviços públicos e no preço dos combustíveis
Há alguns anos, quando os países europeus sofriam as consequências da crise financeira, Cristina Kirchner costumava dar lições em fóruns internacionais e apresentar a condução da economia argentina como um modelo a imitar. Era parte do peculiar estilo diplomático kirchnerista que um editorial de “La Nación”, de Buenos Aires, descreve assim: “Agressivo, arrogante, sempre disposto a criar conflitos, com a indignação e a petulância como componentes centrais permanentes...”
As circunstâncias criaram a necessidade de modificar esse discurso. Em parte porque, apesar das dificuldades, os países europeus começam a sair da crise. Mas, além disso, porque o suposto modelo econômico do regime mostrou-se uma ficção que está desmoronando. Não obstante termos de intercâmbio favoráveis à Argentina, e taxas de juros internacionais baixas, o governo enfrenta condições de estancamento econômico, com um ritmo de inflação superior a 30% ao ano. O nível de reservas internacionais vem caindo. A forma discricionária como se administra o controle de importações cria atritos com os sócios comerciais, incluindo os integrantes do Mercosul.
As autoridades econômicas se esforçam para recompor as relações com a comunidade financeira internacional, tendo em vista a frágil situação econômica. É preciso obter uma elevada soma de recursos externos para evitar um colapso. Isso implicou moderar o estilo prepotente com o qual se tratavam os credores e os investidores estrangeiros. Depois da expropriação, em 2012, do investimento da Repsol na empresa petrolífera YPF, anunciando que não se iria pagar, o governo decidiu negociar uma indenização. A expropriação havia deteriorado, sem necessidade, as relações diplomáticas com a Espanha.
O país aceitou iniciar negociações com os membros do Clube de Paris, para começar a pagar as dívidas pendentes com os governos dos países industrializados. Um obstáculo previsível para a renegociação da dívida em moratória com os países-membros do Clube de Paris é o requisito de que um eventual acordo deverá estar sujeito ao monitoramento do Fundo Monetário Internacional, algo a que a Argentina resiste. Aceitar este requisito, por sua vez, iria requerer normalizar as relações com o FMI, ao qual não se permitiu fazer a revisão periódica da economia argentina nos últimos sete anos.
O governo não parece disposto a implementar um programa coerente para reduzir os desequilíbrios que se acumularam nas tarifas dos serviços públicos, no preço dos combustíveis e nas contas fiscais. Continua utilizando o recurso de emissão monetária para financiar o gasto público. É difícil combater a inflação ao mesmo tempo que se nega sua existência. O uso sistemático da mentira destruiu a credibilidade governamental.
Na etapa final de seu mandato, e sem a possibilidade de se perpetuar no poder, Cristina Kirchner está tendo que reconhecer que os fatos são teimosos e aprender que, como afirmava Keynes, com a economia se pode fazer qualquer coisa, menos evitar as consequências.
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