Quem trabalha em escritório e leva, em média, uma hora para ir e outra para voltar do trabalho terá gasto cerca de 400 horas no trânsito ao término de um ano, o equivalente a 16 dias inteiros, já descontados feriados e férias.
A enorme queima de tempo e de energia física e mental é o principal argumento que vêm convencendo empresas e profissionais do setor de serviços a incentivar de funcionários e a colaboradores a executar boa parte das tarefas em casa.
É a solução do home office (escritório em casa), adotado em 23% das empresas no Brasil, aponta a Hays, consultoria especializada em recrutamento. A Sociedade Brasileira de Teletrabalho e Teleatividades (Sobratt) estima que 12 milhões de pessoas já trabalham nessas condições.
O sistema proporciona óbvias reduções de custos operacionais para as empresas. Podem diminuir a área de escritórios, cortar despesas com manutenção, energia, telefone e limpeza. E, no caso da manutenção de restaurante no local, boa redução de custos com alimentação. Afora essas economias, Alvaro Mello, presidente da Sobratt, projeta aumento de 15% a 30% no índice de produtividade dos empregados que trabalham de casa.
A Ticket, líder no setor de vales-refeição, calcula uma economia de R$ 3,5 milhões com a adoção do modelo há cinco anos, apenas com seus 104 funcionários da área comercial.
Apesar dessas vantagens, o professor Rodrigo Ferreira, do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB), ressalta que nem todas as funções e funcionários têm perfil para o expediente a distância: Entre os que tem, aponta os encarregados de análise e os envolvidos em projetos.
Mello, da Sobratt, acrescenta que a adesão ao home office tem sido mais comum em departamentos de vendas, marketing, tecnologia da informação e recursos humanos.
Mas não dá para ver apenas o lado bom. Ferreira adverte que o emprego remoto também pode apresentar suas inconveniências, na medida em que o ambiente caseiro nem sempre ajuda o profissionalismo. Além disso, pode não contar com móveis e iluminação adequados para o trabalho a ser desenvolvido. É preciso ter em conta ainda que, ao trabalhar de casa, as despesas do funcionário com alimentação, energia elétrica e telefonia também podem aumentar - embora as empresas, em geral, se disponham a assumi-las pelo menos em parte.
É preciso também preparar as famílias para a nova rotina. "Além de ensinar o profissional a gerir seu tempo e a se comunicar por meio de recursos virtuais, é importante que os familiares entendam que aquele funcionário não está em casa de folga", diz Luiz Fernando Barbosa, consultor da Deloitte. Para ele, este é um modelo irreversível de trabalho: "Não importa onde a tarefa seja executada. Basta estar conectado à estrutura da empresa".
Essa conexão requer investimentos não apenas em ferramentas de comunicação virtual, mas também em práticas que mantenham o vínculo entre funcionário e empresa. "Se alguém nunca mais aparece no escritório, sai prejudicado o engajamento com os propósitos da companhia", adverte Ricardo Catto, consultor da EY.
A pesquisa da Hays também identificou diferenças de tratamento entre funcionários presentes na empresas e os que operam de casa: "Como nunca está presente nas decisões que apenas são tomadas na hora do cafezinho, o profissional corre o risco de não ser lembrado pelos colegas de trabalho e de perder oportunidades de promoção", diz Juliano Ballarotti, diretor da consultoria.
Mesmo com todas as ressalvas, o home office foi uma das soluções adotadas em Londres e Vancouver para reduzir problemas de mobilidade urbana durante os Jogos Olímpicos de 2012 e os Jogos Olímpicos de Inverno de 2010, respectivamente. A realização no Brasil da Copa do Mundo em 2014 e da Olimpíadas em 2016 pode ser uma boa oportunidade para que esta solução seja adotada também por aqui.
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