O ESTADO DE S. PAULO -
À véspera do réveillon
registra dois episódios emblemáticos do que foi 2013 como ano fértil em
demonstrações de resistência da classe política à travessia para o
século XXI, em que a transparência, e o tão aviltado quanto banalizado
conceito republicano, se impõem como regra de conduta irreversível.
Os dois momentos, que sintetizam as dezenas de maus exemplos de homens públicos, têm como protagonistas dois ex-presidentes do Senado, um novamente no exercício do cargo, e outro que soma à biografia ainda um mandato de presidente da República.
José Sarney e Renan Calheiros desafiam os limites da tolerância geral que os protestos de rua de junho sugerem ter chegado ao ponto final. Pior, ambos refletem, mais que uma postura pessoal - o apego majoritário de autoridades a um modelo que mistura público e privado e traduz prerrogativas de cargos por garantia de privilégios pessoais.
Sarney mostrou que não tem limites quando se trata de defender o clã familiar que governa o Maranhão há décadas. Em defesa do governo de Roseana, sua filha, cuja omissão toma iminente uma intervenção federal na gestão penitenciária, vangloriou-se de manter a violência restrita aos portões da penitenciária.
Difícil imaginar declaração mais reveladora do arcaísmo político que orienta o pensamento e as ações do último grande representante da velha política coronelista, indiferente ao relatório do Conselho Nacional de Justiça que registra, entre outras atrocidades, um vídeo com um preso tendo à mostra tendões, músculos vasos e ossos, após uma agressão que o levou à morte.
O presídio não tem grades mais a separar as celas e as visitas íntimas são realizadas em ambiente coletivo, com abusos sexuais de toda a sorte, cenário que põe o Maranhão, outra vez, na liderança dos piores índices do país, mesmo em comparação com penitenciárias comandadas pelo crime organizado.
Renan se utilizou de um avião da FAB, a cujo uso tem direito em deslocamentos entre seu Estado e Brasília, para um procedimento médico de fins estéticos, escorando-se no questionável cálculo de que não alteraria o custo para o contribuinte se o percurso o levasse a Alagoas ao invés do Recife.
Renan e Sarney fecham um ano em que o Congresso Nacional deu demonstrações seguidas de pouco caso com a pressão da sociedade por mudanças que senão vierem por virtude, virão por imposição.
A falta de limite na leitura do certo e do errado no manual da vida pública é que toma o Poder Legislativo o sujeito da ação conspiratória contra sua imagem, que o PT - primeiro na fila do ciclo de punição iniciado com o mensalão -, insiste em identificar na imprensa.
Alvo real
Deputados do PMDB acreditam que o alvo dos irmãos Cid e Ciro Gomes é o Ministério da Integração. A versão da Saúde seria puro diversionismo.
Qualquer dos dois significará, para a presidente Dilma, uma guerra com PMDB e PT.
Paliativo
A elevação do IPI para automóveis atenua, em ano eleitoral, a revolta dos prefeitos com o impacto das desonerações fiscais, mas não reduzirá a pressão por um Fundo de Participação mais gordo.
Cena
O PSB mantém a fleuma, mas não crê que o PDT troque o apoio a Dilma por Eduardo Campos.
Os dois momentos, que sintetizam as dezenas de maus exemplos de homens públicos, têm como protagonistas dois ex-presidentes do Senado, um novamente no exercício do cargo, e outro que soma à biografia ainda um mandato de presidente da República.
José Sarney e Renan Calheiros desafiam os limites da tolerância geral que os protestos de rua de junho sugerem ter chegado ao ponto final. Pior, ambos refletem, mais que uma postura pessoal - o apego majoritário de autoridades a um modelo que mistura público e privado e traduz prerrogativas de cargos por garantia de privilégios pessoais.
Sarney mostrou que não tem limites quando se trata de defender o clã familiar que governa o Maranhão há décadas. Em defesa do governo de Roseana, sua filha, cuja omissão toma iminente uma intervenção federal na gestão penitenciária, vangloriou-se de manter a violência restrita aos portões da penitenciária.
Difícil imaginar declaração mais reveladora do arcaísmo político que orienta o pensamento e as ações do último grande representante da velha política coronelista, indiferente ao relatório do Conselho Nacional de Justiça que registra, entre outras atrocidades, um vídeo com um preso tendo à mostra tendões, músculos vasos e ossos, após uma agressão que o levou à morte.
O presídio não tem grades mais a separar as celas e as visitas íntimas são realizadas em ambiente coletivo, com abusos sexuais de toda a sorte, cenário que põe o Maranhão, outra vez, na liderança dos piores índices do país, mesmo em comparação com penitenciárias comandadas pelo crime organizado.
Renan se utilizou de um avião da FAB, a cujo uso tem direito em deslocamentos entre seu Estado e Brasília, para um procedimento médico de fins estéticos, escorando-se no questionável cálculo de que não alteraria o custo para o contribuinte se o percurso o levasse a Alagoas ao invés do Recife.
Renan e Sarney fecham um ano em que o Congresso Nacional deu demonstrações seguidas de pouco caso com a pressão da sociedade por mudanças que senão vierem por virtude, virão por imposição.
A falta de limite na leitura do certo e do errado no manual da vida pública é que toma o Poder Legislativo o sujeito da ação conspiratória contra sua imagem, que o PT - primeiro na fila do ciclo de punição iniciado com o mensalão -, insiste em identificar na imprensa.
Alvo real
Deputados do PMDB acreditam que o alvo dos irmãos Cid e Ciro Gomes é o Ministério da Integração. A versão da Saúde seria puro diversionismo.
Qualquer dos dois significará, para a presidente Dilma, uma guerra com PMDB e PT.
Paliativo
A elevação do IPI para automóveis atenua, em ano eleitoral, a revolta dos prefeitos com o impacto das desonerações fiscais, mas não reduzirá a pressão por um Fundo de Participação mais gordo.
Cena
O PSB mantém a fleuma, mas não crê que o PDT troque o apoio a Dilma por Eduardo Campos.
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