Poderá haver uma novidade na economia brasileira em 2014. Os investimentos deverão impulsionar o crescimento bem mais do que fizeram nos últimos anos. Até agora sustentada pelo consumo - que foi muito estimulado com a generosa concessão de créditos e a redução da tributação de itens de grande vendagem, mas se retrai -, a atividade econômica dependerá cada vez mais daquilo que o poder público e as empresas privadas aplicarem na produção e na infraestrutura.
Isso não significará, porém, a retomada do crescimento rápido. Em razão do desânimo de boa parte dos empresários, os investimentos deverão se concentrar não em máquinas, mas em obras de infraestrutura, cuja expansão depende da limitada competência do governo para retirar do papel seus muitos projetos. Assim, de 2013 para 2014 o ritmo da atividade econômica não deverá oscilar muito. Poderá até diminuir.
Esses são pontos comuns de análises do desempenho da economia brasileira em 2013 e das perspectivas para 2014 feitas pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
Embora tenha sido melhor do que o do ano anterior, o desempenho da economia em 2013 foi bastante modesto. A CNI estima que, neste ano, o PIB deve ter crescido 2,3%, mais do que o aumento de 1% observado em 2012. Mas, com base nos dados já conhecidos e nas expectativas do empresariado, ela prevê uma desaceleração em 2014, quando o PIB brasileiro poderá crescer 2,1%.
Vinculado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, o Ipea tem previsões um pouco mais otimistas para o crescimento da economia em 2013 - ano em que o desempenho foi considerado fraco e volátil - e 2014, mas, como a CNI, não prevê grandes mudanças na atividade econômica de um ano para outro.
As limitações financeiras decorrentes da fragilidade da política fiscal levaram o governo a apelar para a participação da iniciativa privada no seu plano de induzir o crescimento por meio dos investimentos. "Por isso a urgência que temos visto para as concessões de infraestrutura", observou o coordenador de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea, Fernando Ribeiro. Para 2014, Ribeiro prevê o aumento da participação das obras de infraestrutura na composição dos investimentos, em detrimento da compra de máquinas e de bens de capital.
Também a CNI projeta menores investimentos em máquinas em 2014, em razão do aumento previsto para a taxa dos juros e da baixa confiança dos empresários. A previsão do Ipea e da CNI é, de certa forma, sustentada pelas pesquisas da FGV sobre a confiança da indústria, que apontam para a existência, ainda, de estoques volumosos. Embora menores do que nos meses anteriores, os estoques ainda inibem a confiança dos empresários, o que limita sua disposição de investir.
Embora as transferências do governo por meio de programas como Bolsa Família e a boa situação do mercado de trabalho - com índices muito baixos de desemprego - tendam a sustentar o consumo, surgem fatores que podem reduzi-lo. Os ganhos reais de salários estão se estreitando, o crédito às pessoas físicas se desacelera, enquanto sobem as taxas de juros médias dos empréstimos e continua alto o nível de endividamento das famílias.
Assim, diz o Ipea, "a desejada aceleração do crescimento depende diretamente da expansão dos investimentos". E, para assegurar o crescimento no futuro, é preciso que esses investimentos resultem em ganhos de produtividade, que possam sustentar ganhos reais de renda sem pressionar a inflação.
O cenário mais provável, no entanto, é de que "a economia permaneça por mais algum tempo na atual trajetória, sem grandes riscos de deterioração, mas também sem grandes possibilidades de dinamização no curto prazo", como prevê o Ipea. Ou, como diz a CNI, "a expectativa é de que a economia brasileira siga com dificuldade de acelerar o ritmo de crescimento, uma vez que a maior parte dos entraves a essa aceleração está fundamentada em questões estruturais, que dificilmente serão solucionadas no curto prazo".
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