Romário, em sua versão futebolística, teve reconhecidos de forma consensual seus méritos de atacante, apesar das polêmicas fora de campo. Como deputado federal, era quase uma unanimidade e, não fosse um detalhe, caminharia para cumprir seu mandato com seriedade pouco vista entre políticos profissionais.
Eleito em 2010 pelo PSB como o sexto deputado mais votado do Rio de Janeiro, Romário desligou-se da sigla no início de agosto, alegando divergências internas. Enquanto esteve sem partido, foi cobiçado por outras legendas e chegou a negociar com "seis ou sete" agremiações interessadas.
Na semana passada, afirmou que estava "99,9% fechado" com o recém-criado Pros (Partido Republicano da Ordem Social). Um dia depois, porém, após ouvir promessas de que terá mais poder no PSB, decidiu retornar à antiga casa.
Questionado acerca do drible, saiu-se com esta pérola: "99,9% não equivalem a 100%, né?".
A declaração de Romário foi de imediato incorporada ao folclore do troca-troca partidário brasileiro. Na crônica dos bastidores eleitorais de 2014, estará ao lado de outras afirmações igualmente velhacas, se bem que proferidas por parlamentares menos famosos.
O deputado Marcos Medrado, por exemplo, sai do PDT para (provavelmente) filiar-se ao novato Solidariedade. Apesar de já ter abandonado cinco partidos, não demonstra pudor em dizer: "Não gostaria de ter saído de nenhum. Espero que essa seja a última vez".
Ademir Camilo também mudou de legenda em cinco ocasiões. Ex-deputado do PSD, ajudou a montar o Solidariedade, que deve ser de oposição, mas (provavelmente) terminará no Pros, aliado do governo. "É lógico que mudar de partido é ruim, mas (...) no papel, é quase todo mundo igual", afirma.
Como eles, cerca de 50 parlamentares negociam --esta é a palavra-- trocar de legenda no verdadeiro feirão formado no Congresso na última semana, após a criação do Pros e do Solidariedade --as regras da fidelidade partidária não se aplicam a novas siglas.
A janela de transferências, para usar uma expressão do futebol, será fechada no sábado, a um ano das eleições. Até lá, a movimentação de muitos parlamentares confirmará que no Brasil, infelizmente, a diferença entre os partidos poucas vezes é maior que 0,1%.
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