Depois de três mandatos presidenciais como dono das regras de funcionamento da aliança partidária montada em 2003 e consolidada em 2006 com a entrada oficial do PMDB na coligação de governo, o PT enfrenta uma espécie de rebelião dos reservas.
Continua sendo o protagonista, mas seus aliados já não se conformam com o papel de coadjuvantes passivos. Por uma razão simples e objetiva: eles precisam sobreviver, o que significa disputar eleições locais para se fortalecer no Congresso e no jogo político como um todo, além de trabalhar com a hipótese de um plano B no âmbito federal.
É o que provoca essa movimentação toda nos partidos ditos governistas, cuja adesão é cobiçada pelos oposicionistas que lhes oferecem em troca espaço que os petistas imaginavam em seu projeto inicial ocupar paulatinamente até se tornarem irremediavelmente hegemônicos. Na política e na sociedade.
Como a banda não toca nesse ritmo e ninguém espera o aniquilamento de braços cruzados, cada um dá o seu jeito na base do salve-se quem puder. A boa posição da presidente Dilma Rousseff nas pesquisas nessa altura não é garantia de nada. Nem de vitória nem de parceria leal nos Estados, de modo a que os outros integrantes da aliança possam fugir do destino que coube a partidos de oposição esmagados pela fortaleza governista.
Foi isso que moveu o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a se afastar do PT a partir da eleição municipal de 2012 - quando percebeu que o combinado com o ex-presidente Lula em relação à disputa em Recife não era "à vera"; apenas uma maneira de ganhar tempo, levá-lo na conversa e mantê-lo atrelado ao governo com a vaga promessa de uma candidatura presidencial de 2018.
"Tem gente ainda esperando o cumprimento de acordos feitos em 2002", comentou Campos com amigos no início do processo de decisão de se candidatar ou não em 2014.
A desconfiança também é o pano de fundo da rebelião que se avoluma no PMDB, onde a cada dia aparece uma seção estadual querendo sair do jugo do PT. Há ainda a tentativa de antecipar a convenção que decidirá sobre a aliança presidencial para 2014. Já são 11 os Estados que reivindicam liberdade para voar.
E mesmo que não haja convenção antecipada, na data oficial o PMDB pode até não romper, mas não ficará unido a reboque do projeto alheio.
Água benta. Se o combinado entre Marina Silva e Eduardo Campos era não dar espaço para que se disseminasse a cizânia entre os dois, a ex-senadora foi a primeira a quebrar o acordo.
Ao dizer - no programa Roda Viva - que a aliança com a Rede permitiu a Campos ganhar "um pouquinho mais de substância" para fugir à construção de uma candidatura "no diapasão" da velha política.
Ou seja, considera-se uma espécie de salvação da lavoura sem cuja presença o pernambucano ficaria entregue à própria inconsistência e obsolescência.
A murada. Quando José Serra indica que não abandonou o projeto de se candidatar a presidente, o gesto sugere que existe margem para Aécio Neves recuar da candidatura dependendo das circunstâncias (adversas) à frente.
Seria a única hipótese de o PSDB dar a legenda a Serra: por cessão do mineiro, presidente e praticamente absoluto no partido. O ex-governador de São Paulo certamente sabe disto.
De fato. "Toda xenofobia é burra", disse a presidente Dilma Rousseff. Aplica-se à crítica do então candidato Lula da Silva, em 2002, sobre a encomenda de uma plataforma para estaleiro de Cingapura no governo Fernando Henrique: "Vocês já viram os Estados Unidos ou a Alemanha contratando empresas que não sejam de seus países"?
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