Venezuela descamba para a hiperinflação
O
dólar supera a barreira psicológica de 50 bolívares na Venezuela.
Produtos em escassez são remarcados duas vezes por dia, quando eles
existem a venda nas prateleiras dos supermercados.
Francisco Vianna
O
câmbio negro ou “mercado paralelo” tem sido a única forma que a grande
maioria dos venezuelanos têm de adquirir a moeda estadunidense à
vontade, sem o controle do socialismo bolivariano.
Muitos
estão vendendo o que têm e indo embora do país, e para isso precisam de
dólares. O mercado de rua tem sido amplamente combatido pelo governo
‘bolivariano’ e a operação envolve riscos, uma vez que os dólares que
não procedem da compra oficial do governo podem ser confiscados pelo
regime de Caracas.
Isso,
todavia, não tem diminuído a procura pela moeda americana na mão dos
cambistas e doleiros do chamado “mercado paralelo” onde o dólar já é
vendido a mais de 50 bolívares.
O
valor alcançado pela divisa americana nas ruas da Venezuela, segundo os
especialistas, já representa a transposição de uma barreira psicológica
que acreditam ser o limiar da hiperinflação que é de 50 bolívares por
dólar, numa demonstração do adiantado grau de deterioração econômica do
país, como geralmente tende a ocorrer nos regimes socialistas.
Nesta
semana, as ruas cotavam o dólar “paralelo”, em 53,51 bolívares por
dólar, em Caracas, conforme o website www.dolartoday.com que acompanha
as transações do mercado negro. Essa cotação de rua do dólar representa
uma desvalorização do bolívar da ordem de 75,08 % ao ano, em relação ao
valor da moeda americana negociada há 12 meses e que era de 13,33
bolívares por dólar. Ao câmbio oficial, só tem acesso um pequeno grupo
de empresários cuidadosamente selecionados pela cúpula do regime de
Caracas, que os vende a moeda dos EUA por 6,3 bolívares, valor altamente
subsidiado pelo governo e à custa do trabalho do povo.
Comerciante em Caracas, anunciando a venda da sua loja de comércio com o humor típico da desilusão socialista.
No
entanto, a maioria dos economistas do país acredita que o dólar está
supervalorizado num nível insustentável e prognosticam que o governo de
Nicolás Maduro vai se ver obrigado a desvalorizar oficialmente a moeda
nacional após as eleições municipais de dezembro. O nível recorde de
valor de troca alcançado pelo dólar americano no país, acreditam os
analistas, decorre de dois fatores: a diáspora e a falta de liquidez do
estado socialista bolivariano. A diáspora econômica é a que ocorre com a
saída do país dos capitais privados e da mão de obra especializada que
há algum tempo migra para a vizinhança sul-americana, principalmente
Colômbia, Peru, Chile e Brasil.
A
falta de liquidez do estado faz com que o governo retenha a moeda
americana ao máximo para honrar seus pagamentos aos seus sócios
estratégicos (Rússia, Irã, China e países da ALBA), liberando assim um
volume de divisas em moeda forte muito aquém do necessário para manter a
economia em funcionamento.
Para
compensar, de forma inconsequente – como soe acontecer nesse tipo de
regime –, o Palácio Miraflores aumenta enormemente o volume da moeda
circulante sem lastro, em bolívares, que fatalmente levará a taxa de
inflação a fechar o ano acima dos 50% ao ano.
De
fato, o próprio governo reconheceu esta semana que a inflação
anualizada em setembro foi 49,4 por cento, seu nível mais alto em 13
anos.
“Com
a escassez de dólares em oferta cresce a demanda daqueles que precisam
da moeda americana até para ir embora do país. São poucos os que vendem
dólares”, disse um professor de economia da Universidade Central de
Venezuela. “Isso gera uma escassez progressiva de produtos básicos de
consumo que, na Venezuela, hoje está chegando às raias do insuportável e
provavelmente o regime se certificará disso com os resultados das
eleições municipais de dezembro próximo, mesmo que haja todos os
mecanismos eleitorais fraudulentos que tendem a beneficiar a situação e
que transformam o regime cada vez mais numa caricatura de democracia”,
acrescentou o professor.
Com
os bolsos cheios de bolívares sem valor, os venezuelanos não sabem o
que fazer com eles, e não encontram nos mercados muitos produtos básicos
tais como açúcar, óleo de cozinha, carnes, papel higiênico, apenas para
citar alguns.
Com
a diáspora venezuelana, agrava-se o esvaziamento de capitais privados e
de mão de obra qualificada, com redução acentuada da classe média e
queda intensa da capacidade produtiva do país tanto no setor primário
(agropecuário), como no secundário (comercial e industrial) e mais ainda
no terciário (serviços). A própria PDVSA, fonte maior de todas as
divisas em moeda forte do país, está tendo sérios problemas de
manutenção de suas instalações de extração e refino de petróleo por
escassez de mão de obra qualificada, com sua produção tendo sofrida uma
queda de quase um terço em relação ao que produzia há cerca de cinco
anos atrás.
As
estatizações por confisco puro e simples de ativos privados fizeram com
que o governo chamasse a si a responsabilidade de continuar a manter
uma produção que está acima de sua capacidade, mesmo reduzindo
drasticamente os salários de seus operadores (o que deixa de fora a
seleta burguesia do politiburo instalado em Caracas).
Assim,
cada vez mais, Caracas se vê obrigada a trocar petróleo por tudo, uma
vez que quase mais nada se produz no país. Os próceres do regime
acreditam ainda que o petróleo do país poderá comprar tudo o que o povo
necessita, ilusão que a prática começa a desfazer como uma imagem de
fumaça.
Segundo
alguns economistas sul-americanos, o país poderá experimentar uma série
de “pacotes econômicos” tal como ocorreu no Brasil após a farsa da
“abertura democrática” pelo regime militar, com a diferença fundamental
de que, no maior país da América do Sul, o regime militar teve a
capacidade de montar uma infraestrutura mínima para permitir um
crescimento econômico vigoroso. Teve também o bom senso de um governo de
centro-esquerda para criar um plano que possibilitasse o controle da
inflação e a existência de uma moeda forte e o respeito às leis da
economia de mercado.
Ao
contrário do Brasil, a Venezuela não tem nada parecido com isso e está
se tornando um país de pobres e miseráveis, uma cópia do que ocorre em
Cuba, a fonte inspiradora do falecido Hugo Chávez Frías. O déficit
fiscal no país caribenho já chega a 20% do seu PIB e o governo nunca
esteve com suas reservas de moeda forte tão baixas, além de continuar a
imprimir dinheiro sem lastro de modo frenético.
O
que o ‘socialismo bolivariano’ está fazendo com a Venezuela pode ser
comparável a uma “política de terra arrasada”, que se traduz em
hiperinflação e paralisação com deterioração do parque produtivo e queda
da produção petrolífera. Com os valores do barril de petróleo
progressivamente em baixa – e ainda sem mostrar os reflexos da produção
norteamericana de hidrocarbonetos derivados do xisto betuminoso – a
tendência é a da exportação do petróleo venezuelano continuar a
diminuir.
Assim,
como é muito mais difícil estabilizar uma economia baseada apenas na
exportação dessa mercadoria, as pressões internas e externas sobre o
regime de Caracas deverão naturalmente aumentar o que permite que os
entendidos prevejam dias mais turbulentos para o país.
Nós
já vimos esse filme aqui no Brasil, mas tivemos a sorte de contar com o
patriotismo e o bom senso dos militares para restaurar a ordem no
galinheiro. Ordem essa que, nos últimos dez anos vem sendo deteriorada
mais uma vez e tem impedido que o Brasil deslanche de vez como a
primeira grande potência latina mundial.
Brasil
e Venezuela estão necessitando – este mais do que aquele -- da
intervenção de patriotas de bom senso para voltarem a por ordem na zorra
em que estão se tornando.
Título e Texto: Francisco Vianna, (da mídia internacional)
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