Quando era proibido acreditar que o Brasil tinha petróleo, um homem acreditou e gritou alto que o Brasil o tinha: Monteiro Lobato. Acreditou e foi preso por isso – ironicamente, pela polícia do ditador que, já presidente, sancionou a criação da Petrobras. É de Lobato a afirmação “um país se faz com homens e livros” e, provando a coerência de sua crença, fundou a primeira editora brasileira, investindo e perdendo seu próprio dinheiro.
Agora, quando a exploração comercial do petróleo da camada do pré-sal parece estar começando a se viabilizar, é oportuno lembrar esse e outros visionários que, com coragem intelectual e desprendimento, contribuíram decisivamente para a construção de nossa consciência nacional.
Podemos estar no limiar de uma era de prosperidade; talvez nos tornemos grandes exportadores de um produto que, por algum tempo, continuará a ser a principal fonte de energia do planeta. E é conveniente que tenhamos em mente o péssimo uso que já fizemos dos recursos advindos de vários ciclos econômicos de matriz extrativista: pau-brasil, ouro, açúcar, cacau, borracha e outros. O que nos restou foram casarões em ruínas e imensas crateras, serras peladas e terras devastadas; e o pequeno consolo de visitar igrejas belamente revestidas de dourado. Nada desta riqueza parece ter gerado divisas verdadeiras, duradouras. Nenhum bom sistema educacional foi estabelecido ao alcance de todos. Para a maioria dos brasileiros, é como se nunca tivessem existido.
No entanto, pelo menos no campo das intenções, agora parecemos estar bem: segundo lei aprovada, o total dos lucros do petróleo do pré-sal que caberá ao Brasil deverá ser empregado em educação (75%) e saúde (25%). Todo cidadão tem o dever de fiscalizar o bom uso desse dinheiro, garantir que todo ele chegue de fato aonde deve e seja utilizado de modo eficaz; evitando a instalação de hospitais e escolas em prédios suntuosos, cuja construção certamente será lucrativa, mas não contribuirá em nada para suas finalidades; evitando as compras milionárias de equipamentos inúteis, o desperdício, o compadrio, os grandes negócios.
A educação brasileira é extremamente carente de boa gestão. Recursos são necessários, mas sozinhos não garantem o porvir luminoso que desejamos ao processo educativo; muito dinheiro mal aplicado não gerará a formação de bons cidadãos, desenvolvimento tecnológico e saúde populacional.
Monteiro Lobato estreou na literatura adulta com um livro de contos no qual aparece pela primeira vez o Jeca Tatu, caboclo indolente e doentio, emblemático do Brasil rural do início do século passado. O autor não demonstra pelo personagem a menor piedade ou condescendência; retrata-o com raiva, ataca-o com fúria, culpa-o pelas suas próprias misérias, pelo comodismo, pela ignorância, pelo conformismo religioso e político. Aquilo que nos parece maldade é, na verdade, amor: amor pelo ser humano manifestado por alguém que acreditava que devemos ser donos de nosso destino, que não aceitava o atraso e a desgraça.
Tantos anos depois, lamentavelmente pouco foi alterado desta realidade: continuamos um país promissor, o país do futuro ainda refletindo o passado. Nossa dívida com as gerações futuras é imensa. Em algum momento teremos de honrá-la.
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