Bolsa Família e a doença do politicamente correto
Contraponto
Edição 1999 de 27 de outubro a 2 de novembro de 2013
Irapuan Costa Junior
Pensando bem, ser “politicamente correto”, entre outras coisas, significa não mostrar os fatos como eles são, não “dar nomes aos bois”. Vamos a alguns exemplos: o programa Bolsa Família é inatacável. Nenhum político da situação ou da oposição tem a coragem de dizer o que ele é na realidade: um programa que acorrenta ao governo os miseráveis — a quem não se mostra uma saída — para que continuem pagando com o voto a esmola, benesse vendida como sendo do PT, quando é, na verdade, dos impostos, da sociedade.
Ninguém diz que o programa acorrenta os preguiçosos, pela falta de critério na concessão, estimulando a vadiagem, também ela presa eleitoralmente. Nenhum vagabundo, que busca religiosamente seu dinheirinho todo mês na Caixa Econômica, embora possa trabalhar para ganhá-lo honestamente, quer correr o risco de perder a mamata numa mudança de governo. Uma mudança pode redundar em um governo mais criterioso do que o atual (o que não é difícil), e numa revisão desse tipo de prodigalidade.
Prova incontestável, claríssima, de que falta cuidado na distribuição farta dessas bolsas: foram descobertos mais de 2 mil políticos com mandato (na maior parte, mas não na totalidade, vereadores) recebendo, descaradamente, a Bolsa Família, embora embolsassem os vencimentos de agentes políticos, que, sabemos, não são baixos.
Há um precedente aí, que não foi mencionado: quem se candidata a vereador e é eleito nunca é um marginalizado da sociedade, que necessita de assistência pública para a sobrevida. É alguém que tem liderança na sua comunidade, que tem recursos para uma campanha política — que sempre é cara —, que não precisa mendigar — ainda que dinheiro público — para sobreviver. Muito menos precisaria depois de eleito. Pela quantidade dessas concessões, dificilmente conseguirá uma oposição fazer pender a seu favor um prato da balança eleitoral.
Outro exemplo está nas ruas, em qualquer das últimas manifestações: seja numa greve justa de professores, seja num protesto contra um leilão de poços de petróleo. Infiltram-se nessas manifestações grupos constituídos da escória comportamental: vão ali para destruir tudo o que de útil encontram pela frente, desde uma singela lixeira de rua até carros policiais, passando por lojas de veículos, agências de bancos e carros da imprensa. São integrantes de partidos de extrema esquerda, componentes de movimentos sociais marginais como o MST, ladrões ou apenas baderneiros.
O “politicamente correto” na imprensa os chama de “manifestantes” ou “ativistas”, quando, na verdade, são bandidos (que até as máscaras, símbolo secular da bandidagem, usam); o “politicamente correto” no governo impede que a polícia os combata com a devida energia (o que, como vemos, os estimula), em nome de uma falsa liberdade; o “politicamente correto” na própria polícia, sempre pressionada, faz com que os poucos presos sejam logo liberados sem maiores consequências (o que é mais um estímulo para o vandalismo).
Não conheço nenhum país verdadeiramente civilizado que trate com tal condescendência uma marginalidade como essa que vemos, todos os dias, no noticiário.
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