É uma confissão de incompetência a explicação dada pelo governo para o atraso na entrega de 130 mil cisternas à população afetada pela seca no semiárido brasileiro.
A promessa, feita pela presidente Dilma Rousseff em abril, deveria ter sido cumprida em julho --a temporada de chuvas termina no meio do ano. No entanto, somente 59 mil reservatórios de água foram entregues naquele período, como mostrou reportagem desta Folha.
De acordo com o Ministério da Integração Nacional, responsável pelo programa Água para Todos, a complexidade das licitações previstas para este ano, bem como da logística de transporte dos tanques, retardou o cronograma.
Faz pouco sentido o esclarecimento. Primeiro, porque o projeto existe desde 2011, e seria curioso que apenas agora certos percalços se tornassem conhecidos.
Mais importante, as cisternas não entregues, de polietileno, foram escolhidas há dois anos --em detrimento das de alvenaria, mais baratas e construídas com mão de obra local-- porque supostamente permitiriam instalação mais célere.
Assumindo que estava correta a justificativa dada pelo ministério ao anunciar a compra dos tanques plásticos --e que não havia interesses escusos nessa negociação--, a conclusão é evidente: a pasta não teve competência para executar o objetivo anunciado por Dilma.
A cargo do mesmo ministério, o primeiro canal da transposição do rio São Francisco, que a princípio seria inaugurado pelo ex-presidente Lula em 2010, avançou apenas 1% no último ano e não ficará pronto até o fim do atual governo. Segundo o duvidoso discurso oficial, tais obras beneficiarão cerca de 12 milhões de pessoas.
O atraso nessas duas frentes deixa milhões de famílias com acesso precário à água nos períodos de seca. Tanto pior, o Nordeste atravessa uma das mais graves estiagens dos últimos 60 anos.
Ainda que a aposentadoria rural e os programas assistenciais amenizem os flagelos impostos pelo clima, são graves os efeitos da seca. Milhões de famílias veem-se impedidas de criar gado e cultivar a terra. Quando possível, enchem baldes em açudes; do contrário, só lhes resta os caminhões-pipa.
Nos dois casos, torna-se mais acentuada sua dependência em relação às transferências de renda.
É nefasta a hipótese de que políticos locais e federais tenham interesse em perpetuar essa relação de dependência. Por ridículo que pareça, é melhor imaginar que simplesmente não tenham capacidade para enfrentar os desafios oferecidos por este país.
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