RIO DE JANEIRO - Há dias, neste espaço ("A cidade é deles", "Opinião", 30/8), comparei o uniforme dos "black blocs" --coturno, calças, mochila, camiseta e jaqueta pretos-- com a fantasia do Batman. Um e outra só podiam ser usados à noite, eu disse, porque, à luz do sol, eram ridículos. E insinuei que, até há pouco, muitos "black blocs" deviam estar vestidos de Batman e brincando de super-herói no play.
Na última quarta-feira, um deles, com capa, máscara, luvas, ceroula e botas do Homem-Morcego --talvez compradas na Casa Turuna, na Saara--, intrometeu-se na manifestação dos professores cariocas, que lutam por reivindicações específicas. A presença do fantasiado não condizia com a sisudez do protesto diante da Câmara Municipal.
Na noite seguinte, na Cinelândia, cem "black blocs" hostilizaram o pessoal de cinema que chegava para a abertura do Festival do Rio, um evento de que a cidade se orgulha. Entre as palavras de ordem, não se sabe por que, o já surrado "Não vai ter Copa!". Aliás, em junho, eles já haviam tentado invadir o Paço Imperial e vandalizar uma exposição de pintura. Com isso, ficamos sabendo que os "black blocs" não gostam de cinema, nem de futebol, nem de artes plásticas.
Gostam, então, de quê? De rock, sem dúvida, porque o Rock in Rio transcorreu em paz, só tisnado pelos inevitáveis roubos de celulares, comas alcoólicos e diarreias por excesso de batata frita. Devem gostar também de "junk food", porque nenhuma loja do Burger King foi atingida até hoje pelos seus quebra-quebras. E gostam de advogados, sob cujas togas se escondem quando se veem ameaçados.
Já sem nenhum apoio popular, os "black blocs" limitam-se hoje a si próprios. E o contingente tende a diminuir. Está próximo o dia em que um ou outro ainda sairá individualmente às ruas, no melhor estilo "Black Bloc do Eu Sozinho".
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