por Percival Puggina.
As fotos são inacreditáveis. Quando estes dias forem uma triste lembrança e amarga lição, as imagens da greve dos caminhoneiros em 2018 ilustrarão momentos em que o Brasil, levado à beira do abismo, soube pisar no freio. Soube? É o que ainda espero, ao escrever estas linhas.
Enquanto o Brasil estertora no acostamento, uma parte da sociedade parece delirar. O país vai quebrar? Deixa quebrar. Quem tem trabalho não está conseguindo trabalhar e quem está produzindo não consegue produzir? Deixar estar. Quem tem o que vender, não encontra quem venha comprar? Faz parte. O PIB está levando um tombo muitas vezes bilionário? Não importa. Mas afinal, o que importa? Pois é, li que na pauta dos caminhoneiros existem itens que me agradam, como a queda do preço da gasolina, e o fim das urnas eletrônicas. Ah!
No cardápio das postulações há para todos os gostos. O que importa é capturar apoio popular para a mobilização dos “heróis” que, com insuperável eficiência, conseguiram mostrar a Temer o quanto todos, inclusive eu, o desprezamos. E sim, claro, isso é muito mais importante do que o Brasil.
Assisti, há alguns minutos, vídeo em que um caminhoneiro aos gritos, perguntando à longa fila de espera diante de um posto de combustível se os cidadãos que ali estavam pretendiam comer gasolina, porque, quisessem ou não, iria faltar alimento. O militante estava convencido de que a população devia subordinar-se às determinações do multiforme politburo grevista e ficar hibernando em casa enquanto eles cuidam de deteriorar a situação de todos. Fica proibido trabalhar. Ficam proibidas todas as atividades que envolvam direito de ir e vir. “Estátua!”, brincavam antigamente as crianças, obrigando os demais a permanecerem como estivessem. E assim comandam, hoje, os novos senhores de nosso cotidiano.
É quase inacreditável que tanta gente se deixe iludir pelas artimanhas de um movimento que foi infiltrado pelo que há de pior na política brasileira. A infiltração os fez afinar-se com os mesmos petroleiros que se tapavam de alaranjado com Lula e Dilma em reiterados comícios enquanto a Petrobras era saqueada e vampirizada a ponto de se tornar escárnio mundial e miniatura de si mesma. A infiltração passou a acolher terroristas, black blocs, a escória de 2013 e representantes dos hospedeiros da carceragem da Polícia Federal em Curitiba. Os que se deixaram seduzir pelo movimento dos caminhoneiros parecem não perceber que se tornam reféns, meros objetos, favas contadas, na chantagem que eles impõem ao Estado.
Basta ouvi-los quando disseminam áudios e vídeos em falsa surdina ou tons ameaçadores para reconhecer o vocabulário. Qualquer pessoa com experiência em linguagem política sabe o que está na cabeça de quem assim se expressa. Buscam o caos com intuito revolucionários.
Não é mediante um cardápio de propostas difusas e confusas que se avança com seriedade pela via democrática, mas com a legitimação eleitoral de propostas consistentes. Cinco boas medidas de combate aos inimigos do Brasil, para pautar a eleição de outubro seriam: 1) não reeleger corruptos, coniventes e incompetentes; 2) agravar a lei penal e combater a impunidade; 3) diminuir em 10% a carga tributária, com redução compatível do custo do setor público mediante alterações constitucionais que o permitam; 4) extinção dos privilégios adquiridos; 5) fim do foro privilegiado.
Quem, tendo uma eleição ali adiante, opta pelo caos para fazer revolução, quer o caos e não a democracia. O caos é o tempo dos piores, dos oportunistas, dos bandidos, dos sem escrúpulos. Não é o tempo dos democratas nem dos estadistas. Perguntem a cubanos e venezuelanos.
extraídadepuggina.org
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