por Mary Zaidan
Candidato à Presidência da República pela terceira vez, Ciro Gomes está convencido de que pode adular o capital, avançar no Sudeste e ser ungido pelos sem-Lula. Quer marchar ao lado do PSB e do DEM, do PT e do MDB. Tem insistido ainda que o segundo turno será disputado entre ele e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, ambos suando muito para tentar chegar aos dois dígitos nas pesquisas.
Sem tirar nem pôr, “navega na maionese”, expressão que utilizou para pirraçar o petista em 2002. Ou talvez aposte no desmemoriamento nacional, moléstia que, para a alegria de boa parte dos políticos, é endêmica no país.
Filhote do PDS, nome assumido pela Arena para desvencilhar-se da imagem de partido de sustentação da ditatura militar, Ciro passou por outras cinco siglas – PMDB, PSDB, PPS, PSB e PROS – antes de filiar-se ao PDT. Diga-se, ao mesmo PDT que ele repudiava. “A gente não pode se comportar como uma biruta de aeroporto”, disse ele em 2004 ao rejeitar a hipótese de uma aliança entre o PPS, seu partido à época, e os brizolistas.
Boquirroto, Ciro encarna a biruta de vento. Fala bem e mal de tudo e todos. Elogia e escorraça companheiros e adversários, coleciona inimigos dos quais já foi amigo fraterno.
Nos últimos tempos assumiu um discurso meio messiânico repetido na última sexta-feira, em Tiradentes (MG). Caberia a ele livrar o país do fascismo representado por Jair Bolsonaro. “Quando Lula, que é o maior líder popular do país, sofreu o que sofreu, a mim me toca agora, talvez, nesse campo progressista, a responsabilidade maior de não deixar o país descambar para o retrocesso”.
O grande líder que ele aponta hoje foi enxovalhado há menos de oito meses quando Ciro tentava agradar outra plateia acusando Lula de “brincar de Deus” ao “botar Michel Temer na linha de sucessão, impor Dilma sem experiência num dedaço como presidente, entregar Furnas a Eduardo Cunha”.
Por ofensas aqui e insultos acolá, Ciro responde a quase oito dezenas de processos na Justiça. Foi condenado em uma ação movida pelo presidente Michel Temer, a quem ele se referiu como “ladrão fisiológico”. Já chamou eleitor de “burro” e Fortaleza, cidade da qual foi prefeito antes de governar o estado do Ceará, de “puteiro a céu aberto”. Só para agredir a ex-prefeita Luizianne Lins (PT), um “coronelzinho de saias”.
Assim como as estripulias verbais de Bolsonaro, o adversário que ele julga ter o dever de combater, as de Ciro têm a cara de rompantes sinceros, e agradam a muitos desavisados. Mas servem apenas à conveniência do candidato que adora manter a imagem de “língua ferina”, como se isso agregasse verdade aos seus ditos, não raro indecorosos.
Só revelam a ausência de seriedade, a incapacidade de tratar o outro com respeito. E, portanto, a incompatibilidade com o cargo de primeiro mandatário do país.
Mary Zaidan é jornalista
Com Blog do Noblat, Veja
extraídaderota2014blogspot
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