por Vilma Gryzinski
Dá raiva e vergonha ler sobre o que Vanda Pignato fez em El Salvador.
Mesmo sabendo que o dinheiro que elegeu seu ex-marido, Mauricio Funes, saiu do mesmo bolso nacional que sustentou o assalto coletivo no Brasil, a roubalheira num país pequeno e desvalido como El Salvador é particularmente repulsiva.
Para cuidar do filho do casal presidencial, por exemplo, Vanda recrutou a própria irmã e o cunhado, Cristina e Tiago Cabral Vasconcelos.
Os desvelados tios recebiam entre 15 mil e 17 mil dólares por mês pela tarefa, fora o aluguel do apartamento num bairro chique em San Salvador.
A informação consta dos depoimentos de testemunhas no processo aberto pela Procuradoria Geral, que levou à decretação da prisão de Vanda.
Ela está hospitalizada com grave infecção renal, sequela da quimioterapia feita para combater o câncer do endométrio sofrido quando ainda era a primeira-dama e foi trocada por outra mais jovem durante a doença.
O ex-marido, foragido na Nicarágua, é acusado de desvio de 351 milhões de dólares. Ex-jornalista, ele era um idealista que entrou para a política para melhorar a vida de um país com alto índice de pobreza.
Vanda, militante do PT, simpática e falante, acostumada a usar vestidos curtos e justos para ressaltar as curvas cirurgicamente acentuadas, também parecia comprometida com propostas generosas e éticas, voltadas especialmente para as mulheres salvadorenhas.
Como outros líderes da esquerda latino-americana, os discursos bonitos não só despencaram diante das tentações do poder como ganharam contornos grotescos.
A paulista bancava viagens e mordomias para a família toda. Não ganhava salário como secretária da Inclusão Social, cargo que manteve depois que o marido a trocou por outra, mais jovem e mais cirurgicamente projetada, e deixou a presidência.
Mesmo assim, segundo o processo, gastou 862 mil dólares em passagens, hospedagem e outros confortos para a família (El Salvador deixou de ter moeda própria e usa o dólar americano).
O total de gastos incluídos mencionados no processo é menor, 165 mil dólares, incluindo 58 mil dólares em despesas de cartão de crédito.
Ao todo, os dois ramos familiares do casal presidencial consumiram 4,6 milhões de dólares em gastos indevidos, incluindo o uso de guarda-costas militares para os pais de Funes em viagem à Disney.
Quem precisa de guarda-costas na Disney? Corruptos latino-americanos, embriagados pelo poder e suas mordomias, ridículos e incautos no exibicionismo, como aparece nas fotos viralizadas da irmã e do cunhado de Vanda no jato presidencial (ambos também estão sendo processados, à revelia).
Outros hábitos em comum: um assessor presidencial ia pessoalmente ao Banco Hipotecario, um dos antros da mamata, enchia sacos grandes de lixo com dinheiro e levava para a farra.
Nada menos que 102 testemunhas, incluindo funcionários de vários níveis e empregados domésticos, colaboraram para a investigação chefiada pelo procurador-geral Douglas Meléndez, responsável por um vasto e meticulosa levantamento da “delinquência organizada para extrair fundos públicos”
O total de dinheiro desviado no “saque” aos cofres públicos equivale a 1,5% do PIB de El Salvador, um país conhecido por ter, simultaneamente, vulcões ativos, terremotos e o maior índice de homicídios do planeta (alterna com Honduras na categoria).
A presidência de Funes já começou envenenada pelo fator altamente tóxico proveniente do Brasil.
Segundo o famoso criador de campanhas nacionais, a construtora Odebrecht deduziu da “conta PT” os 5,3 milhões de reais empregados clandestinamente para abrilhantar a campanha de Funes. Teve um dedinho de Vanda para ajudar o marido.
Vitoriosos, locupletaram-se.
Entre 2009 e 2014, a roubalheira de Funes beneficiou “amantes, testas de ferro, parentes e até a família da sua esposa na época”, anotou o jornal El Diario.
“Os brasileiros chegaram ao país para participar de um dos roubos do século, para fazer a festa com o dinheiro dos contribuintes salvadorenhos”, escreveu o jornal sobre as 166 viagens de familiares de Vanda Pignato – um sobrenome que permite o trocadilho, em espanhol, com “piñata”, a brincadeira com o pote de barro que dá mimos quando quebrado.
Vanda atualmente tem o cabelo muito curto de quem passou por quimioterapia e uma imagem diferente da mulher exuberante que desfilava com seus presidentes, o do Brasil e o de El Salvador.
Quando foi traída pelo marido, que acabou ficando com a outra, a periguete Ada Michelly, ganhou a simpatia de muitas salvadorenhas que se identificaram com a imagem de mulher lutadora, assolada pela doença e a infidelidade conjugal.
Na verdade, ambas, titular e substituta, estavam enfiando a mão no cofre de todos os salvadorenhos, mulheres e homens de um país com índice de homicídio de 65 por 100 mil e 100% de presidentes corruptos (um foi preso, outro – Funes – está foragido e um terceiro morreu antes da cana).
Como brasileiros igualmente assaltados, só podemos pedir desculpas pelos crimes cometidos pelas nossas costas, sob nossa bandeira, contra um país que não precisava ter bandidos importados.
extraídaderota2014blogspot
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