Pedro do Coutto
Os bandos de ladrões que a partir de 2003 assaltaram a economia nacional, além de gigantescos desvios financeiros, roubaram até a emoção e o entusiasmo do povo brasileiro. É o que constata pesquisa do Datafolha publicada na edição de domingo da Folha de S.Paulo e comentada por Mauro Paulino e Alessandro Janoni, diretores do Instituto. O levantamento revelou um recorde em matéria de desinteresse pela Copa do Mundo alcançando 53% da população.
Desde a Copa de 1950, a primeira realizada após guerra, nunca se evidenciou um desinteresse tão grande. As ruas do passado eram coloridas enfeitadas com emblemas, reunindo grupos que discutiam futebol.
TRANSFORMAÇÃO – De paixão nacional, como dizia Nelson Rodrigues, o futebol transformou-se em uma preocupação secundária. O fenômeno só pode ser explicado por uma apatia decorrente das decepções gigantescas com que homens e mulheres passaram a conviver, cada dia explodindo um escândalo novo atrás do outro.
Lembro que em 1950 adaptaram até uma marcha para a seleção numa versão musical do trevo de quatro folhas, música americana de sucesso no musical “Anos Dourados”, retratando a vida do cantor Al Johnson. Em 1970, governo Médici, plena ditadura, o povo cantou a marchinha de Miguel Gustavo “90 milhões em ação”, relativa à população existente àquela época.
A emoção tomava conta das ruas, bairros, praças. Lembro Nelson Rodrigues outra vez: a seleção é a pátria de chuteiras. Mas no momento atual a emoção de ser brasileiro ou brasileira recuou substancialmente.
VERGONHA – Do orgulho passamos a nos aproximar de uma sensação de vergonha. Os problemas se eternizam, como a saúde, segurança, educação e saneamento básico. Um cenário iluminado pelas fotos e filmes focalizando os 51 milhões de reais do ex-ministro GedDel Vieira Lima, que criou um tesouro particular num edifício de Salvador.
É claro que contribuíram para essa decepção tanto os corruptos quanto os corruptores. O Brasil sofre as consequências. Nâo se pode esquecer o maremoto de corrupção impulsionado conjuntamente por políticos, administradores públicos e empresários. Na maratona da corrupção, uma escala foi reservada para as transferências financeiras através de bancos internacionais.
Não se pode, como alguns acreditam, culpar pela situação de apatia a goleada que sofremos em 2014 contra a Alemanha, maior vergonha esportiva brasileira de todos os tempos. Foi um desastre muito maior que a derrota para o Uruguai em 50. Não se pode culpar, porque não podemos também esquecer que em 2002, com 2 gols de Ronaldo Fenômeno, derrotamos a mesma Alemanha na final da Copa no Japão.
Não adianta procurar motivos para a falta de entusiasmo. O problema não é da seleção nem do futebol. Ao longo dos últimos 2 anos, quando o treinador Tite assumiu, em 9 partidas não perdemos uma só. Há poucos dias derrotamos a Áustria em Viena.
As razões do desânimo estão na política, no Palácio do Planalto, na administração pública de modo geral. Está faltando vibração ao nosso país, os governos dos últimos 15 anos não conseguiram injetar dinamismo à sociedade como um todo. Além da corrupção, o desemprego, o congelamento de salários, os reajustes de vencimentos perdendo disparado na corrida contra a inflação. Acrescente-se a todo esse quadro a insegurança pública que ameaça a todos por igual.
Acredito, entretanto, que a partir de domingo, quando enfrentaremos a Suíça, a magia do futebol faça o povo reencontrar-se consigo mesmo e com o país em busca de uma vitória que possa nos proporcionar a Taça de hexacampeão.
Amém.
extraídadetribunadainternet
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