por Onyx Lorenzoni Folha de São Paulo
O projeto conhecido como dez medidas contra a corrupção chegou ao
Congresso brasileiro no final de março, com o respaldo de mais de 2
milhões de assinaturas.
Preconiza a construção de um novo modelo, no qual a lei seja o limite para todos.
Foram meses de trabalho até agora na Câmara. Ouvimos mais de cem
especialistas em todas as áreas do mundo jurídico. Recebemos autoridades
espanholas e do Reino Unido. Todos, do seu modo e com sua visão,
colaborando para que o controle, a transparência e o combate à
impunidade no novo Brasil sejam eficientes e eficazes.
Segundo recente publicação, somos, vergonhosamente, o quarto país mais
corrupto do mundo. A Transparência Internacional nos coloca no desonroso
76º lugar de sua lista.
Ao longo dos debates sobre o pacote de dez medida na Câmara, do qual sou
relator, muitos disseram que não precisávamos de novas leis, novas
penas, pois elas já existiriam em número suficiente.
Davam como exemplo a Lava Jato, mas a operação é um ponto fora da curva,
uma rara conjunção de talento e preparo do juiz Sérgio Moro e da jovem
equipe de procuradores de Curitiba, similar à operação Mãos Limpas na
Itália.
Foi ela que inspirou o Ministério Público a provocar positivamente o
Congresso Nacional com as dez medidas, para que o caminho do Brasil seja
diferente do italiano. Lá, após a Mãos Limpas, o Parlamento afrouxou a
legislação anticorrupção. Não é esse o caminho que queremos.
A leitura do relatório, na última semana, deu início à última etapa na comissão especial que analisa as dez medidas.
Nos últimos dias, dois outros projetos de lei, estes sim abusivos e na
contramão do que a sociedade deseja, causaram muita confusão entre as
pessoas. Nenhum dos dois tem relação com as dez medidas.
O desastrado PL 3.636/15 prevê que acordos de leniência deixem a Justiça
de fora, o que atrapalharia as investigações. Nosso relatório, ao
contrário, prevê que esses acordos só devem ser feitos com participação
do Ministério Público e obrigatória homologação da Justiça.
Outro projeto que causa confusão é o que trata de abuso de autoridade, o
PL 280/16, promovido pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB).
Não reproduzimos nenhuma vírgula desse desvirtuado projeto, mas mesmo
assim entramos em consenso para retirar do relatório a medida que prevê
crimes de responsabilidade para magistrados e membros do Ministério
Público.
O que não pôde ser acatado na íntegra, incluindo a questão do habeas
corpus e das provas ilícitas, será debatido em outras comissões.
Nosso relatório traz todos os conceitos das dez medidas e avanços que
deram certo em países que são exemplo no combate à corrupção.
Correções ainda poderão ser feitas. Como disse Sergio Moro na comissão,
ninguém é dono da verdade. O certo é que nada do que propusemos
atrapalhará o trabalho da Justiça ou as investigações da Operação Lava
Jato.
Nada fere a autonomia da Polícia Federal, retira direitos individuais ou
produz qualquer facilidade para quem praticou algum delito.
Após aprovação do pacote das dez medidas, o Brasil será outro no combate
à corrupção. Trabalho com a esperança de ver nosso país tomar a frente e
ser um farol para a América Latina, continente tão devastado por essa
prática nociva.
Eu também assinei as dez medidas. Queremos um país em que a lei seja o limite para qualquer cidadão.
*ONYX LORENZONI * é deputado federal (DEM-RS) e relator na Câmara do
pacote de medidas contra a corrupção apresentado pelo Ministério Público
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