Jornalista Andrade Junior

sábado, 19 de novembro de 2016

"O furúnculo explodiu"

 Ruy Castro: O Globo

 O Brasil parece em guerra contra o Brasil. Segundo estatísticas relativas a 2015, a cada nove minutos alguém no país foi vítima de algum tipo de assassinato — homicídio doloso, lesão corporal seguida de morte, assalto com morte ou morte decorrente de ação policial. Significa que, em um ano, 58.492 pessoas sofreram morte violenta. 
Em termos de violência contra a mulher, os números são ainda mais espantosos: houve 45.460 estupros, ou 125 por dia — apenas entre as ocorrências registradas. E sabe-se lá quantas agressões a homossexuais, negros, índios, mendigos e animais.
Essa brutalidade tem seu equivalente na área institucional. Políticos insultam juízes. Senadores chamam-se uns aos outros de canalhas e engolem o insulto. E a desmoralização do setor público, flagrante há anos, rebaixou a atuação política à pancadaria — a ordem é, primeiro, ocupar, agredir e depredar; depois, alegar que o poder não aceita discutir. Mas como discutir entre palavras de ordem, socos e pontapés? 
Ninguém mais pode se fazer somente de vítima — os bandos que incendeiam pneus, infernizam as cidades, invadem as câmaras e as assembleias e destroem patrimônio público e privado cobrem agora todo o espectro político.
Repórteres são ofendidos e atacados em manifestações, ao vivo, por ativistas de rosto coberto. A tragédia de Santiago Andrade, cinegrafista da TV Bandeirantes, morto pelas costas por um rojão lançado por dois black blocs, ameaça se repetir.
Em Goiânia (GO), um pai matou a tiros o filho de 20 anos, por não aceitar suas posições políticas, e se matou em seguida. Não foi um rompante, mas o clímax de um processo que devia ser uma fonte diária, de parte a parte, de suplício familiar. Quantas outras famílias não estarão vivendo esse suplício?

O furúnculo nacional finalmente explodiu.















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