Ruy Castro: O Globo
O Brasil parece em guerra contra o Brasil. Segundo estatísticas
relativas a 2015, a cada nove minutos alguém no país foi vítima de algum
tipo de assassinato — homicídio doloso, lesão corporal seguida de
morte, assalto com morte ou morte decorrente de ação policial. Significa
que, em um ano, 58.492 pessoas sofreram morte violenta.
Em termos de violência contra a mulher, os números são ainda mais
espantosos: houve 45.460 estupros, ou 125 por dia — apenas entre as
ocorrências registradas. E sabe-se lá quantas agressões a homossexuais,
negros, índios, mendigos e animais.
Essa brutalidade tem seu equivalente na área institucional. Políticos
insultam juízes. Senadores chamam-se uns aos outros de canalhas e
engolem o insulto. E a desmoralização do setor público, flagrante há
anos, rebaixou a atuação política à pancadaria — a ordem é, primeiro,
ocupar, agredir e depredar; depois, alegar que o poder não aceita
discutir. Mas como discutir entre palavras de ordem, socos e pontapés?
Ninguém mais pode se fazer somente de vítima — os bandos que incendeiam
pneus, infernizam as cidades, invadem as câmaras e as assembleias e
destroem patrimônio público e privado cobrem agora todo o espectro
político.
Repórteres são ofendidos e atacados em manifestações, ao vivo, por ativistas de rosto coberto. A tragédia de Santiago Andrade, cinegrafista da TV Bandeirantes, morto pelas costas por um rojão lançado por dois black blocs, ameaça se repetir.
Em Goiânia (GO), um pai matou a tiros o
filho de 20 anos, por não aceitar suas posições políticas, e se matou
em seguida. Não foi um rompante, mas o clímax de um processo que devia
ser uma fonte diária, de parte a parte, de suplício familiar. Quantas
outras famílias não estarão vivendo esse suplício?
O furúnculo nacional finalmente explodiu.
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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