por Marcia Dessen Folha de São Paulo
Tiago acabou de entrar na universidade e recebeu um presente inesperado
do banco, logo depois de abrir uma conta-corrente: um cartão de crédito
com limite de R$ 4.000! Aos 18 anos, sem emprego fixo e sem nenhuma
fonte de renda, achou o máximo!
O cartão de crédito caiu como uma luva! Ele estava mesmo precisando de
dinheiro para dar uma melhorada no visual, um celular novo, comprar
livros acadêmicos, acompanhar os amigos nos bares mais frequentados.
Sem nenhuma experiência ou orientação, Tiago não sabe que se trata de um
presente de grego, que, em vez de um benefício, trará malefício e
grandes problemas financeiros se for usado de forma equivocada.
Tiago fez a primeira compra, um smartphone é claro, no valor de R$ 800, e
pagou com o cartão de crédito. O que ele não sabe é que acabou de
contrair uma dívida, sem juros, até a data do vencimento da fatura. Após
essa data, sobre o valor que não foi pago (saldo devedor), pagará juros
de 15% ao mês, parecido com os juros cobrados por agiotas em operações
de crédito muito arriscadas. Isso mesmo, pagará em um único mês mais do
que o mercado paga em aplicações financeiras de um ano inteiro!
Com que dinheiro ele vai pagar a fatura? Não faz ideia... Quem sabe até
lá ele ganha na loteria ou arranja um emprego, ou melhor ainda, o banco
diz que era mesmo um presente e que não precisa pagar nada. A informação
está lá, na fatura do cartão, mas ele não leu, e, se leu, não tem noção
do que significa. Então vou explicar, em alto e bom som!
Cartão de crédito não é dinheiro! Na verdade, é dinheiro, só que dos
outros, e não seu! Se você usar esse generoso presente que não pediu e o
surpreendeu quando ganhou, vai entrar em um rolo compressor do qual
será muito difícil se desvencilhar.
A dívida de Tiago, que parece inocente, afinal é apenas uma pequena
parte do limite que alguém teve a coragem e a ousadia de oferecer, vai
crescer muito rápido até se transformar em um valor impagável.
Se Tiago não comprar mais nada, o valor da segunda fatura será de R$
920. A terceira fatura, R$ 1.058; a quarta R$ 1.216. No próximo
aniversário, quando completar 19 anos, Tiago terá uma dívida de R$
4.280. E pensar que tudo começou com uma compra de R$ 800. Um ano depois
ele deve mais de cinco vezes o valor financiado!
Se a empolgação fosse maior e Tiago tivesse usado todo o limite de R$
4.000, um ano depois, teria uma dívida de R$ 21.400!! Impensável para um
jovem, ainda estudante, em busca do primeiro emprego, que se deixou
levar pela sensação de poder comprar o que bem entendesse.
Parece piada de mau gosto, mas não é. O problema é muito mais sério do
que, a princípio, as pessoas imaginam. Muita gente, jovem e adulta, está
em situação semelhante à de Tiago.
Silvia, 40 anos, ganha R$ 4.000 e deve R$ 100 mil, dívida contraída para
pagar compromissos assumidos com o cartão de crédito. Se a dívida fosse
congelada hoje, todo o salário dela dos próximos dois anos seria
destinado para pagar essa dívida. Como isso não vai acontecer, a dívida
vai continuar crescendo em ritmo acelerado, e Silvia tem um problemão
para resolver.
Não caia nessa armadilha. Compre somente o que cabe no seu bolso. Use o
velho e bom método de pagar tudo em dinheiro. Mude seus hábitos de
consumo. Pense, planeje antes de gastar. Esqueça o limite que te deram e
estabeleça o seu limite para gastar. Faça escolhas, priorize, compre só
o necessário, o que realmente tem importância. Se endividado, peça
ajuda a parentes e amigos. Não me refiro a pedir dinheiro emprestado,
mas ajuda para encontrar o caminho certo e mudar o final dessa história.
Mantenha esse cavalo de troia bem longe de você!
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