por Aécio Neves Folha de São Paulo
A sociedade brasileira precisa estar atenta a uma iniciativa de grande
valor que está em discussão no Congresso: o Projeto de Lei 555, que
trata da Lei de Responsabilidade das Estatais e está na ordem do dia
para ser votado no Senado Federal.
Quem acompanha os escândalos financeiros envolvendo nossas estatais
perceberá que a proposta pode significar o começo de uma revolução
silenciosa e transformadora nas relações entre elas e seu controlador –o
governo.
A questão central é que a atual Lei das Sociedades Anônimas estabelece
que o controlador –o governo, portanto– "poderá orientar as atividades
da companhia de modo a atender ao interesse público que justificou a sua
criação", o que tem garantido salvo-conduto para a realização de
verdadeiras atrocidades gerenciais, como as observadas nos últimos anos
na Petrobras, Eletrobras e Correios, entre outras.
Como o legislador nunca se preocupou em decidir o que vem a ser
"interesse público", tudo ou quase tudo é permitido. O que se propõe
agora é definir o que pode ser considerado como interesse público, e a
forma com que a manifestação do mesmo se dá –através de explicitação de
contrato entre o controlador e a empresa.
O contrato deverá determinar a remuneração da empresa pela execução do
projeto de interesse público, além de obrigar o pagamento dos serviços
pelo controlador, com a necessária previsão orçamentária.
A prestação de contas inclui não somente o monitoramento periódico da
execução financeira, mas a verificação se o projeto atendeu ao interesse
público que justificou sua existência. Há ainda um substancial
aperfeiçoamento dos instrumentos de prestação de contas, com reforços do
papel do conselho fiscal e da criação de comitê de auditoria, vinculado
ao conselho de administração.
Mas quem aprovará esse contrato que dirá o que é e o que não é interesse público?
O conselho de administração da estatal. E é neste ponto que o projeto de
lei contém outro marco importante. Pelo menos 20% da composição dos
conselhos –quase sempre capturados por interesses políticos e ocupados
por ministros e apadrinhados– passarão a contar com conselheiros
independentes, profissionais com pelo menos 10 anos de experiência e sem
vínculos com partidos, sindicatos ou com o controlador.
Processos galvanizadores que resultam em transformações da sociedade,
com efeitos de longo prazo, muitas vezes precisam de uma conjuntura
crítica, como a atual, para se tornarem realidade.
O Brasil cansou de decisões paliativas que, na maioria das vezes, apenas
adiam a solução do problema. Neste caso da governança das estatais,
temos uma oportunidade real de fazer uma revolução em favor da
transparência e da eficiência.
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